quereria assim o meu ano seguinte
uma mó que deixasse de moer
encostada a uma parede branca
com sol.
E vestígios de sal.
varrer cinzas
varrer sortes
sexta-feira, dezembro 31, 2010
Um ano a mais
Um ano a menos
Na velocidade dos dias concêntricos vai-se o tempo
Ficam cadeiras vazias e a elegância postiça não é mais que
plástico de montra
...uma folha apanhada a esmo
no espírito amarrotado.
Sirvam pelo menos como húmus da terra
ao aprender, ao apreender
os desastres passados.
terça-feira, dezembro 28, 2010
Todos os dezembros nos retorna o verde-esperança
Igrejas em Kiev, Ucrânia (fotos de Lígia E., Polónia)
Igreja em Skansen - Suécia (foto de Lígia E., Polónia)
Como educados todos fomos
no temor dos deuses, todos os santos e parentelas,
dos pecados e das boas acções,
seria previsível que na Terra, pelo menos a dos "crentes", houvesse a crença de um mundo melhor,
esforços para uma humanidade mais justa,
a procura duma forma de viver mais harmoniosa.
Ou, o que serve para quem acredita no divino tanto como para quem acredita no humano:
não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti
Já hoje dizia no improviso de falar a uma amiga:
"só espero que o ano a seguir seja mais,
sei lá,
pacato e concreto"
...pouca coisa... mais PAZ que matéria.
quinta-feira, dezembro 16, 2010
Do arco do tempo a que se segue um outro ano
Fora ou dentro do castelo estarão as sombras
com o olhar ponto-de-fuga mais longe.Alguma figura de renda antiga esvoaça na madeira decadente.
Quem a sonhou, quem a abandonou?Reflexo ou realidade, as aves e as árvores - mesmo as amputadas - fazem o seu caminho, na liberdade das suas asas e folhas como elas.
Aos meus amigos, os conhecidos, os nem tanto ambos,
e mesmo aos que passam calados e assim despercebidos,
que a época lhes seja Feliz e continuada
com as esperanças as coragens e os afectos
precisaremos de dobrar os dias com o dobro das forças.
terça-feira, dezembro 07, 2010
Palavras de terceiros
Bagatelas.
São... "coisas que se dizem"! As conversas são um jogo de funda e pedra atirada: David-Golias e os pequenos ajudantes.
Nestes momentos, o que me apetece é colocar malaguetas contra
- a in verdade
- o mau gosto
- a má criação
- os olhos enviesados
- as palavras grosseiras
E sentar-me, sem desejar, estátua calada, na nudez das paredes.
sexta-feira, dezembro 03, 2010
"José e Pilar" documentário de Miguel Gonçalves Mendes
Começou por se questionar escrevendo. Em algum canto modesto como este.
Recomeçou a vida, par a par com outra árvore. E duas árvores sempre se dão mais força.
(a palavra escrita na estátua é HONESTIDADE.
Poderia ser "Coerência", "Rectidão", "Integridade"... poderia ser uma palavra qualquer que resumisse um Homem Novo).Seguiu construindo pedra a pedra, como os seus livros, a sua Montanha Mágica. Uma fragilidade aparente, as pedras dum vulcão de ideias.
Um melhor futuro para a Humanidade.Irradiante como era o sol da sua Palavra.
***
E tirei-me das minhas tamanquinhas, a muito custo ...
depois de ter feito umas tantas perguntas e posto questões. Lá teve de ser: uma ida a um CC impessoal e igual a todos, uma coisa em recantos de secretismo, anúncios da moda global, no fundo de corredores e escadas enrolantes, cheiro de pipocas e cartazes de fancaria. Na penumbra, meia dúzia de pessoas, uma chorava.
Gostaria de ter visto este documentário entre amigos, muitos.
Saber assim, desacompanhada de calor humano, do dia a dia de um homem comum, tão nosso, fez-me ficar no silêncio, perto da emoção abafada.
(homem de quem as notícias foram/são poucas, neste país de gente miúda, documentário feito por um jovem teimoso, acompanhamento duma mulher persistente e lutadora)
Um documento indispensável e comovente. Não fiquei a saber mais sobre Saramago e Pilar: fiquei a conhecer a sua família alargada, a sua casa, os seus livros, a luz da janela, a sua humildade, a sua discreta alegria, as ondas de calor humano que o envolveram.
Duma imensa grandeza.