domingo, outubro 15, 2006

De Ilhas distantes


Um dos poucos amigos a que esta amizade atmosférica - não quero dizer virtual - me levou em meses, disse-me uma coisa linda. Acho que ela merece que a partilhe (e não te importas, tu? lá de longe?), por mim reflecte-me:

"...como se espreita ao longo da nossa rua a ver se vem lá gente, quando acontece irmos à porta ou à janela. Gestos simples, quotidianos, sem relevância alguma, até que decidimos bater na porta ou na janela do outro e perguntar se estão todos bem..."

Obrigada, P., tão longe que somos e tão perto que pensamos. Respondo-te que as "praças" também são aqui. Existimos e se quisermos somos pessoas com rosto e alma.
Se quisermos. Um pequeno poder nosso.
E basta querermos. Os "bilhetes" podem passar-se como fazíamos na escola, por baixo da carteira, fugindo ao mainstream desta prisão de imagens, dos jornais, das notícias. Nós não somos uma percentagem, somos gente. Abrimos a porta das nossas ilusões, mostramos os nossos filhos, a nossa solidão, a nossa maneira de estar e (d)escrever, estendemos os nossos olhos pelo que nos é dado viver de belo e mágico, preferimos, visitamos, dialogamos. Somos corteses, delicados, sofremos o lixo numa rua, a poda de árvores noutra, ficamos tristes com o Outono e atravessamos os rios com névoa, lemos partes de livros que os outros relevam e ... aprendemos. Ficamos entusiasmados com viagens e imagens dos outros. Visitamos casas (hoje andei por uma delas, de uma ponta a outra, cortinas, tapetes, cantos) ... e se nos agrada a luz e a sombra, a palavra e o silêncio, ficamos. Mesmo não sendo todos os dias, passamos pelo sentimento de outros olhares e comovemo-nos. Quando alguém do nosso círculo diz que "vai embora" protestamos... que não, que fique!
Para nos sentarmos aqui. Com um café ou um chá, com os amigos. Boa noite. Deixei-vos o melhor da minha semana, à volta desta mesa comum.

7 comentários:

Teresa Durães disse...

aqui desta minha ilha chamada trabalho (que ainda não fiz) tento habituar-me ao espaço (que não quero mas tem de ser).

Vejo o teu mar e leio as tuas palavras (e sento-me na tua janela) e sinto-me feliz neste momento!

É bom (pelo menos enquanto estou no meu portátil que daqui a pouco terei de largar).

Bom dia para ti!!

Mitsou disse...

Linda a tua descrição!

Enterneceu-me o mimo que me deixaste. O tal "bilhetinho que se passa por baixo da carteira".

A outra casa está fechada mas a saudade levou-me a sentar-me à mesa, como tu tão bem dizes, com uma caixa cheia de singles de vinyl para partilhar com os amigos :)

Obrigada pela tua amizade.
Um beijinho

Bela disse...

As suas palavras e imagens fazem-me sempre sentir bem...Obrigada por as partilhar. :)Bj grande

Anónimo disse...

Leio-a -com que gosto sempre- e hoje fiquei particularmente comovida.
Há quem tenha verdadeiramente o dom de tocar com o que (d)escreve as nossas almas, os nossos corações e a Bet tem-no.

Não vou dizer quem sou mas acho que vai adivinhar. Deixo aqui uma pista: foi a primeira (e nessa altura nao era ainda, pelo menos para mim, bet ;-) que me falou da estrelinha da sorte.
Aproveito para perguntar: era a umadestas a que então se referia?

Um grande abraço

bettips disse...

Claro, veio a humidade dos olhos, algo como se estivessemos a ver em duplicado, bêbados ou emocionados. Julguei que nos tínhamos perdido... sua querida anónima e godparent. Eu sempre fiquei, presa às pedras de calçada portuguesa. Só as procurei na Pr. Carlos Alberto onde andei na escolinha...ah um dia me dá para falar no boletim para os tuberculosos e as reguadas com pêlo de cavalo na palma da mão... parece mal tanto tempo de antena, quero é outros a falar! Sim, é isso, assim, simples e aleatório como o pensamento dos nossos calceteiros há 60 anos(?). E já tinha percebido que o Nuno é um amor! Abr com folhas

Licínia Quitério disse...

Como me revejo nestas tuas reflexões sobre a mesa virtual em que vamos oferecendo e recebendo manjares de amigos que serão de verdade enquanto o quisermos.

Terei pena quando (se) te fores embora.

Beijos.

M. disse...

Outro texto belíssimo.
M (do Palavra Puxa Palavra e do Fotoescrita)