sexta-feira, maio 30, 2008

(A)penas




Não existem as palavras:
(emu)decência
distanci(l)amento
longin(gen)(q)uamente
Palavras inventadas onde me encontrarei sem dicionário que chegue.

Não há nada de novo à face da terra??? quem teria dito???
Sentido. Muitos, cada vez mais.
Dizemos em segredo, sussurramos desencantos, quando podemos; e a quem.
Tomamos as palavras dos sábios e dos poetas para o alívio de sentir que alguém entende(u).

terça-feira, maio 27, 2008

Sem medida


Tenho tido no meu mail, diálogos como eu os imagino soltos: "ao postigo do quintal".

Alguma confusão entre amigos
conhecidos
encontrados
de peito de coração de intimidade de vizinhança de gostos
ou desgostos
de palavra.

A Ana Ramon, da Paixão dos Sentidos, que eu não conheço, a não ser há meses e meses de nos lermos esporadicamente mas sempre com agrado, deixou um comentário no meu lugar. Fez-me sorrir; passou-me pelos olhos uma fotografia tão real e tão imaginária como a frase.
Metáforas e imagens de que me alimento; muitas vezes bem, outras vezes indigestas.
Eis o que me escreveu, tão simplesmente:
"Os amigos têm destas coisas: encantam-nos o olhar e quantas e quantas vezes o alargam, rasgando-o, obrigando-nos a ver mais longe e mais preciso."

Senti exactamente "como a paisagem mais longe"que me apareceu, nas suas cores antigas, ao mesmo tempo que a lia.

Para mim e ainda, porto de abrigo e beleza, esta.
Tudo o mais não me são letras
mas tretas.

sábado, maio 24, 2008

Apontamento



O meu amigo FM vê o Danúbio.
De longe, capta-lhe a magia nostálgica e manda-me um aceno.
A minha amiga FB lê Alvaro Lapa.
De longe, capta-lhe o amor à pedra e manda-me a explicação.
"...Estranha-se a pedra porque está ali onde a olhamos e ela vê-nos à sua maneira com indiferença máxima pelo nosso andar. Andamos-lhe em volta, não a ignoramos nem conhecemos, nem a domesticamos, só podemos admirá-la. Virá-la para dentro. Para o tempo. Que ela mostra. É um relógio de um ponteiro que marca séculos se os contarmos e tudo o que neles acontece. Um soldado morto vive numa pedra e só nasce debaixo do travesseiro. É um sonho de pedra pequena e muita guerra vista em volta. Com muito tempo. Ninguém as retirava do seu moledo lá por Sagres".

(Alvaro Lapa - Impressões da Lusitânia, cit. in Algarve, noventa séculos entre a serra e o Mar).
Parecendo sem coincidência com o que sinto, apontamentos intemporais.

sexta-feira, maio 23, 2008

Miróbriga IV


Um estranho na paisagem.
E lembrando meu indefectível amigo Joel Costa num dos seus programas "Questões de Moral" (Ant.2) precisamente em Setembro de 2007 : "Os olhos e os ouvidos do nosso passado" deixaram-me assim, na verdade de um animal entre ruínas, espaço para o riso!

Hipódromo (planta e lugar)

Forum e Templo

Vista a partir da ponte romana




As termas romanas e a ponte ao fundo.
Ocre imponente.
Os corações e suores dos que lhe dedicaram os dias.

Miróbriga III








A influência dos romanos neste povoado de provável origem celta, a partir do sec. II A.C. tornou-o num centro urbano importante e ditou a sua expansão, adivinhada pela imponência das ruínas já exploradas e postas a descoberto.

O Forum e as Termas, a larga calçada romana de grandes lajes, os frescos pintados de algumas casas, as vias de acesso e até um sistema de esgotos e canalizações de água, os sinais dos templos dedicados aos deuses (Vénus e Esculápio), as casas que se reconhecem serem de comerciantes e habitantes, vestígios de sepulturas ...tudo isto se encontra ao alcance dos nossos pés e olhos, numa admirável paisagem citadina onde passeamos com vagar e admiração.
Ciprestes, oliveiras e sobreiros, os socalcos verdes acompanham-nos pelas ruas de silêncio.
Saímos para um sol brilhante, agradecidos aos arqueólogos, patronos, curiosos e amigos da Cultura - essa senhora humilde e sem idade que é, ainda e no meu entender, o vínculo humano mais abrangente e sincero entre gerações e povos.

Qualquer enciclopédia ou publicação dirá muito mais: estes são os pequenos apontamentos que estruturam a minha memória dos sítios, retirados do que vi e da leitura do Roteiro de Arqueologia Portuguesa, "Miróbriga - Ruínas Romanas", de Maria Filomena Barata, Maio 2001.

quinta-feira, maio 22, 2008

Miróbriga II (de museus)






Pelos bocados de barro vão os dedos que os juntaram, pequenos, frágil mistura do que dizem somos feitos.
Imaginar a casa habitada. Anéis e pulseiras, preciosos objectos do quotidiano.

