domingo, novembro 27, 2022

Luís Vaz de Camões no PPP de Novembro

Uma proposta interessante. De quem leu por obrigação no liceu, como eu, Camões e os Lusíadas. Era uma maçada, dividir as orações e tal. Mas no cérebro também ficaram registados o esplendor e as rimas, a diversidade de pensamento. E não é que quase 500 anos passados é assim?

"Mudam-se os tempo, mudam-se as vontades

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades."

Tive algumas escolhas sem me dar a grande trabalho, apenas uma volta por fotos antigas. A partir das mudanças anunciadas por Camões, as ideias foram várias:

para Transportes...donde a novidade eléctrica de abastecimento dos novos carros!

seguindo-se Trabalho, neste caso a seguir o trabalho da pesca, no mar,
o trabalhinho  paciente das crianças para arranjar pedrinhas e metê-las numa fenda,
e a seguir, todo o trabalho de gente sem nome e de séculos nas encostas do Douro, transformando a aridez das pedras em doces recorte.Sempre me impressiona observar o trabalho de séculos, de tanta gente que construiu os socalcos, no Douro e afluentes, e plantou as suas vinhas. A terra é árdua, terra seca, de xisto, as margens abruptas, as temperaturas extremas. Um lugar em que se mistura a beleza da paisagem com a memória do sofrimento de muitos trabalhadores, tantas vezes de pé descalço. É hoje designado Património Mundial e sinto-lhe ali, plasmadas, milhares de figuras humanas


A sugestão de Passeios e sempre o meu encantamento com as paisagens a partir do olho de pássaro do avião!  Tejo e foz dele em 2008

Outros lugares... Sobre Londres, é o que é, um lugar que ficou como um ninho vazio, "como um conto de infância", sei lá, "Alice no País das Maravilhas", a parte da maravilha e tirando os sustos... As mudanças são enormes e extremas: restam-me os livros, os escritos e as fotografias. Por vezes, os filmes britânicos, a fala e os lugares, de que tanto gosto.
 


e, por último, Moda

Estas duas sugestões que encontrei como "prédios e quimono" são ambas Passeio e Moda!

Sobre Moda, o que pensei e escrevi:

Gostei sempre, desde que me lembro, de vestes largas, das asas de pano adejando, ao estilo oriental ou dos nómadas no deserto. Foi um gosto ver esta exposição no MUDE, há anos, com antigos artefactos do povo japonês rural, do séc XIX. Acho que agora a moda chama-se "boho" ou boémia e o tecido é o Boro (farrapos, tecido da vida). Do que li na ocasião, são texturas diferentes, de origem vegetal e de plantas autóctones como o cânhamo, linho, amoreira e urtiga. Cerzidos os diferentes bocados num ponto que é característico, são depois tingidos em indigo, côr entre o violeta e o azul, que também provém de uma planta. O efeito é muito bonito. Para mim, penso que a necessidade também nos encaminha para as tão propagadas hoje: Sustentabilidade e Ecologia!



segunda-feira, novembro 14, 2022

O Poeta e o lugar do Poema

Em outro lugar, recordei a visita à pequena aldeia onde viveu o Poeta "menino" Eugénio de Andrade. Aqui inscrevo mais um dos poemas dele, de tantos-tantos que são como cantatas do pensamento. A fragilidade melodiosa. Bach.

As Palavras 

São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

Um incêndio. 

Outras, 

Orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?

- Do livro Antologia Breve, de Eugénio de Andrade, Moraes Editores, Lisboa/1980


 Na sua terra, Póvoa da Atalaia




Na sua morada na Foz, as suas palmeiras, o mar que os via


 A sua Fundação foi extinta por um presidente da câmara do Porto, de má memória, em 2011. Li que há um acordo recente para a (re)activar. Esta cidade dos "Travels", não mereceu o espólio maravilhoso que este homem nos deixou, aos sentimentos, ao país, à língua. Contemporâneo e amigo de tantos literatos e artistas - no que ele dizia "essa debilidade do coração que é a amizade" - a sua maneira de ser, a sua forma de estar, foram incómodas para quem não vê mais que "o argueiro no olho do vizinho". Um imenso coração discreto.


Pensei nele, ao pensar nas palavras.