segunda-feira, julho 27, 2020

Palavra a puxar ideia

"A coisa mais bonita" era a proposta da semana que corre.

Foi um calor que nem deixava pensar. Nem as notícias que nos fizeram bola azeda nas sensações, amarfanhando a vontade de.
Tantas hipóteses, ideias:

A coisa mais bonita que poderia haver, seria embarcarmos todos (oh homens de boa vontade) numa viagem de muitas cores e raças, de entreajuda e alegria, num barco grande que fosse o nosso Mundo. “All lives matter”. Alegorias minhas para este tempo tão perigoso que vivemos.



Ocorreu-me porque continuo a sonhar, mesmo que fosse apenas um grupo, gentil, com dignidade, preocupando-se uns com os outros. Podia ser num bairro, numa escola, num ... sei lá!
Porque me lembrei de (muitos outros) Martin Luther King Jr. que foi assassinado em 1968, apenas com 39 anos de idade: "I have a dream", era o que ouvíamos. E antes dele, muitos outros. E depois dele, muitos mais. Eram negros, são ciganos, são párias, são de outros cultos, de outro país, de diferentes costumes. E que temos nós a ver com isso? Apenas respeitá-los e também não permitindo que nos desrespeitem. Tolerância. Compreensão das diferenças culturais, diálogo.
Isto, por exemplo, canalizando recursos para os mais pobres, sim, pobres e famintos, em vez de ir a Marte...

Na verdade, estes movimentos que têm surgido "pelo ar" - sempre que há uma desgraça, uma má notícia - provocam-me um pouco de "frisson". Especialmente para quem, como eu, viveu muito, lutou muito, soube muito. Depois se nota o reverso, dos movimentos, dos interesses, os oportunistas.
Direi que para muita gente é importante ser chamada à atenção, despertar e tomar consciência. Não o nego mas verifica-se um "pular" de corrente logo que o assunto cai no esquecimento. Ou se procura outra figura para enxovalhar ou enaltecer. O que vender mais.
O que eu sei bem é que os meios de comunicação social estão na sua maioria minados por interesses obscuros e, mais, financeiros e corruptos. Mesmo tendo em conta que a democracia e a liberdade são os melhores valores que se encontraram para defender a espécie humana, como ser pensante e actuante.
Há muitas maneiras de intervir, sem ir empurrado por "modas" e desassombradamente: lembro-me agora de dois brasileiros, Sebastião Salgado e Vik Muniz.
Deste último, apontamentos de uma exposição no CCB, donde aliás colhi as fotografias de
"...o barco vai de saída"...


Alguma luz sobre este ocidente que se revê em espelhos, tendo o veneno aos pés
Senhores de tantas e antigas dores, valei-nos.
Porque "todos somos... (não sei quem)", "me too", black lives and all lives matter.
Nem por um momento me passa pela ideia que um "all" se sobrepõe ao outro, "black". Nem para mim existe como tal. 
Porque é a Humanidade no seu conjunto dos mais desfavorecidos que sofre. Lembro agora as crianças, nas guerras, nas deslocações, nas fomes.
***
Nada de novo à face da Terra. Nem os prós nem os contra!



sexta-feira, julho 17, 2020

Poema PPP

A proposta da Jawaa este mês deu muito que pensar: excertos de poemas e nós, com as respectivas ideias e fotografias.
Esta semana:
"Creio nos deuses..." poema de Natália Correia com a sua acutilância habitual.

Texto meu, traduzido no pensamento com a beleza da mitologia grega, na Galeria Borghese "Daphne e Apolo", uma estátua de Bernini, séc. XVII. 
A história que deu origem a esta estátua é muito bonita: a perseguição de Daphne por Apolo, sendo a ninfa transformada em "loureiro", símbolo que Apolo usou sempre como a sua árvore sagrada.

Creio nos deuses …como o eterno desejo do Homem em sublimar a vida comum, os acontecimentos que ultrapassam a sua compreensão e os hábitos. Uma procura do transcendente, explicando e justificando assim crime e castigo, festa e desgraça, amor e ódio.
 

E, como sempre, não resisti e andei à volta da estátua captando-lhe o movimento e as expressões de tragédia e a beleza
Nessa viagem antiga a Roma, ainda uma vista parcial da praça do Vaticano que me fez lembrar os deuses que muito mais tarde foram introduzidos, ou induzidos, na religião católica.
Sobre as religiões, os religiosos, os seguidores, que respeito se o forem coerentemente, pouco mais tenho que dizer.

segunda-feira, julho 13, 2020

Curiosidades

Da proposição desta semana no PPP, surgiu-me  a lembrança de "A Estratégia da Aranha" sobre a frase "ignoro o que seja".
Nomes de filmes que marcam outros tempos: Bernardo Bertolucci, 1970, um realizador de culto, de quem não se perdia um filme novo. Como nos anos anteriores, anos 60, se viam os filmes do neo-realismo italiano que tanto nos diziam da sociedade de então.
A aranha estava pendurada laboriosamente, no estendal, fora da janela. Aí construiu - seria de noite? - um intrincado véu em teia. Quando a vi e observei durante uns minutos, tinha acabado de apanhar um insecto: fiquei fascinada porque nunca tinha visto, assim perto e com a lente da máquina, o decorrer da refeição do bicho. Claro que depois disso, mandei-a para longe, entre as plantas, que cada um no seu lugar!





