sexta-feira, abril 15, 2016

O alimento da aranha

Não pude deixar de a fotografar. Consegui vê-la enrolando habilmente um outro fio, com o bicho já imóvel:




Apareceu fora da janela da varanda, graciosa e colorida, suspensa por fios quase invisíveis. De vez em quando ia olhá-la, admirando-lhe de perto a estratégia. Era mais pequena que uma unha.
(E como estava off-shore, deixei-a estar uns dias. 
As notícias iam passando de mão em mão. As discussões, as contas deficitárias, a sombra dos medos, os pod(e)res democráticos. A liberdade de imprensa, a oportunidade dela, até a explicação, a evidência quase moral, que lhes davam).
Mas uma aranha:
vendo a velocidade a que se deslocava do centro "de controle", ao prender-se uma mosca ou um mosquito. Não tinha pressa de o comer, diria melhor, sugar, até ao desaparecimento.
De novo, voltava à imobilidade.
E nestas minhas ambivalências de achamentos, pus-me a  pensar quanta gente está próxima da voracidade dos bichos, quantos governos ou governantes, quantos nomes se conhecem e quantos anónimos.
De uma aranha, sendo-o. De uma mosca, apanhada.
(um outro dia, cansei-me do destino e peguei numa vassoura, destruindo a teia e afastando a aranha para "outro quintal").

2 comentários:

Justine disse...

Uma excelente metáfora do nojo que é o comportamento dos ricos deste mundo, a sua ganância, a falta de escrúpulos e de princípios éticos!

Mar Arável disse...

Elas andam por aí
nos efémeros poderes