quarta-feira, maio 23, 2018

Aljustrel

De séculos, as minas romanas, os vestígios arqueológicos de períodos tão recuados na história deste rectângulo, a vastidão dos campos e a largueza de ideias. Gostamos dela, de Aljustrel, num desvio por curiosidade da auto-estrada. Voltamos para a merecer, passeá-la, descobrir a vitalidade no meio do Alentejo.
Aqui deixo um apontamento. Tanto que se lhe diga nesta viagem/passagem de apenas 2 dias... deixarei mais ideias e fotos para "asminhascoisassoltas", o resto que é muito e tanto.
Lá e à volta, valeu a pena parar num ponto do mapa: um início na povoação romana de Vipasca, a Albasturil árabe, conquistada em 1234 no reinado de D. Sancho II. Contudo os vestígios arqueológicos são muito mais antigos.
Além de tudo o que é belo e encontrado naquelas terras alentejans, comoveu-me "A Mina" - agora activada de novo a extracção do minério. Aljustrel faz parte da Faixa Piritosa Ibérica, alguns pontos - Lousal, S. Domingos - que já visitámos, pelo fascínio da arqueologia industrial, a sua riqueza de brilho deslumbrante, as cores de uma paleta inusitada na natureza dos solos.
São apontamentos ao longe: as minas agora em laboração não podem ser visitadas, estando a ser preparado um protocolo com a autarquia, para que alguns pontos sejam acessíveis aos curiosos.

Esta foto está è entrada do Museu Municipal e na mostra do Património Mineiro: no início do séc. XX, grupos e famílias do Algarve que vinham trabalhar para as minas. Reparei nas mulheres e nas crianças, algumas tão pequenas.



Esquema das escavações arqueológicas


Corte de miniatura mostrando os poços mineiros escavados no solo e sistemas de elevação do minério.
 Levava eu numerosos nomes e referências...

quarta-feira, maio 09, 2018

E, apesar de tudo

saindo!


Esta imagem tem mais de 10 anos.
Passo a passo, nos admiramos. De persistir e resistir.
De respirar.

sexta-feira, maio 04, 2018

Passado/Futuro

A complexidade dos pensamentos que me ocorrem.
Noite ou dia.
Uma resistência a prever, ou a viver, o futuro ou o presente.
E todavia, qualquer encontro, qualquer voz, uma pessoa ou uma esquina de rua, uma situação de livro, uma situação de presença aflorada em nomes varridos há muito da memória...
Toda a fluidez se concentra no passado.
Sei que não é bom.
Mas é como se Janus me espreitasse com as suas duas caras e quatro olhos.


Pelos corredores da memória surgem cantos escuros e sóis,

cabelos longos,
labirintos que só agora reconheço,

paisagens e paixões,

atravessando portas de décadas, tantas vezes escondendo a cara num mergulho de sensações,
e rompendo os pés nos caminhos,

as duas virtudes ou tendências de carácter já tão em desuso.

Sentar frente à transparência. Nos cantos me (re) encontro.

Como diria Paul Simon cantando: "Still crazy after all these years".

quarta-feira, abril 25, 2018

Onde estava no 25 DE ABRIL 1974?

A dormir. Tal como no terramoto de 28.2.69.
Com a inocência da noite e os sobressaltos do dia. Trabalhar. 



O meu emprego era num sítio fino onde a maioria das pessoas eram grosseiras. Os patrões-patrões, acima da pirâmide: é incrível a quantidade de coisas que me lembro desse tempo, do fosso entre essa gente - eram vários, famílias...-, os "lambe-botas" e "os outros". Um chefe-chefe, pequenino e voraz, um fiscal, um torturador de mentes, à antiga portuguesa, se dizia.
Uma das amigas à época que tinha alguém de família no exército,  tinha-me falado no Levantamento abortado das Caldas, em 16.3.74, mas não eram notícias vinculadas por gente "de confiança". A maioria de nós sobressaltou-se: o tempo negro em que se viveu, habituara-nos às informações deformadas, especialmente no que se referia às notícias políticas. O que se conseguia saber passava de mão em mão, de boca em boa, em segredo, tal como o cinema, os livros, jornais...
O terror estava bem instalado.
E eu nunca tinha ido a Lisboa. Lia "O Diário de Lisboa" quando o esperávamos, ao fim de tarde, lendo as entrelinhas, as entrevistas, a intelectualidade e os nomes que nos diziam algo, adivinhando.

