sábado, novembro 16, 2024

Jardins de longe

Há dias em que me apetece (muito) voar. Como antes. Apetece-me a côr, os espaços de andar, onde acho mesmo poder espairecer.

Muitas vezes é "o coiso" que me lembra lugares, com imagens avulso das coisas de que gosto: foi este o caso.


 
 



 



Aquele hábito muito british de colocarem bancos de madeira, convite à pausa contemplativa, por todos os lados...Que me repito, sei: tenho muitas vezes sentimentos idênticos, de memórias fugidias. Passear pelos Kew Gardens numa viagem magnífica, há 9 anos, já me parecem dezenas deles. Anos.

E se pudesse mudar apenas uma única coisa na minha vida...

 


sexta-feira, novembro 15, 2024

O PPP de Novembro II

"Privação" foi a palavra que escolhi para a 2ª semana do mês, com a seguinte elucubração a propósito:

Foto retirada de um livro sobre a II Guerra Mundial e as privações sofridas, neste caso, em Inglaterra. Sobre "guerras" muito haveria que dizer e documentar: escolhi esta sugestão, menos agressiva aos olhos e sentimentos. O livro chama-se "We Will Eat Again" e, além das figuras da época, tem receitas básicas de sobrevivência, com o pouco que as pessoas conseguiam, em tempo de severo racionamento.



Quando penso que houve milhões de vidas destroçadas pela II Guerra Mundial, somando-lhes as da I Guerra e fugindo-me o pensamento para os anos a seguir, só sinto uma mágoa imensa pela humanidade que nada aprende. 

As escolas.. soube vagamente o que disseram os slogans dos "guerreiros do apocalipse" actual, numa das manifestações extremistas há dias: ...em... não há escolas porque já não há crianças. 

Este pensamento de extermínio é posto em prática e até o vemos na televisão: mais de 17 mil crianças foram mortas na faixa de Gaza desde há um ano, milhares de outras ficaram feridas ou orfãos. 

Foi por isso que escolhi este livro, porque fala de esperança, das formas dela. Não consigo, neste momento, pensar nos usurpadores ou usurpados. Penso que a forma diabólica de tentar acabar com uma raça é claramente vista nesta limpeza étnica que nos confrange; contra a qual os diversos organismos de protecção e ajuda, nomeadamente os países envolvidos, as delegações das Nações Unidas, a Cruz Vermelha, os Médicos sem Fronteiras e tantas outras, não conseguem actuar nem fazer-se ouvir.

(eu sigo as notícias, leio ou ouço, mas não as vejo)

  

terça-feira, novembro 12, 2024

O PPP de Novembro

Abri o dicionário à sorte para recomeçar o nosso PPP e retomar este meu lugar-azul. Sobre a palavra "Solidão". Auto-infligida, imposta ou surgida nos acasos da vida. Solidão cheia de ausências que vamos notando. Solidão que se sente no meio de muita gente, muitas ruas (agora) desconhecidas. 

Alguém que passa no jardim, solidão bonita nos tons efémeros, como uma das amigas comentou:

Na companhia de mim mesma, dentro do lugar que será o cérebro e o coração, o espírito ou o pensamento, este novelo de sentimentos que nunca se sabe de onde provêm. Silêncio solitário sentido nos montes lá do sul, nas aves 


A solidão das palavras e dos sons que amei.

Penso que há solidões boas, penso que há solidões más. Sinto que esta não é boa. 

Fiz um recorte e ficaram apenas os contornos dele, desapareceu a figura conhecida.



 

sexta-feira, setembro 27, 2024

Maggie Smith

Soube que morreu hoje a grandiosa actriz Dame Maggie Smith, com 89 anos. Começou o seu trabalho no teatro em 1952. Pessoas que admiramos e não conhecemos, a não ser pelas suas projeções no mundo da arte, teatro, televisão, cinema. Acompanharam, com a sua forma de estar e actuar, grande parte das nossas vidas.

Há um mês desapareceu-me a segunda das três graças, as que fomos nos anos 60/70, e depois ainda juntas, de pensamentos ou encontros, nas décadas decorridas. É como se o conhecimento delas persista, nas lembranças, nos gostos, nas vozes e nos sonhos. 

Morre-se muito. Inapelável, a não ser nas memórias recorrentes. Neste caso - e faço esta junção de ideias porque nós vivemos em Londres - a Grande Senhora que tanto admiro trouxe-me as imagens desses tempos. Homenagem. Lugares. Onde lembro as minhas duas amigas que não verei mais. 1971/1973.

Rio Tamisa, Marble Arch, St. James Park e Cranley Gardens.




Tínhamos todas vinte e tal anos.



O que são agora, paradas nos anos, as duas que me faltam? 

 


sábado, setembro 14, 2024

Passos de Setembro

 Para sentir que saí, com sol, para ver árvores.


Com tantas memórias e tantas saudades (controversas),

...para não deixar vazio este meu primeiro lugar.



sexta-feira, agosto 02, 2024

A Palavra

Resposta de José Saramago a uma entrevista que lhe fizeram em Junho de 1985:

"A mais extraordinária das criações do homem é a palavra. A tal ponto que, criatura do homem, é, por sua vez, criadora da humanidade. Não me atrevo a jurar que a palavra tenha existência autónoma, mas observando-a como um ser com vida própria, que se move, e que produz. Produz, o quê? Precisamente, tudo. "

Este texto foi retirado de uma citação da Fundação. Atrevo-me a repeti-lo pela concordância que senti com o que (me) traduz; com a distância do tempo (1985, já lá vão quase 40 anos!) sinto-me sempre fascinada com "a palavra", embora tivesse encontrado muitas outras coisas extraordinárias, na vida e nos sentimentos, nas pessoas. De sinal positivo e de sinal negativo. Aqui há tempos escrevi num papelito umas palavras que me vieram à cabeça e que me apetece transcrever. Elas representam momentos que tive, ou senti, e cujo significado e referências, são bem claros para mim. Quando as olho têm figura de sentimentos; ou de gente.