Velhos, amorosamente, os vestígios; e passa-se quase em bicos de pés para não quebrar o cristal do tempo.
O que nos sussura o pó: "aprender, aprender sempre".

domingo, maio 18, 2008

De Museus I






Era uma visão há meses e era o dia, Hoje.
Para MFB um dia luzente.
Entretanto, estas coisas de pensar, são as gavinhas das videiras/vidas enrolando-se.
Para sobreviver ao supérfluo, o espírito flutua e revolteia em quantos lugares. Perco-me do rumo que julgava voluntarioso.

E havia Miróbriga, quase fora de horas.

Precisosas e guardadas estão as tardes de sol nos caminhos a descobrir.
Também as horas do pormenor, das mãos, das jóias, dos traços, das tantas artes que o Homem e a Natureza tecem.

Esse sendo o meu entretimento, ou entretecimento, principal.

Os "quês"





Que escreveríamos, prisioneiros de nós, nas paredes?
Que flor nascerá na ferrugem dos nossos gestos?
Pois, é domingo à tarde! E chove Maio.
Os dias santificados são uma carga de trabalhos, para os crentes e para os não.
Retratamo-nos ou espelhamo-nos.

"The Sounds of Silence" growing.

quarta-feira, maio 14, 2008

"A Consistência dos Sonhos"






Ainda o Festival de Cannes, as rosas, a consideração, os sonhos e realidades.
É apresentado em competição o filme "Blindness" ("Ensaio Sobre a Cegueira" de José Saramago), do realizador Fernando Meireles.
Não sei se o filme é bom ou mau: o livro e o realizador são bons.
O que me lembrou o espanhol que idealizou a exposição no Palácio da Ajuda, a Fundação que a apoiou.
E o "favorzinho" que fizemos nós, a tal maioria de portugueses, os ministros e secretários de Estado das Culturas nestes 10? 20? anos ... a toda esta juventude que não sabe, que não lê e que "espanta-espíritos" na cúpula.

A exposição é grande, lindíssima e muito nossa.
Uma realidade espelhada que nos fará meditar nos sonhos consistentes.

Ensaio sobre a Consideração



O nome da estátua é mesmo "Consideração".
Muitos nomes há que não se usam!


Faz-se-me um intervalo na poesia-pedra de Miróbriga.****** Hei-de voltar.
Ao sentir, incrédula, a cegueira.
Começou o Festival de Cannes: na apresentação ela, e como convidado de honra ele, estão dois portugueses. É verdade, Maria de Medeiros e Manoel de Oliveira.

Não será esta a mesma Europa que puxa o lustro às cadeiras em Bruxelas.

Certo que não vejo todas as notícias. Certo que não ouço todos os rádios. Certo que não leio todos os jornais. A verdade é que dedico, agora e durante a semana, apenas uma meia hora abrangente ao meu diário noticioso. Estou atenta a outros sinais e se quero desenvolvimento, vou procurá-los.

Recuso Futebol, Fátima, coscuvilhice, tacanhez, gente em bicos de pés para chegar a um segundo de alvar sorriso pelos lares alheios adiante.

Mas o defeito não é meu se as panelinhas enchem o chamado "prime-time" das notícias: nas mesas redondas em grandes "ós" de ingenuidade, os sabujos, os meninos e moços, os que se arrependem à boca do tribunal, as "damas de ferro" partidárias, "se viu faça-nos saber" o sangue ou a pancadaria, os donos de cabeça redonda desses estádios-óperas-de-malandros ... um autêntico desfile desonesto.
Sei lá que mais!
E porque deixamos encarcerar as rosas que nos contentam?

sábado, maio 10, 2008

Escritos




Muitas vezes apetece transmitir uma homenagem. Uma flor, uma palavra, um pensar alto, escrito ou dito. Há sentida uma tal dicotomia entre o cristal - que suponho ser - do coração, o espírito, os olhos, que tudo se torna vertiginoso e próximo.

Em lento e parco conhecimento em que as sociedades e os grupos nos cerceam.
(cercear é "cortar ao redor, aparar em volta" e não podia ser mais assim).
Este é um texto duma amiga de acaso (em pedras a (re)conheci) a quem pedi emprestado o lugar que me comoveu:

"A prisão de Tessalónica

Numa parede de uma pequena cela da ex-prisão de Tessalónica (hoje sede da Secretaria de Estado da Cultura), encontrei as seguintes frases de uma prostituta que aí esteve presa (com um desenho infantilizado do bordel onde tinha trabalhado):

- Quem nunca se angustiou, é feliz -
- O pássaro encontra a Morte nas asas -
- Os cervos encontram a morte quando vão beber água -

Nunca me esquecerei do espaço e das palavras que li."
Texto de MFB, no seu lugar enluarado.

segunda-feira, maio 05, 2008

Urbano




Sentada sobre água e os reflexos. Porque sempre a pensar para longe.

O colorido da cidade; eu branca e oblíqua depois do vermelho vertical.
Tantas cidades e gentes.
Despidas e recobertas em vestes e vestes sobrepostas.
Casulos. Mulheres.