segunda-feira, abril 02, 2007

"Sonho" da semana passada...







Foi este o "Sonho" palavra/semana passada, no PPP.
Fotografia que jamais se repetirá. Hoje este espaço entre o menhir do Outeiro (6m de altura) e Monsaraz, é o leito do Alqueva. A barragem que era para dar "vida" - água? - ao Alentejo, conjecturada há décadas, cavalo de batalha duma esquerda vigilante e pouco actuante.
Hoje será para turismo, de "qualidade", de barcos, de motas de água, de BTT ou jeeps. Assim vão os anúncios para "inglês ver".
Porque se fala tão pouco naquilo que é raiz de nós, as culturas das terras. Desanimo. Desânimo. Tanto fogo fátuo.
Isto verde espaço, verde oliveira, nunca mais se repetirá. As minhas fotos são de 2001 e as recentes são das que andam por aí, nos cartazes do novo Alentejo (esquecido o outro?).
Monsaraz ao fundo, ervas tornadas algas, pedras da terra submersa na água.

O cromeleque do Xerez, história antiga, lagaretas, símbolos, pedras do lar, tudo foi retirado para ficar a salvo das águas: disseram; acredito que tenham encontrado um lugar mágico como este o era. (Porque as notícias que vejo é de cães danados, donos doidos, tráfico de mulheres e de influências - para mim igualmente sórdido - juízes distraídos a quem ninguém pede contas, politiqueiros).

O "novo Alqueva" e a vaca sagrada do turismo - for all?? querias... - a que chupam as tetas até ficar disforme, seca e em cimento, ervas só criadas em condomínios.

Lembrei um viaduto altíssimo a ser construído, nós cá em baixo, a olhar para cima, embasbacados, o caminho para a aldeia da Luz. Já fantasmas, os velhos a quem, timidamente, dissemos "boa tarde", velhos curvados e troncos torcidos para a terra como infinitas oliveiras. Pratas, bronzes e oiros do nosso querido Alentejo.
Nomes lindos como o povo desses lugares. Terena, Cabeça de Carneiro, Motrinos, Moura, Serpa, Margalhos, Bezerra Doida ...

Pulo do Lobo (onde o outro doutor, de económicas e encómios, se pensou introspectivo presidente de paróquia).

Uma descida pelo purgatório do calor e das pedras raiadas de alaranjado, arbustos vermelhos e selvagens, água vibrante e logo meiga. Amar ela.
Em cada bocado daquela terra, dançavam as fadas rindo e fugindo dos deuses.
Em cada bocado sagrado da nossa terra, onde se podem encontrar os sinais do princípio do Mundo.
Sinais que não podemos ignorar, apesar do silêncio ensurdecedor dos "senhores da guerra".



4 comentários:

LFV disse...

Porque me faltam as tuas palavras? Porque se afoga o país em mentiras grosseiras? Porque se julga que o dinheiro é o sonho que comanda a vida? Porque é tudo tão falso, tão desinteressante, tão desonesto, tão politicamente correcto? Porque somos o país do Pacheco? Do Luiz, que do outro não rezará a história! Obrigado Bet. Pela lucidez, pelo sonho, pela partilha! Abraço.

Isabel disse...

Ai, minha tudo e mais alguma coisa, que bom e que triste ao mesmo tempo ler-te.
Bom porque te bebo e aceno concordante com todas as tuas palavras.
Triste porque são tão verdadeiras e era tão bom que não fossem.
que isto de hoje, sim fosse um sonho, um pesadelo e que quando acordassemos abrisemos os olhos e voltassemos a ver a nossa terra como ela era, como foi, e como queriamos que continuasse a ser.
Queriamos acordar e ver as nossas gentes com a nossa cultura e não as nossas gentes a serem bombardeadasque o bom são as culturas ou faltas de cultura de outras terras. Esta nossa terra tem tinha, e ainda lhe resta tanto de tão bom e belo, serão cegos que não o veem.
Terra, a nossa que as nossas gentes cultivam, , os campos os nossos , oliveiras nossas deste nosso azeite desta nossa boa comida parte desta nossa cultura.
Lavei meeus olhos em todos esses sitios que falas, ainda este Verão por lá andei... alguns ainda tão belos.
Não esqueçe o Alentejo quem lá banhou os olhos e realmente o soube apreciar, desde as gentes, à imensidão das paisagens, aos sabores.

Sabes minha roseira brava amo todo este país mas o Alentejo é onde a paz me invade.

O pulo do lobo... misterioso.
A bela Serpa e o melhor quijo do mundo para mim.
As assustadoramente intrigantes minas em Minas de São Domingos.
Os cromeleques, a simbologia, a magia que é universal mas esta era nossa.
As fadas, as bruxas, que correm, dançam, praticam rituais, e mazem mezinhas em caldeirões de ferro e barro. Há-as por todo o lado mas estas são da nossa terra. São encantadas e são nossas.
Queremos partilha-las mas não queremos vende-las.
Queremos que continuem como são ou voltem a ser como eram onde ainda é possivel.
não queremos troca-las por outras queremos estas não é?

Abram lá os olhos e avivem a memória. Sonhem com o Alentejo.

Gosto tanto de ti.

Isabel

Anónimo disse...

Olá, bettips
passo muito rapidamente, só para agradecer as palavras simpáticas que «lá» ficaram, escondidas nos olhares...
Aquele canto, agora, tento mantê-lo no anonimato. Pensei fechar os comentários mas acabei por não o fazer, para o caso de alguém querer pedir alguma informação adicional sobre, por exemplo, as escritoras a que faço referência.
As minhas desculpas, pois, por não publicar os comentários, mas também o meu agradecimento pelos ditos.
Votos de uma boa pascoa (se for de páscoa); um ciberabraço

uivomania disse...

Aparentemente, o objectivo inicial do Alqueva já pouco importa! Isso de fazer agricultura de qualidade, ser autosuficiente em nabos e couves e feijões e morangos... dá muito pouco dinheirinho - aquilo que, dizem, faz o mundo girar -. Parece que dá mais, encher o sítio de relva verdinha bem regada com muito pesticida, livre de bichos, com bolas pequeninas bem branquinhas, motas de àgua, novas oportunidades, novas profissões especializações em apanhar as bolas perdidas por turistas distintos que cruzam os céus a poluir por nunca estarem bem num lugar...
Sim, entregar o Alentejo a agências de viagens, parece ser um negócio rentável... mas não me parece o melhor.