domingo, outubro 31, 2010

Papel

Qual o papel que nos cabe no meio de tudo isto?
Papel de nos mantermos informados? Da informação?
Da desinformação dela?

Da desordem? Do discurso dela, do aproveitamento?

Das cartas que já ninguém escreve?
Informações preciosas que nos ficaram "no papel"!

Papel dos anúncios, da publicidade enganosa e entediada?

Papel da poesia que é livre e que se encontra, de surpresa ... a message in a bottle?

Papel que temos gravado, do passado que nos retorna em tempos de mudança?
Em que é preciso agir.


Escolhida que foi a imagem-palavra semanal do PPP.
Da música, desabrochando e correndo, solta no ar.

sexta-feira, outubro 29, 2010

A coragem





da cor sobre os cinzentos

"Não há machado que corte
a raiz ao pensamento"

Irrompe

...apesar de nos servirem ideias calcinadas por anos, décadas de inconveniências.

A terra
há-de regenerar-se.
Teimosamente.

sexta-feira, outubro 22, 2010

O Interior I



No afastamento para dentro do país
atenta-se no primitivo som, o mesmo, o do abandono.



No interior, a muitos quilómetros de um hospital próximo, a democracia partiu os pés e não é tratada: está manca e faltosa das suas gentes mais simples e genuínas.


Casos bicudos e baralhados


Os papões
e os leões das louças





Tanta economia de papel, tanta economia em catadupa!
Pergunto-me onde anda a democracia, pasmada nas rotundas de repuxo
nos multi-usos de bilhar.
Longe da escola básica, das necessidades primeiras, esquecida dos bens da terra, a democracia não sabe o a, e, i, o, u:
para,
pelas
e com
as pessoas.

quarta-feira, outubro 20, 2010

O Interior












Metemos na estrada velha para lá da Barragem onde o rio se estreita, o Vale e outros horizontes para mais longe da aldeia. Encontramos a Senhora Bárbara, a pastar as suas 3 cabras e um cabrito:

uma cabra chama-se “Caldeirinha” e “dá um litro de lête por dia”, outra é a “Branquinha”, filha da maior e mais arisca, o cabrito “é para comêre”. O homem trabalha “a juntar perdizes para os patrões” virem caçar no dia 11 de Outubro.

Não sabe ler, não sabe nada além “daquilo” ali: nasceu em 1941 “no ano do ciclónio” como lhe disse a mãe. Viviam em cabanas cobertas com palha – “uma miséria que nem sei”, diz-nos, "as solas dos "sapatos eram de pneus velhos", agora "sempre vamos tendo uma reforminha".

Lá viemos embora, cada um à sua vida: nós pela estrada, ela pelos pastos adiante, cantarolando.

sexta-feira, outubro 15, 2010

...de entrar na pressa das chegadas









Atravessar tantas, as pontes...

No lugar das águias da manhã, estremece o véu da Via Láctea à noite. No meio dum céu amplo e profundo, assim voam em círculo as lembranças dos meus amados.
Gostaria de pensar nos espíritos dos meus (e de todos) mortos, brilhando os seus olhos no tempo, vendo-nos com algum modo de amor, ou saudade, ou arrependimento, seguindo-nos nas veredas terrenas.
Mas escavacaram a Lua, sondaram Marte, espreitam os anéis de Júpiter, descobrem todos os satélites de Saturno. E também em nós, fica um buraco negro de não-saber.
Talvez para lá deste sistema, o solar, estejam os olhares que recordamos: reparo nas tantas estrelas, assim esperançada!
Pela noite alta, ficam-me os olhos em choro e pedra, manietados, o gesto preso como nas velhas estátuas.