O que me espanta nos animais: a habilidade nas construções das suas armadilhas ou esconderijos:



Ao mesmo tempo, na procura do "ignoro o que seja", apareceu-me uma figura de terracota que tem uma pequena história.

No recuado ano 2001, numa viagem a Paris e com uma amiga. No Instituto do Mundo Árabe, havia uma exposição de peças árabes, de outros países, e com destaque para uma peça "portuguesa", que fomos ver. Era nada mais nada menos que este Vaso de Tavira!
Recordei-o logo quando mais tarde o vi e fotografei.. em Tavira, no Museu Municipal, no núcleo do Património Islâmico.
E, sempre a propósito de um fio do acaso, como a teia... fui ler informações no Jornal Sul Informação, uma notícia de 24.2.2012: um tema misterioso e fascinante, mil anos depois!
Donde me vem à memória, outra viagem posterior a Paris e o mesmo Instituto que só se viu por fora: a andar, a andar, à beira-Sena, depois do Boulevard Saint-Germain, estava mesmo a fechar!








O agrado com que lembro estas coisas que, tantas vezes ao vê-las, "ignoro o que sejam"!



segunda-feira, julho 06, 2020

Eis senão quando

Tento fazer um post obsessivo
de ondas.


Ter ou não ter

Não me custa adaptar - ao meu ritmo - às tecnologias novas. Encontrei imensa distracção para o meu silêncio e algum isolamento, em apontar memórias, escrever a amigos - e até conversar por mail -, responder, comentar, exercitar a escrita com os meus diversos blogues e fotografias.
Ando em tudo o que me dá notícias dos meus longínquos, pessoas ou viagens, troco fotografias e mensagens, guardo...
Mas se dirá "que não há almoços grátis": com o constante bombardeamento da publicidade, dos ganhos, da dispersão, inscreve-te aqui, inscreve-te ali, cria um grupo, cria "uma sala", amigos que talvez conheças, ligações ... Qualquer bicho careta que tenha acesso a um número de telemóvel ou endereço de e-mail, enche a caixa virtual das mais díspares conjecturas, alarmes, mensagens, notificações e convites. Um dia destes, recebeu-se não sei quantas mensagens de aniversario (todas muito de energia positiva, descontos...)  e a gente fica assombrada!
E gastas/restam-te não sei quantos bytes livres que o resto está ocupado sabes lá com quê!
Enfim, é cansativo o que era apenas intuitivo.
Neste caso, adicionar fotografias a um texto que escrevia, era simplesmente ir ao meu arquivo de fotografias e escolher, sinalizando e carregando, ou anulando, as imagens a propósito.
Com novas orientações do gigante que nos deixou brincar no terreiro - e não há meio de encontrar quem tenha as mesmas limitações ou opiniões - acabou-se o privilégio, com a aparência de se poder "fazer tudo em qualquer lugar", com apps, com selfies.
"Arrastas" uma a uma, fotografias de um pretenso álbum que não foi coligido nem escolhido por ti!
Estás no mundo (des)controlado, na nuvem, na aparência amigável como algodão doce (dizia M.)
A mim lembrou-me a polpa das ameixas vermelhas e maduras...

Enfim, como o mundo e a doença que nos ameaça,
pode ser que mude.

quinta-feira, julho 02, 2020

Há uma Primavera

Esta frase-proposta do PPP fez-me encontrar muitas fotografias a propósito. Algumas que separei.
A minha escolha foi diferente, não era anúncio de estação, era sinal de uma florzinha que despontava, em 6 de Janeiro de 2017.

Pequenas e rasteiras, as violetas têm muito do que gosto: a cor, o perfume, a modéstia.
Pelo contrário: a menina é viva, azul e nacarada como uma pérola, com caracóis que me lembram outros há 40 e tal anos. Que tantos gestos me ficam de memória.
As outras sugestões que havia escolhido falam também de flores. O prazer que me dão os lugares.
De camélias que são, afinal, flores de Inverno, estas de Sanfins de Ferreira. Que descobri por acaso, num jardim particular onde as pessoas as cuidam e adoram






De flores de amendoeira que têm um Fevereiro desabrochar. Estas de um longínquo passeio a Trás-os-Montes.

E a recordação da "minha árvore" em frente, essa por onde sabia do tempo e das estações: bastava ir à janela. Escondia os carros, as ruínas, os passantes. Acenava. Servia de poiso às rolas, aos pardais, aos melros. Servia de carinho aos meus olhos.


Como se vão as coisas. Como se substituem pelo cimento, pela frieza, pela aparência ou o fingimento.
Tal gente.

Fujo para a delicadeza do branco e da paisagem-outra.