quarta-feira, agosto 30, 2023

Fotografia 2

As saudades que eu sinto de lugares. O quadrado do computador (a)onde as relembro: as fotografias.

Penso ser um cedro, o primeiro ao cimo da colina de Greenwich.

 



Às outras árvores, as fotos foram tiradas pela sua velhice e formas. Não vi o meridiano que nos diz se somos do oeste ou de outra banda. Não vi os palácios e museus. Vi o parque passeando, senti o fluido dos veios antigos da terra e a limpidez do céu.


 

Ao fundo, as estranhíssimas formas de Londres modernizada. A pega olhando uns e outros.

Eu pensando.

Yours sincerely, Yours faithfully. 

Yours truly. Afecto.



quinta-feira, agosto 24, 2023

Fotografia

Há dias li que foi o Dia Mundial da Fotografia, precisamente em 19.8, sábado passado.

Hoje sabemos tudo pela net, o como e o porquê, datas e nomes, origens. Está lá tudo explicado.

Não sou muito "dias de" mas a fotografia é um dos vícios, atitude, tendência, um gosto muito exacerbado em mim. Desde nova. E quanto mais envelheço mais me apoio nesses esteios da memória, como se andasse a atravessar rios e rios dos tempos pelas pedras das imagens. Esta não é das melhores, nem a procurei, apareceu-me e "fala":

Barragem da Malhada de Peres, na Mata da Conceição, norte de Tavira. Nessas deambulações a pé pelas serras do barrocal, foi tirada em Outubro de 2014. Tinha água e paz, uma certa solenidade no silêncio. Calculo que com estas temperaturas elevadas esteja com pouquíssima água. 

A mata foi devastada em Agosto de 2021 e, quando lá se passou depois, o que se viu foi uma enorme desolação, sentiu-se quase um desespero da terra calcinada e das árvores supliciadas.



 

Na contrapartida: há dois anos atrás, erguia-se um espanto meu, já, e na ainda pequena orla verde junto ao mar, outro aldeamento de grande luxo. Este ano quase pronto e, segundo o que li-lá (apetece-me a ironia...) parcialmente vendido e por milhões. Será a lei da oferta e da procura em gravitação livre.

Não sei se há um dia da "Palavra": estou a dar a volta a papéis, a rasgar algumas das décadas deles. Muitas vezes relendo, não pareço eu. Tenho de o fazer devagar, por lotes e temas, porque me dói, como se (me)arrancasse pedaços de vida. O tanto que pensei, o tanto que escrevi, os "Uns e os Outros". Este papel amarelado é de um bloco de notas, é de juventude, tem a data de 27/11/68. Seriam restos de blocos dos meus belos primeiros empregos, de viagens e imaginações, futuros e aventuras:

"Tenho uma varanda e o mar inesperadamente ao longe. No coração da cidade, eu vejo a alma do mar, amarguradamente névoa - às vezes ondas adivinho, rastos de espuma sem rasto dos meus pés... que um dia correram o mar, o mar? O mesmo mar que eu vejo da minha varanda, no coração da cidade? O mar ficou uma pessoa. Eu brinquei com ele e a água conheceu-me até onde jamais alguém me conheceu. Eu era morena e fazia tranças de algas castanhas. E sabia pedras cor de sangue e cor de ossos. Mas o mar ficou uma pessoa este Outono. Aço imutável. Ouro imutável de poentes esverdinhados."

Era na rua que parecia o paraíso, incipientes, a varanda e a visão. 

Donde a fala e o pensar se (me)perdem. Na Palavra.