segunda-feira, outubro 29, 2007

Paisagem com noite


"La nuit étoilée" 1888


Sirvo-me ainda da inquietação torturada de Van Gogh e dos seus céus circulares em noites de vento.

Também qualquer quadro dele o demonstraria, redondos pensamentos à volta de si próprio.
Cores retorcidas e enorme solidão, gente que passa e não se queda.

Como se a terra girasse em parábola imensa e já nada fizesse sentido.
Nem distâncias nem consequências.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Um Convite de Letras Pensadas






(imagens de um ex-alferes miliciano)

Um amigo das palavras e da música, do programa "Questões de Moral" na Antena 2, do qual sou incondicional ouvinte.
Também das letras, após o seu livro "Balada para Sérgio Varella Cid".
Recebo um convite de Joel Costa que aqui vos deixo, com gosto, sabendo e apreciando o teor. Do autor.

Lançamento do livro "O Assassino de Salazar" de Joel Costa
3ª feira, 30 de Outubro 2007, às 18.30, na Livraria Bertrand do Chiado (Casa das Letras), em Lisboa, com a apresentação pelo jornalista Adelino Gomes.

As palavras de J. Costa:

"O Assassino é um romance estranho. Ao contrário do que a publicidade e o marketing da capa dá a entender, não é o Salazar a figura principal, pelo menos em termos de accção. O real protagonista é o assassino, um tipo banal, normal, simpático, obsessivo, algo complexado, pequeno-burguês e ex-alferes miliciano que, pela sua acção heróica no ultramar, se vê metido em intrigas extraordinárias. Não é um branqueamento de nada. É uma história. Só.
E eu penso como o Hitchcock: o que interessa ao espectador (leitor) pode ser uma pessoa de vida comum subitamente envolvida....com gente e acções que lhe escapam ao controle e à soberania pessoal."

Em época de que se "vai falando", as fotografias no lugar do tempo bastardo, algures na Guiné, ano 1966.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Alinhamento II









Ficam ainda as gaivotas, essas desalinhadas, que espreitam o azul com asas inquietas.

Os caminhos, aparentemente fáceis, dos abismos.
As veias da rocha.
O ninho inatingível.
O perfil solitário do farol.
Os livros naturalmente talhados e empilhados ao acaso.

Um vento que não cabe aqui e ondulava águas. Assustava a norte e acariciava a sul.
Perfeito o ar quando chegamos a um cabo e deixamos a terra habitada para trás.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Sobre "Alinhamento" I






Tantas vezes me desalinhei, infância e por aí fora.
Muito tempo também a alinhar com a vida obrigatória, gentes.
Palavras, papéis, memórias.

De aparente trato fácil, no segredo do pensamento, desalinho.

Este mar e estas pedras do Cabo Sardão - lembradas a propósito do "Alinhamento" no PPP já longe, no princípio do mês - teria eu que as guardar aqui, devidamente organizadas pelos olhares encantados com que as vi.

terça-feira, outubro 16, 2007

O costume



Geralmente éramos três.
Nesta escultura, mulheres. Mas também colegas, vizinhas, amores ou amigos.
(estranho, o reflexo deste lugar de três lados no correr da vida minha, de três vidas na vida, uma constante).

Anos de silêncio e um dia de aniversário.
Ao mesmo tempo, um telefonema de acaso, num outro espaço de tempo e lugar.
Nunca percebi, nem perceberei, porque é que tantas pessoas preferem o fútil, o mais prático, o mais fácil. Superfícies.
À mão na mão, ao pensamento cruzado, ao riso e à lágrima em comum, a uma boa discussão ou a um silêncio frutuoso.

Relembro a canção de Chico Buarque:
"...Olá, como vai? Eu vou indo... e você? Tudo bem?..."

Infinitamente triste, um "Sinal Fechado".

terça-feira, outubro 09, 2007

Manifestações e Sentimentos II







Como disse uma das amigas do PPP, estas formas de "pedintes/animadores" com arte , também me dá uma certa tristeza. Pelo desamparo da ficção a que se submetem horas, dias a fio, à curiosidade de quem passa.
Não penso bem nem mal: sei é que me deprimem um pouco.
Assim como se, de repente, me passassem pelos olhos os véus que foram tombando na realidade, descoberta à medida que as gentes mudam.

E eu visse em todas elas as mil máscaras não pintadas com quem me cruzei na vida.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Manifestações na Arte do Estar I








Numa semana já passada, a palavra "Ficção" no PPP fez-me lembrar as novas formas de arte que vamos encontrando ao acaso da rua, nos tempos últimos, mais frequentemente.
Exóticas, pintadas, imóveis, o que levará estas pessoas a exibirem-se assim?
A necessidade, certamente, do dinheiro esmolado e do exibicionismo fácil.
De uma audiência interactiva.
Estes dois personagens "Palhaços" eram alegres, sorridentes, brilhantes.
Havia uma "Morte" tão tétrica que não a fotografei.
A sequência nas Ramblas de Barcelona, mostra o início animado e o fim da noite com a descaracterização em que os fotografei. O elemento masculino (?) demonstrou-me o seu desagrado logo a seguir à fotografia, como se tivessem corrido o pano do seu palco imaginário.

Fiz-lhe um aceno amigável, para disfarçar embaraços: ali estava, inteiro, o fim da festa, o fim do teatro de rua, o arrumar de esgares para os outros, o "tirar" a máscara do riso ficcionado.

domingo, outubro 07, 2007

Cores reais








Em todos os cafés ou restaurantes por onde passei, havia uma ou mais televisões.
A funcionar. Com pessoas aos pulos, pareciam-me concursos.
Ou muito sérios, a ralhar, a opinar.
Muitas vezes, futebol: tanto futebol há por esse país fora, a todas as horas!
Apeteceu-me mais bichos que gente. Com a realidade das suas cores. A franqueza das suas limitações.
Não falam para se ouvirem a si próprios.
Não discursam.
São bichos mais que muita da gente. Aliás, andei mais pela natureza, reconhecendo preferencialmente animais e menos pessoas.
Não precisavam de "bom dia" nem "boa tarde": só de "olá".
Experimentei e aceitaram-me com urbanidade.
Gostei de os ver. Acriancei-me como não o fui no tempo.
Encontrei uma aranha na varanda e ia espreitá-la todas as noites.
Cada um no seu lugar: ela, a um canto, pouco se movia.
Sei que faz a sua teia por instinto de sobrevivência: por isso a observei e não acendi a televisão.

Senti-me, vagamente, com instintos de sobrevivência e atitudes de bicho.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Devagar



...devagarinho...

voltarei aos sítios onde recomeço o quotidiano.

Preciso apanhar as pontas para saber como vivo correntemente.
(imagens e pensamentos virão contra mim ou ao meu encontro talvez, depois).