A pressa da manhã, a precaridade dos laços laborais (sim, havia e muito!) e os horários: cedo, ao chegar à porta do prédio, encontrei um "velho republicano", colega, que me disse "parece que houve alguma coisa em Lisboa, não se sabe bem". Rádios, internets, telemóveis ou mesmo chamadas telefónicas em horário de trabalho, não existiam nem eram permitidos.
Só à hora de almoço consegui saber pormenores. A alegria invadiu-nos como uma onda. Lembro-me que levei um rádio portátil, à tarde, o que foi o primeiro acto de acobardada rebeldia...
Muitos acontecimentos se seguiram que me iriam pôr à prova: não posso dizer que, pessoalmente ou à minha família próxima, o 25 de Abril me favoreceu, pelo contrário: todo o ambiente em que me movia era um espartilho vigilante e, em muitos aspectos de trabalho, as coisas e relações pioraram muito.
MAS: havia a esperança, uma espécie de fervor que nos tomava (fora das horas de serviço!!!) e transportava para um país em mudança. Logo viriam notícias de amigos de quem não sabia nada há anos: foi um dos meus primeiros pensamentos: "eles podem regressar"!


ah... e a rua, a rua, finalmente muita gente feliz, na rua!
Um privilégio, termos vivido nesse tempo de enormes transformações.
Se me repito não sei. Impossível imaginar como seríamos. 
Há 44 anos que o 25 de Abril nos tomou, pelas mãos, pelos cabelos, pelas lutas.


terça-feira, abril 17, 2018

Dos ciclos e da Lua

Havia os ciclos das estações e as noites de luas.
A casa que habitávamos tinha 3 lados, um deles, o do meu quarto, era virado para o nascer do Sol e o nascer da Lua. O mar era ao fundo do caminho dos pinhais. Nesse tempo e lugar, levantava-me muito cedo, pelas 6h da manhã, com orvalho ou chuva, tempo bom ou mau, eram 2h horas de caminho.
Passados 10 anos às 7h da manhã já "se estava" a polir metais, esfregar átrios, a distribuir lençóis e toalhas.
Aconteceu-me o mesmo 20 anos mais tarde, trabalhos de periferia das cidades. Não posso dizer que apreciasse fazê-lo, sempre fui uma alma da noite, mais pensando e sonhando dentro dela que durante o dia pleno.
Quando os deveres, as inquietações, as saudades, pareceram ritmos de coração descontrolado e que era forçoso disciplinar na vida corrente e aparente. O fim da  noite dava-me sossego.













A propósito do PPP da semana passada, lembrei as minhas madrugadas. As minhas luas de céus vários, alguns cegos-outros de aventura, janelas de hotéis, de hospitais, de varandas, de horizonte cortado rente ao olhar, manhãs de aeroportos, madrugadas de praia, de prazer-ou-trabalho e insossego.








"Alta ia a noite... e mais alta ficou porque se resolveu ir seguindo o eclipse total da Lua, desde a 1h até às 3h da madrugada. E que belo espectáculo, num lugar tranquilo, de largos horizontes e com pouca luz artificial. Vinham-nos à memória as figuras ingénuas dos livros de liceu, de como percebemos a posição dos astros e "o cone de sombra" que, afinal, era projectado por nós todos, com mares e terras, defeitos e virtudes: a Terra."


Se e quando, as luas tinham o encanto dos lugares conhecidos e pacíficos.




Hoje também lembrei as noites, não só essas mas outras.
Há muitas luas, como pedras-como flores-como estátuas-como pinturas-como quadros-como palavras caixas.