As propostas do PPP são como (as) pessoas: ideias particulares, ideias fixas, ideias aos molhos. Desta vez, o desafio de ilustrar décadas passadas. Não foi coisa que fosse fácil, eu tropeçando no que, a partir de então, iria definir a vida futura. Nas obrigatórias, e a isso obrigadas, diferenças de comportamento. Não sou pessoa de dizer "que não mudava nada" mas, em lugar público, alguma beleza escolhi.
A gente em tempo de férias, com amigos e filhos. Se reparar em cada um, ou uma, como se espanta a mente com a dispersão das vidas que em tempos foram convergentes!A década do século passado, foi marcada pelas férias com a nossa criança e amigos. Sempre em grupo o fizemos. Foi a época do Algarve, o meu filho dizia, ainda muito pequeno, chegando a S. Marcos da Serra: “Cheira a Algarve”, e cheirava! a alfarrobeiras, a amendoeiras, a laranjais, a estevas, a campos do Sul. Era uma viagem de um dia inteiro, a autoestrada acabava ali adiante, na Vila da Feira. Portanto, ir para o Algarve era uma enorme distância e canseira. Em alguns anos não íamos para tão longe, passávamos alguns dias em S. Pedro de Moel, no Pinhal da Gelfa, em Vigo e Samil.
Lembro desta vez, o Palácio de Estói. Estava fechado ao público. Não sei por que artes, conseguimos que o guarda que tomava conta do espaço nos deixasse percorrê-lo, aos jardins, às fontes e recantos. Um passeio inolvidável. Os meninos e menina divertiram-se, cantaram e correram pelas áleas ajardinadas, notando com curiosidade quando lhes fazíamos observar os pormenores dos azulejos, das estátuas, dos lagos, das árvores e plantas. Em tal profusão que parecia termos entrado no “Paraíso”.
Que sorte tivemos nós! Quem lá for agora, à Pousada, fica a saber que entrará num dos “Small Luxury Hotels of the World”.
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A seguinte, é a ironia, década de 90. Grandes voltas e revoltas. Vejo os caminhos, já passados, as oportunidades, já gastas.
“Entre Palácios” chamarei a esta fotografia: de Buckingham Palace para Kensington Palace, através do Hyde Park. Sua Majestade disse, num discurso famoso à época: “1992 não é um ano para o qual vá olhar com prazer. Acabou por se tornar um annus horribilis.” Eu, que Real-mente nada tenho a ver com a vida dos aristocratas ou realezas, tenho de lhe dar razão. A década dos anos noventa foi um tempo de grandes mudanças e desafios, e a vida nunca mais voltou a ser igual. Valem-me as boas memórias que colho, como lembranças-flores fossem.
À falta de querer ou poder falar de um "hoje" pardacento, domingo de nevoeiro e obrigatoriedade de ficar em casa, resta-me a luminosidade que em tempos tive, sem saber bem quão inestimável.
Não direi como Proust "Em busca do tempo perdido" mas recordo-o com pouca melancolia. Foi tempo leviano. Inconsequente.
2 comentários:
Será por vezes o tempo de cada um leviano e inconsequente? é pergunta que me faço muita vez e não tenho resposta definitiva para ela. No meu caso, parece-me que alguns momentos da minha vida o foram sem que eu, no entanto, tivesse consciência disso ou tê-los-ia vivido e aproveitado de melhor maneira. Mas... parece-me, também no meu caso, que... Pois não tendo eu alternativa outra senão pensá-los depois, já que não posso voltar atrás, talvez me sirvam de enriquecimento humano. Prefiro dar-me este benefício da dúvida, sempre é menos frustrante...
Não julgo que esses anos 80 e 90 tenham sido vividos levianamente. Posso ter-me enganado algumas vezes, não ter respondido tão seriamente como deveria, mas respondi como soube e foram na verdade anos de grande empenho e descoberta (pessoal e profissional). Trabalhei imenso, fui por vezes infeliz, mas, de uma forma geral, vejo-me bem disposta e disponível. E, sobretudo, tenho alguma nostalgia dos projectos a que me atirei de cabeça sem entender nada dos assuntos, por pura carolice; que, por por acaso e muita canseira pessoal, deram lindamente. Tenho grandes e boas memórias das duas décadas.
Já estive em Faro e nunca vi esse palácio. Pena. Sendo hotel de luxo, o mais certo é ver-lhe a fachada, se visível da rua:).
Boa noite, bettips.
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