Ouço ao longe o "relato". Pelas gentes ululantes que me cercam e gritam.
Escuso de ver o jogo Portugal-Espanha, como na escola as guerras do livro: que pena tinha dos espanhóis que perdiam sempre. Até virem os Filipes.
Ou o final do jogo.
Ganhar moralmente.
Gritam.
Não pelos subsídios retirados nem pelas filas nos postos médicos (chamados agora centros de saúde).
Não pelo desemprego nem incêndios. Não pela (in)cultura. Não pela desfaçatez governante.
Gritam por uma dúzia de bacanos, re-pagos a peso de ouro, e seus acólitos. Pelo futebol, pela selecção nacional, o que quer que isso signifique. Europeus... pifff.
Não votam por uma selecção de pessoas que defenda o bom carácter, as boas práticas da justiça, a terra amável que temos.
Não senhor. Rugem, uivam e ululam: no tempo do salazarento era permitido: fado, futebol, fátima.
Os três efes que nos deram cabo dos miolos durante décadas.
Futebol como desporto, sim; a competição gera o lucro e os juros dele, o dinheiro gera agiotas.
São profissionais? de quê? da bola? da cortiça? do azeite? das letras? das artes?
Como europeus... pifff.
Talvez pô-los a jogar no Parlamento Europeu. Durão à defesa, dos seus interesses, claro Mao-forever.
Capitalizar o livrinho vermelho. Bola escondida na manga. Reformas que saem das percentagens do país: quentinhos, voltam ao ninho. Serão dignos conselheiro dum estado futuro.
Like a puppet on a string.
Sem cabeça, membros decepados pela gula do lucro.
Sinais contrários.
Mares pouco navegados.
Pela arreata. Lá se vai a bolsa, a coisa "indíce" jones qualquer coisita. O lixo por que nos tomam (a menos que seja para férias, eh eh eh...). Tão amáveis e pacatos somos! E baratos.
Não gosto. Pessoalmente, não: admito quem goste e goze com isso.
Como a procissão das velas.
Mas além de o parecer, deve ser: vertical.
9 comentários:
E que bem que jogaste. Há muito que não "lia" um jogo tão perfeito.
Abraço
tb sinto isso mesmo enquanto oiço o frenesim dos q assistem a esses jogos...
Está perfeito , brilhante , o teu jogo mas poucos gostarão de o ler!
enquanto durou aproveitei para ir passear os ca~es, gozar da tranquilidade da rua onde não se via ninguém e poucos carros circulavam na IC19 (a estrada + movimentada da Europa )
um texto espectacular !
Gostei deste libelo e da afirmação de verticalidade que ele exibe!
Obrigado por no-lo recordares uma vez mais.
Beijinhos,
Senti tantas saudades. Um arrepio infinito. Quase fui tentada a pedir-te um pedacinho do teu último mosaico para que o teu olhar ficasse também um pouco em mim.
Pois!
Espremem-se os países no sumo de 22 pés como se só por isso, o destino fosse uma coisa redonda que acerta na baliza da glória.
Vamos mostrar ao mundo que somos grandes, que marcamos (falando de futebol, ouve-se muito a lusa pátria falar na 2ª pessoa do plural).
Portugal-Espanha,então,soa a ódio alimentado, tribal e teatral.
A mim pedem-me, logo de início, definição na guerra: queres que ganhe a Inglaterra, Espanha ou Portugal?
Ser gente, ter lugar no mundo, é ter preferência. Ninguém pode viver sem estar arrumado num "nós" qualquer: reserva-se o "eu" para as misérias dos outros.
De qualquer forma,agora quando as garras querem prender Espanha, Vicente del Bosque, mandou recados à política. Alguns jogadores também.
Quando se debateu, nas questões de espectáculo, as profissões de desgaste rápido, há uns anos, alguns jogadores defenderam os bailarinos doutros relvados.
Já é qualquer coisa para além do "cá vamos cantando e rindo, levados, levados, sim"...
Beijinhos.
A vida também é feita
de pequenos nadas
a "sociedade do espectáculo" tudo degrada - e o desporto faz parte do "cenário" da alienação e da... passividade...
admiravel tudo - texto e ilustrações.
cumprimentos
Pão e Circo, Betty, desde os romanos a metodologia mantem-se porque, pelos vistos, é eficaz! E assim se vão distraindo os que ainda não acordaram...
Devias ver aqui a terra ao lado em dias 13!
"E a raiva a crescer-nos nos dedos"...
Muito bons este teu texto e imagens.
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