quarta-feira, setembro 24, 2025

Últimas semanas do PPP Setembro

Escoa-se o mês tão bonito, Setembro dos frutos e cores, no desmaiar do ano comum. 

A imaginação das pessoas que semana a semana nos acompanham, não cessa de me admirar. Com os nomes dos livros, fizeram-se associações e fotos maravilhosas! 

Começamos com regularidade já em 2006... fomos muitos, ficamos nós; e somos sempre surpreendentes, de imaginação, de cortesia, de ideias partilhadas. Um gosto! 

Dia 21 –“Uma noite em Lisboa”, de Erich Maria Remarque, publ. 1962

Apenas recordações de Lisboa, muitos dias e muitas horas. Como se diz a propósito do livro que refiro “terra de todos e de ninguém”, cidade que era o fim ou o início das viagens dos fugitivos da II Guerra Mundial. E porque me parece uma característica de Lisboa tão actual, com os seus fluxos e refluxos de outras guerras ou outros interesses.

Dessa cidade que conheci tarde da vida, apenas de relance e em Outubro de 1968, haveria de juntar mil e uma, muitas mil, imagens. Cuja relação causa/efeito daria um livro de memórias, décadas seguidas. Com amigos e com família. Com museus e ruas, com jardins, com parques, com comidas diferentes, com escadas e vielas: com amor.

Sabia que era branca e azul. Nunca pensei que o meu coração batesse lá, que desde há anos veja o Meteo para saber como está o tempo no lugar dos meus mais queridos. E quase me sinto desterrada aqui: longe de amores maiores. Não posso, pois, ir buscar mais fotografias que me dão tanta saudade...

Dia 28 – “Por quem os sinos dobram” - Ernest Hemingway, publ. 1940

Esta frase da adolescência em que os livros eram, para mim, como o forro do futuro. E um refúgio para dias isolados. O tema do romance, a Guerra Civil Espanhola, refere a citação de um poema de John Donne (1572-1631): “Não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.” A fotografia é da simplicidade da Igreja Matriz de Marmelar. Terra de oliveiras, símbolo de paz.


E surgem as outras, os outros sinos e igrejas, o outro silêncio.

Esta igreja era em Vaqueiros, sobre a alvura das casas,


... e a inquietação das cegonhas 




 


 

Esta entre sobreiros, sem sino, apenas o espaço, em S. Pedro-de-vir-a-corça, Monsanto.

E finalmente, aquela que prefiro pela sua singularidade. Ali na fachada lhe nasceu uma oliveira: em Amareleja 


 
São lugares apaziguadores. E todas guardam segredos e tradições. Quem sou eu para as questionar: apenas lhes rendo homenagem, à beleza e às intenções.

 

quarta-feira, setembro 10, 2025

A 2ª semana do PPP

Continuando com a proposta de "nomes de livros" e o que nos trazem ao pensamento, de lidos, relidos, ou apenas com os títulos aflorando a memória de outras imaginações, a minha proposta para esta semana foi "Memórias de Adriano", de Marguerite Yourcenar, edição da Editora Ulisseia, 1983. O livro que tenho, desde esse mesmo ano, foi traduzido pela notável e inesquecível Maria Lamas.

Curioso verificar, agora, estas pequenas coisas que, com o tempo a passar muito depressa, se tornaram tão longínquas mas ainda tão ou mais importantes. 

O que logo vi nas primeiras páginas e me impressionou foi a pequena introdução em latim, atribuída ao Imperador Adriano (em tradução livre)

Animula vagula, blandula - Pobre alma tão meiguita 

Hospes comesque corporis, - deste corpo sociazita

Quae nunc abibis in loca - que para uns duros lugarzitos,

Pallidula, rigida, nudula, - escuritos, desertitos,

Nec, ut soles, dabis iocos... - sozinha ao presente vás, ai nunca mais voltarás...

