quarta-feira, dezembro 31, 2008

O 311 e a prepotência das comunicações



Achei piada ao número, o 311º, que fecha bem o ano.
Escrevi sei lá o quê, para quem ou para onde!
Trezentas e onze vezes, mais os comentários que faço onde me espelho. Inscrevo-me e desenleio-me, ao menos por aqui.

E porque não usei telemóvel mas fui usada por ele, com mensagens tipo
..."aos amigos deseja-se tudo de bom para 2009..."
que nem sei de quem são, nem vou ficar na fila dos "amigos" para descobrir com quem estou tão acompanhada
todo o ano com um "olá, tudo bem?"
cousas semelhantes aqui e ali
(e se há coisas que me irritam com alguma solenidade, esta é uma delas, a simpática e espontânea verborreia comunicacional, numa pressinha fica tudo abraçado e desejado, adeus até ao meu regresso)

Por isso, apetecem-me girassóis de pé, para me florirem o tempo acumulado e esperançarem-me para o que vem aí.
Descalçar os sentimentos e pousá-los na terra solta.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Pelo Novo Ano, o que vem aí e toda a gente diz Feliz


Talvez estar em algum canto
onde haja asas e céus de reflectir
dentro de nós

Lugares de intimidade

Que os amigos
et compagnons de route
encontrem o lugar verdadeiro.
Onde os pássaros
e as nuvens
e as boas vontades
o sejam.
Mesmo.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Normalizada






... e para não me sentir anormal e inquieta, com tantos votos e lembranças vistos, lidos, ouvidos, enviados, selados, em rede.
Deixo
então
o vermelho da época
o verde da esperança
a luz dum sol-novo
o espírito da transparência
(o rubro da raiva de não "se mudarem" mentalidades)
aquilo a que a sociedade nos empurra,
numa aura de boa vontade fortuita, a do natal e ano novo.

Aos amigos do PPP que tão boa companhia me fazem.
Aos que se foram e velam no azul, noutros lugares, nas ausências, almas ou corpos distantes.
Aos que nunca esqueço, em tantas datas e ainda agora; muitos.

Façam a Felicidade todos os dias, ao pé de nós.
Ao pé da porta.

Estando atentos não aos símbolos mas aos sinais.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Amizade


Palavra passada em Agosto no PPP.
Tive precisão, precisada de lembrar.

"Defeito meu de só assim entender a amizade.
Sempre lá, sulcos na pedra, para um lado ou para o outro, forte, enferrujada pelo tempo, segura, no azul ou na tempestade, refúgio de corda, poiso de gaivotas, suspiro de marinheiro, anseio de barco, quente de sol.
Se quase não se dá por ela, tropeçam-nos os olhos no sinal de infinito."

Há décadas em que podia ter escrito o mesmo.
Não há dúvida das convicções muito fortes.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Horizonte






Uma pessoa só tem saudade do que não tem.

Reparo que as pessoas têm poucas saudades umas das outras, não sendo famílias separadas.
Não dizem "tenho saudade do riso partilhado", "tenho saudade dos nossos encontros", "tenho saudade de andar na rua contigo".

A saudade torna-se uma coisa irreal.
O irreal alimenta-nos o imaginário.

Um velho canhão no peito guarda-nos os segredos. E as lembranças.

sábado, dezembro 13, 2008

Árvore com vermelho vivo


A todos os que (me)pensam (bem).

Agora, para a semana e antes disso.
Fica o meu aceno e desejo de coisas felizes e simples.

(como gostar de ter uma árvore enfeitada, no quintal).

domingo, dezembro 07, 2008

Sentidos de natal e de todo o ano







Arrasam-se sentimentos
argumentos.
Faz-se a pausa do sorriso
do embrulho
que há dois meses era já natal
...
para que não fique pedra sobre pedra
do que nos falta:
do essencial.
***********

Não é um poema nem tentativa. Saiu assim depois de 2 ou 3 catálogos deitados ao lixo. De relógios de luxo, de viagens de sonho, de presentes para todos.
Do abc-razão de nos sentirmos vagos.

sábado, dezembro 06, 2008

Exposição (relembrar)







Ao ver tantas jóias - sem tradução possível com a minha máquina - ...

Pérolas femininas: pensei que esta mulher só podia ser profundamente infeliz, na sua ambivalência de possuir tudo e não ter nada.

Da sua breve aparição em Lisboa, resta-me uma fita gravada e esta maravilhosa história de imagens.

Exposição (lembrar)

Vestido de cena usado na ópera "La Traviata" de Verdi.



Colar, oferta de Pier Paolo Pasolini


Vestido de cena "La Vestale", encenação de L. Visconti. Scala de Milão, Dez 1954
(danificado pelo incêndio do Teatro La Fenice, Veneza, em 1996)






A sumptuosidade.
Elegância.

A sua exagerada (diziam) tendência para o perfeccionismo na decoração e montagem das cenas.
Paleta em cor da sua modulação de voz, em graves ou doces cantos, no estado apaixonado ou violento.
Os que a rodeavam, enxame.
Lembram-se os poucos que gostavam dela e do seu delírio teatral.

Nós, os humanos, apenas nos deixávamos - deixamos - encantar pelas espirais de sons em que se exprimia.

Exposição (olhar)

Vestido do filme "Medea" de Pier Paolo Pasolini 1969




Vestido de veludo vermelho, em cena na "Tosca", de Puccini - encenação de Franco Zeffirelli 64/65





A "Flama", "O Século Ilustrado".
A "Life", a "Paris Match".

Gente de posses ou com alguém no estrangeiro. Empoleirava-me em bancos e cadeiras, nas casas de amigos da família, para "olhar" as revistas - e soletrar sózinha, antes de aprender a ler!
Os ecos de tudo. Lembro-me de ver fotografias pasmosas de princesas, jantares, passeios em iates, recepções, recitais, chegadas e partidas, aplausos, amigos e amantes.

Embora os fados e cançonetas da vizinhança se ouvissem, à mistura com a música clássica ou ópera - penso que me era administrada também "por disciplina"! - a minha infância era então uma esponja do acontecer.

"La Divina" conheci-a assim. Por aproximação de olhar.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Exposição (ver)

Vestido de malha de prata usado por Maria Callas num baile a bordo do iate Christina, de Onassis.




Com Sylvie Vartan e Johnny Hallyday:
"Ce soir je serais la plus belle pour aller dancer..."



Sobre a vida e amores, muito se disse, muito se falou ou escreveu.

Por mim, recordava sobretudo a voz.
A tragédia do abandono, na voz.

O brilho que a acompanhava.
A música e a máscara do viver, do morrer, boneca desarticulada.

Exposição (voar sobre uma vida)









A exposição em 2008.

Ao vivo e ao perto, em memória da vinda de Maria Callas a Lisboa.

Março de 1958, ópera "La Traviata" de Verdi, no Teatro Nacional de S. Carlos.