terça-feira, março 26, 2013

Douro, para sempre tua











Porque me estão muitos no pensar,
de quem gosto, sei lá porquê, por isto ou aquilo, por identidades, por empatias,
porque me lembro de infinitudes, tanto céu ou tanta terra, tanta água ou pedra,
aceno para o Douro, num lugar onde, dizem, nasceu o meu avô materno. Pombal de Ansiães, Tua. Seguindo depois através de uma terra nossa, estreita e bela, tão perto as águas e as águias do Douro Internacional.

(sem saída de andar há mais de 2 meses)

Fotos do país de quem me divorcio litigiosa a mente, sempre e para sempre, à hora de notícias.
Para que se comovam como eu com as vinhas secas, mal despontam os olhos das folhas. Todo o trabalho de séculos: e HOJE.
As termas abandonadas, o Tua que vai inchar, o comboio velho, as linhas,
o cabaz que vinha da aldeia com cheiro de chão e ervas,
as laranjas, o folar, as alheiras do fumeiro.
E tanta gente triste por aí fora, ninguém compra, ninguém vai (eu falo com todos...), ausculto os sentimentos dos lugares e pessoas com quem me cruzo. 
País outra vez esvaziado, adiado.

Ah... mas andorinhas pelas aldeias, vieram as andorinhas! Avaliam estragos, a reconstrução começa. Os nosso vvvs de vitória sobre a obra negra que nos querem. 
E três cegonhas, e duas águias. Do voar.

domingo, março 17, 2013

Era apenas...




Guerra Junqueiro e o seu livro mais que proibido:  "A Velhice do Padre Eterno"

Este, uma preciosidade... impensável falar dele a alguém!

Novamente "A Velhice..." e o humor truculento e satírico mas tantas vezes pleno de ternura, como no "O Melro"..



Era apenas... um livro, entre uma dúzia deles que havia lá em casa. “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes, edição de 1942, com desenhos de Álvaro Cunhal. As imagens da miséria naquelas crianças que eu nem sonhava existirem.
Abria com a dedicatória “Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi êste livro”.
Eu própria era uma criança (6/7/8 anos?) e esta frase perseguiu-me e marcou-me durante muito tempo. Até a entender duma forma tão abrangente que nunca a esqueço.

Estes são os velhinhos e amarelados que agora encontrei.
Todos os livros eram preciosos: primorosamente encapados em papel costaneira para os proteger e porque "não podiam ser vistos", nem pelos piedosos, nem pela Pide nem pelos bufos dela. Um deles tem escrito à mão numa caligrafia antiga e familiar: "Se és amigo, estima o livro".
Muitos dos que li, rodavam emprestados entre os conhecimentos de meu pai.

Aquilino, Régio, Namora, Ferreira de Castro, Eça, Junqueiro, Torga, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Joracy Camargo – tantos os nomes a não esquecer!
Adquiri a maior parte deles mais tarde.
Estão na estante, relidos e falados.
Sendo fotografias entre as fotografias, de quem sou.

quinta-feira, março 14, 2013

Hoje é o primeiro dia...





("...do resto da tua vida": foi a canção que ouvi há 20 anos - não dei atenção aos sinais. Era Lisboa e um sítio sem sons.)

Às 6 da manhã a claridade esforçava-se por nascer sem sombras e assim, hoje é o primeiro dia de sol pleno deste Inverno excessivo.
Confio em que as águias voem livres lá no sítio onde moram as águias.

Cortaram-se árvores; mas ainda um dedo de planta encontra um caminho, passando por uma minúscula ranhura da janela.
A perseverança da terra, a que desfaz os corpos e enfeita os baldios.

Com umas dúzias de palavras encontra-se um sentido que nos solta do medo e penduram-se os poemas, roupagem do espírito ensolarado.
Na eternidade da poesia.

sexta-feira, março 08, 2013

8 de Março


Nenhuma destas mulheres foi revolucionária.

Fizeram pequenas coisas, submeteram-se a algumas outras, arranjaram emprego numa época (anos 40/50) em que a maior parte ficava em casa, sendo os homens "os senhores de tal".
As fadas do lar desmultiplicaram-se. 
A Lurdes, a Olímpia, a Mariete, a Quinhinha...
Eu lembro-as todas, uma a uma, porque todas tinham o que as mulheres "sabem no fundo de si": AMOR.