sábado, setembro 07, 2013
A comoção das coisas inúteis
... que se conhecem há tantos anos!
Comunica-se ao olhar: afinal são estas as recordações que me estão vivas: a cómoda de gavetas de segredo - os poucos "ouros", cartas do avô Antero do outro século escritas a verde, os lencinhos, os sabonetes Patti, um frasco de perfume "Madeiras do Oriente", as meias de vidro - e o único guarda-vestidos: das coisas que amo, nada de importância: de importância, só o que amo.
Restos/rastos de memórias. No guarda-vestidos de vidros verdes da minha avó, um gavetão, pesadíssimo para a minha pouca idade: tinha dentro uma boneca "de Espanha", maior que eu, nunca para brincar, as coisinhas cor de rosa do baptizado, de seda e acolchoadas, oferecidas pela madrinha rica, uma bolsinha de contas verdes e roxas, aro de tartaruga; em cima (e eu de banco sobre um banco, esticada), postais da Grande Guerra, uma escrivaninha portátil pequena, com tinteiros e porta curva de correr, pó e embrulhos-embrulhados de passado.
Nada tinha valor: e tudo era valorizado porque exíguo: o lugar, os pertences, as recordações.
Vou-me agora à procura de fontes.
Que há uma casa só minha que trago comigo, em forma e som de coração,
tal qual Vitrúvio a teria escolhido.
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Casa pais 7.9.13
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4 comentários:
Comovente!
Tantas coisas em comum...
Abraço
Acho que não existem coisas inúteis, Bettips.
Pertencem a um tempo que era outro tempo e fazem ponte para o agora.
Só existem coisas inúteis para quem nunca teve a capacidade para as ler.Ou ter.
Tenho visto deitar tanta História fora que fico com vontade de proteger a utilidade das coisas inúteis. Se fosse historiadora dedicava-me a elas.
Já trouxe um relógio de parede que só dá as horas quando lhe apetece. E as que entende. Podia lá deitar fora um relógio com uma personalidade tão forte, que inventa o seu próprio tempo.
Bjs
Não há coisas inúteis quando elas aquecem os nossos corações...
Como tu aqueceste o meu ao visitar-me. Foi bom encontrar-te.
Afinal estamos aqui.
Um abraço apertado
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