sábado, maio 25, 2013

Sem importância

... de maior, para o dia a dia das cidades e das notícias de tvs.





O Senhor I. é cunhado, ou familiar, de várias pessoas cá da terra. Empregou-se num campo de golf (dos 3 ou 4 que há por aqui, onde raramente se vê alguém!) e assim "arranjou um ordenado". Às 6 da manhã vai às suas cabras, ordenha-as, leva-as a comer nos campos à volta de casa. Logo que sai dos relvados, lá vai ele, de pastor pelos montes.





Ele ou outros, solitários da terra amada.
Todas têm nome:
Branquinha, Algarvia e a filha, a Ruiva, a Remexida e a filha, a Malvarisco, a Toalha e a irmã, a Rapariga, a Cavalinho, a Jardim, Carminha, Salpico - esta anda com dificuldade, manca, teve um "AVC", diz, mas ainda cria os filhos-borregos -, a Zézinha, Ramalhete, Esperta, o Lembrança - é um macho com a alcunha de "Bandido" pois, diz o Senhor I. "ah bandido, já vais com essa..." -, a Canário, Gazela, Vitorina, Pimenta, a Fanny (o ny é meu por causa das leituras "agustinas")...
Os cães guiam-nas ao assobio do dono, ou melhor, salta a pedra da funda das proibições. Todos parecem entender-se!
O Senhor I. tem cinquenta e muitos anos, ex-emigrante "na França, a salto".
Diz que não sabe viver sem elas, que lhe levam o tempo e muitas vezes, o dinheio para a forragem.
Mas afeiçoou-se-lhes.
Que termo belo: afeiçoar! Pessoas e bichos, pedras e terras, num gostar inexplicável, feito de sentimentos dos mais simples. Como dar o leite (das cabras) a uma vizinha que faz queijos. Ou oferecer "uma bebida aos senhores".
Como dar uma flor.
Ou uma palavra amiga.

A gente afeiçoa-se! Fica gravado.

5 comentários:

Justine disse...

Pessoas e bichos, pedras e terras -como seria bom vivermos todos em harmonia!
O teu post é um hino a essa viver-a-sério! Como eu gostaria de conhecer a Zezinha:))))

jrd disse...

Quantos campos de golf vale um rebanho?...
Abraço

Manuel Veiga disse...

a "narrativa do prazer" - de uma vida outra.

e "bandidos" felizes...

Lizzie disse...

Talvez a afeição de toda a gente pelos animais seja uma utopia.

Mas ao menos que não haja malvadez.

Ao menos que não os tratem como espelho das "superiores" vaidades humanas.

Porque eles são o nosso retrato fiél. Nas touradas, nos circos, nas estradas, nas lutas de cães e de galos imigradas, nos leões e tigres fechados em jardins de vivendas, em exposições viradas à perfeição das espécies.

Neste último caso imagina o que será se um dia tudo se inverter:

imagina que os cães poêm a coleira e a trela nos donos, os enchem de penteados e pó de talco e os "passam". E que o juiz é um rafeiro desgraçado sem pedigree nem LOP, filho de pais incógnitos, assim como o meu Zé das Couves.

E que os gatos dão umas gotinhas de Atarax aos donos para ficarem sossegadinhos e estúpidos na montra dos cestos. Ai o que uma das minhas gatas, a Fadista Zarolha, ia adorar "julgar".

Há animais que têm donos perigosos. Pelos vistos não é o caso dessas cabras . Ainda bem!


Abraço.

M. disse...

Adoro aquela do senhor I. sentado no declive do amarelo (e suponho que nem saberá do gosto de Van Gogh) com o pensamento algures.