- ingénua (foi o primeiro atributo que me deram aos 15??? anos)

- desadequada

- harmonia/reciprocidade/acordo/simpatia

- sintonia

- inércia/fraqueza/marasmo/apatia/rotina 

- presciência

- vida flauteada

- nababo

- trampolineiro

- entre a perfídia e a ingenuidade

- indulgente

- empedernido

- paulatinamente

- consideração

- petulante

Que não me falte a fotografia das letras à sorte, as que formam palavras.





As imensas formas das flores de pensar nelas, nas palavras. A escrita da Terra.


segunda-feira, julho 22, 2024

O PPP de Julho falava em notas e não só

Encontraria notas, instrumentos musicais, discos que adoro sempre, para este "concurso" de Verão. Contudo os meus dedos não me obedecem, sei lá que nervos lhes deu! Pelo que apenas passei brevemente pelas fotografias e "casei-as" com as ideias e as palavras

Dia 4 – Dó

Ou comiseração, compaixão, pena, diz o Dicionário. Para esta fotografia de gente em abrigos de cartão debaixo de uma ponte, eu sinto e acrescento a minha revolta pelas sociedades que permitem, e fecham os olhos, a estas misérias. A ponte, debaixo dela, é a Pont Grenelle, em Paris.


 Dia 11 –   


Não sei mesmo se este barco entrará no porto respectivo à proa ou à , com semelhante tempestade no mar!

Um acaso a olhar o mar do Porto, fora da barra de Leixões.

Dia 18 – Sol 


Podia ser música, o lá, mas o que pensei foi no Oriente, no lado do mundo onde nasce o Sol. Na passagem por uma montra onde se anunciava uma exposição de fotografias antigas, de viagens às remotas paragens que tanto me atraem.

Dia 25 – Lá 

Impossível enganar o sentido deste gesto: acima de nós, nas alturas. 

Os colossais restos da escultura de Constantino que tive o gosto de ver no Museu Capitolino, Roma.

Como sempre, escolho lotes de ideias/fotos para as propostas semanais. Neste rol aqui vão mais, as notas de música. A música das crianças, imprescindível, embaladas na barriga das mães e mesmo sem ainda saberem falar

 

O que certas imagens me provocam. Esta é uma sequência numa rua chic, o horrível, o choque da miséria, da abastança, da indiferença
 



Fecham-se os olhos desgostosos em pedra

Dos Árabes, a perfeição das portas que nos levam ao sol

Para onde vão e porquê? me saltam as ideias.

 

segunda-feira, julho 01, 2024

O PPP de Junho trazia "santos"

A proposta para este mês que se diz "de santos populares", não me entusiasmou por aí além. Todas essas tradições ou se vão perdendo ou, pior, adulterando. Respeito quem o sente, quem se devota com esperança num ente idealizado, ou num espírito, a que se recorre em aflição ou em festa. A parte mercantil deixa-me amarga e a pensar que a estupidez e o dinheiro invadem tudo.

Geralmente nas minhas saídas, e quando passo por elas, visito igrejas ou mosteiros; e se antigas ou modestas, não resisto. São lugares gratuitos e de paz, onde nos podemos sentar a pensar no silêncio, observar a beleza, a devoção ou a modernidade. Muitas vezes me espanto com a crueza das imagens e fico a pensar nesta religião que nos "castiga" sempre, com pecados e tragédias.

S. José foi escolhido em férias, na Casa Museu José Régio, foto geral, e em particular "a sagrada família" que a amiga M. fez sobressair


O Santo António, se de Lisboa se de Pádua, cada um com a sua crença. Santo casamenteiro e festivaleiro, foi assim escolhido, entre o Menino Jesus e as suas gracinhas

Para o S. João: o antigo santo nortenho, santo de alho pôrro, molhos de cidreira, manjerico e outras ervas. Transformado em barulhentas marteladas, balões e fogo de artifício. Escolhida uma foto tirada das Fontainhas, donde se vê a ponte D. Luís e a Serra do Pilar (Foto de MP)

Contudo não ficaria completo o S. João sem uma cascata! Desde muito pequena que engraçava com as figurinhas que se punham nos montes a fingir, e que eram feitas pelos bairros e ruas dos mais pobres, pedindo "um tostãozinho" para o santo. Encontrei-a depois deste desafio, num passeio ao Parque Biológico de Gaia, onde não ia há umas dezenas de anos. Revivi a infância.

 

Sobre S. Pedro e S. Paulo, escolhi o último. S. Pedro sempre me pareceu muito mandão, de chaves e privilégios, além do Novo Testamento o apresentar como um tanto cobarde ao negar três vezes que conhecia Cristo. Isto na minha particular perspectiva que não gosto de traições de nenhuma ordem, muito menos em amizades e para salvar a pele...

Tinha visto que, como pregador, este santo especificamente, calcorreou uma grande parte do mundo antigo na bacia do Mediterrâneo. Ora! nem de propósito. Andava algures, e tão longe das minhas escolhas caseiras, quando me aparece um livro que, às tantas, muito gostaria de comprar. Isto de viagens é sempre uma tentação a que nem os santos resistem.

Além de que as ruínas romanas que mostra a capa do livro me recordaram umas outras, encantadoras, junto ao mar. O pensamento é uma ave sem pouso, ou destino, certo!