Todos nós, e todos os meus, família, amigos, conhecidos, estamos hoje confinados ao essencial. Pouco. Em casa o mais possível.
Antes de e enquanto.
Estava eu na praia, tentando curar ao sol e ao ar o desamparo de ter ficado sem emprego, quando um casal sentado perto de mim que tinha um rádio, fez menção de me chamar. Era o 11 de Setembro de 2001, o tenebroso ataque ao coração financeiro da cidade de Nova York. E nunca mais nada foi como dantes.
Recordo o horror, o pânico e a dor. Recordo as medidas restritivas de movimentos, as suspeitas, os aeroportos e a vigilância, as vezes em que cada um e todos olhámos desconfiadamente para a "diferença".
O que se seguiu depois não tem explicação, a não ser a de um mundo em roda livre, em que ricos e poderosos, políticos e gente de meia-tigela, extremistas e oportunistas, jogaram o xadrez entre si, deixando o velho jogo da bisca lambida para nós.
Em 2008, o descalabro económico de operações financeiras obscuras que prejudicaram tanta gente. Essas décadas (e outras anteriores que já prenunciavam o desastre dos povos divididos) marcadas por morte, guerras, fugas, conflitos, fome, miséria e poluição.
O apertado laço das liberdades apertou-se mais.
LIBERDADE não é apenas a de falar, a de votar - e tudo isso em bando/molho de direitos e deveres - a que chamam democracia.
LIBERDADE É PODER VIVER EM PAZ E SEGURANÇA.
Tudo que se passa hoje no mundo, tão total que é aqui mesmo na rua, lá adiante e a mil quilómetros de distância ou do outro lado do globo, nos assusta, nos desorienta.
Nos amargura.
Aquilo que o terrorismo não tinha conseguido globalmente, surgiu como nos filmes de ficção de horror: aconteceu com um vírus. Uma contaminação que se propaga pelo mundo. Todo. Ninguém está a salvo mas onde os velhos e os mais pobres são mais vulneráveis.
Não tenho palavras de ânimo.
Apenas receio pelo que nos resta do viver. E uma saudade intensa dos meus e do Alentejo.