Relendo informações, fico ainda mais rendida ao que me prendeu ao livro e à sua autora. De Marguerite Yourcenar (nem o sabia bem) tenho na minha biblioteca 6 dos seus livros! Mas é claramente uma imensidão de factos e não consigo abarcar tantas coisas, tanto trabalho de pesquisa, um passeio entre séculos e séculos de História. O Imperador Adriano reinou entre os anos 117 até 138 d.C.

**** 

Este "Memórias" é um dos meus livros favoritos e tantas vezes andou comigo, para ser relido aos bocados. Sempre me parecia diferente, tenho-o desde 1983. A fotografia que me surgiu é uma metáfora: trata-se de um instantâneo colhido no Fórum Romano, mesmo ao lado das impressionantes ruínas ali expostas. Um pedaço de terra cultivada por um anónimo, quem sabe se encontrará memórias de séculos passados. Do tempo de Adriano.

 

E por acaso, um dos amigos distantes, falou-me há tempos de uma visita à cidade de Tivoli, a cerca de 30 km de Roma, e de lá ir propositadamente para ver a Villa Adriana. O local do palácio, agora em ruínas, que Adriano fez erguer, deve ser um fascínio... Tanto mais que o Imperador era muito viajado (ia ele próprio em missões com os seus exércitos) e se interessava por arquitectura. Foi ainda muito influenciado pela cultura grega.

Contudo, de Roma, do que vi, e de outras recordações do British Museum, me ficou Adriano inscrito para sempre. 

Com o busto da sua mulher à esquerda, a imperatriz Vivia Sabina. Na foto seguinta, à direita.

 


Ao lado, o seu companheiro de amores, tão bonito, Antínoo. Era grego e foi deificado por Adriano após a sua morte prematura.

(Não escreverei mais o meu nome em letras gregas sobre a cera das tabuinhas
Porque estás morto
E contigo morreu o meu projecto de viver a condição divina)
 
Esta foi uma lembrança de alguém que me lê com regularidade: Sophia de Melo Breyner Andersen evocando Adriano (obg. pela referência tão a propósito)  













À lembrança me vieram as imagens, como uma esteira de sulcos e gotas, no rio tumultuoso dos pensamentos.

Escrever é muitas vezes uma aventura! 

 

 

quinta-feira, setembro 04, 2025

Re-começando o PPP depois do Verão

Depois de um (diabo) de mês de calor e incêndios, de sobressaltos, respiramos um pouco e encontramo-nos na (im)paciência de esperar o Outono. A sua delicadeza e os seus tons. 

E voltamos ao nosso encontro semanal: o PPP. Fui eu que iniciei o desafio.

Dia 7 -  “O Miniaturista”, livro de Jessie Burton, publicado em 2014

Já não sei quando li o livro, de que gostei muito. Sei é que fiquei fascinada pela história e soube que foi feita uma série da BBC, a que não consegui aceder. Contudo, foram estas miniaturas que procurei incansavelmente no Rijksmuseum em Amesterdam, em 2016. As “Doll’s House of Petronnella Oortman”, c. 1686-1710.

O Tempo, essa plaina e broca inexoráveis, alisam ou emendam, e perfuram, a Memória. E foi assim, na procura das fotografias a condizer. Tenho muitas, gosto de miniaturas, físicas e em fotografia. Algumas alhures:


 Miniaturas da miniatura!

Nas voltas aos conjuntos de fotos, encontrei mais umas que pertencem às "miniaturas" e foram tiradas há muito tempo, em Barcelona, na Casa Milà, La Pedrera, em Junho de 2007. E nem quero acreditar que foi há 18 anos!

 

Entretanto: 

Livros e pensamentos: li há pouco tempo um belo livro. Chama-se "O Mar", de John Banville, edição ASA de 2006, de quem nunca tinha ouvido falar. Mas encontrar estas coisassoltas é como encontrar amigos desconhecidos e reconhecê-los. As duas citações que apontei que me vieram directas ao coração:

"O passado pulsa dentro de mim como um segundo coração"  e

"Alguém caminhou sobre a minha sepultura. Alguém."

Dedicada a livros e imagens, voltarei em outras semanas.