domingo, novembro 28, 2021

PPP Novembro 2021 - O Tacto

Como muitas vezes me acontece, retiro fotografias de escolhas várias, para os assuntos propostos.

Do "tacto" que foi referido no relance das subidas e descidas ao Pulo do Lobo, sobraram-me estas, de outras coisas de tocar. Uma secretária de uma amiga, um gosto de tactear e perceber a minúcia de todos aqueles baixos-relevos. Veio da Índia há muito tempo e foi especialmente feita para os avós - ou bisavós??? - dela, com alegorias e as imagens das pessoas elas próprias. As mil e uma gavetas - uma de segredo - ainda guardavam as aparas de pau sândalo; e do toque e visão se dava conta do extravagante odor de incenso da madeira. Que mãos, que artistas, a modelaram lá tão longe? Um primor, uma obra que nunca esquecerei, mesmo não sabendo onde pára, nestes tempos em que o útil se torna inútil e "desadequado"...


E os ouriços viçosos nestes castanheiros onde não se pode tocar: mas que dão vontade de o fazer! Uma viagem em que todos os sentidos nos foram requeridos. Ainda com a memória deles.

 


sábado, novembro 20, 2021

O rio que não volta para trás

Foi interessante encontrar hoje este poema, numa leitura sobre "morte assistida" num jornal inglês.

E lembrei-me da proposta que redigi para o PPP para a última semana "Tacto". A primeira vez que ali se esteve em 2001, não havia bastões de caminhada mas as pernas aguentaram. Em 2011 e em 2016, as fotografias. Passeando pelas imagens do "tacto" que foi necessário reunir para uma descida íngreme - e a subida! - de um lado completamente selvagem, penso que mais de 1 km de pedras e precipícios. Os dedos das mãos e dos pés, muito atentos às pedras roladas ou agudas, tacteando o caminho. Os outros sentidos "em sentido", que era preciso observar bem o lugar perto e longe, não escorregar na visão das cores extraordinárias das pedras,  cheirar todos os cheiros das estevas e ervas do monte, torturadas para se agarrarem à vertente, a audição no máximo, que o rio Guadiana se espelhava e despejava abaixo. 


O Poema é de Kahlil Gibran, retirei-o da net. Curiosamente o rio=the river é feminino na língua inglesa:

The River cannot go back

It is said that before entering the sea
a river trembles with fear.
She looks back at the path she has traveled,
from the peaks of the mountains,
the long winding road crossing forests and villages.
And in front of her,
she sees an ocean so vast,
that to enter
there seems nothing more than to disappear forever.
But there is no other way.
The river can not go back.
Nobody can go back.
To go back is impossible in existence.
The river needs to take the risk
of entering the ocean
because only then will fear disappear,
because that’s where the river will know
it’s not about disappearing into the ocean,
but of becoming the ocean.

Sem a preocupação "se antes, se depois", a beleza dos sítios. E o meu espanto de ter lá ido. Porque agora, com os tais "de passadiços", obras enfatuadas a ser efectuadas, não se encontra sequer um caminho viável para ver o rio, mesmo de longe. Tudo é progresso, tudo são modas, tudo é efémero.












Coisas: de poemas, pedras, sentidos e afins.


quarta-feira, novembro 10, 2021

PPP - Agenda para Novembro

"A beleza das coisas e os nossos cinco sentidos" foi o tema escolhido para o mês que corre, corre.

Hoje está sol e sente-se, com todos os sentidos (disponíveis) o Verão de S. Martinho, diz a lenda que o santo dividiu a única capa que trazia vestida com um pobre passante. Solidariedade, o que nos falta neste mundo de capitais, enganos e guerras, neste tempo estranho em que vamos (sobre-) vivendo.

Das minhas primeiras escolhas: a Visão

Fico muitas vezes a olhar as nuvens e as suas formas. Ainda bem que posso olhar e ver.

Ver, para quem tem problemas de visão, é um privilégio. A paisagem conhecida desde há 10 anos e sempre nova. O tempo de férias. As nuvens no horizonte ou o céu sem elas, absolutamente plano. Todas as manhãs e todas as tardes o fotografei. Milhares de imagens que irão servir-me como ilha deserta em outros anos, quando divagar, ou navegar, pelas boas recordações. Vêm-me ao pensamentos as alegorias de infância, as formas da cal nas paredes, as histórias imaginadas. O Planisfério e os contornos dos países ou continentes, as relações visuais que se me metiam na cabeça: peixe, cabeça de coelho, cacho de uvas...

A segunda escolha era outra imagem, não de nuvens mas de abandono, vazio:

Audição:


Ouvir pode ser uma espécie de memória musical, para mim.

As fotos são minhas, Belgais 2003, retocadas no estúdio M.!!!. O que digo tem um sentido muito especial, para mim e para quem me conhece, pessoalmente. E os sons são agora, quase e apenas, memoriados, de vidas anteriores.

Dizia eu há dias que faria falta falar de mais dois sentidos, além dos cinco: o sexto que dizem ocorrer nas mulheres, e outro, a locomoção que dá prazer e movimento à vida.