Em 1969 foi o primeiro ano em que "se pôde" votar em eleições legislativas, na chamada abertura da "primavera marcelista", a tal que prometia renovação na continuidade. Com todas as contingências do regime fascista e repressivo, votaram 1.124.195 pessoas... uma aventura arrojada para quem conseguiu votar pela primeira vez! CDE, um grupo alargado de esquerda, a wiki contextualiza e diz: socialismo, comunismo, marxismo, anti-ditadura, anti-colonialismo. A campanha fez-se, de corridas e medos. E o regime ficou com "o historial de todos os do contra".
A União Nacional obteve 88% dos votos!!! A fraude era evidente. Não sei em quem votaram as mães dos soldados deslocados na guerra colonial.
Interessa-me pensar que desde aí sempre votamos. A origem do 25 de Abril assim nasceu, 5 anos anos antes de chegar o dia das surpresas... Olhando para trás, há coisas que me parecem hoje ainda uma continuidade. Caras do reviralho que se acomodaram em outras andanças. Os mesmos estribilhos desagregadores do que é essencial.
Muita gente no voto antecipado, muitos velhos e muitos jovens. Não sou paga para pensar mas era fácil prever que, um único sítio para votar numa cidade, iria provocar ajuntamentos que não se desejam nesta propagação insidiosa da doença do século. Depois de chegar, no espaço enorme dos pavilhões da votação, pareceu-me tudo bem organizado. Quase duas horas de espera e muitas centenas na fila, as máscaras, as tvs pressurosas a apanhar desajustamentos e protestos. Por ruas e paisagens onde nunca estive. Prédios muito feios e desertos. Escavações para mais. As gaivotas num alvoroço, pessoas nos muros a apreciar, um tempo luminoso e frio.
Apontamentos.
Ali perto, em meandros de ruas, a Lapa. Um lugar antigo de onde se via o mar. Ainda hoje o escolheria, um pequeno ninho acima da cidade.