O que se vê nas palavras. O que se pensa das palavras. Fotografando um sentimento, contido num texto escolhido pela nossa hospedeira, excerto do livro "Na Praia de Chesil".
Na semana passada no meu passatempo preferido: e como passei os olhos em algumas... ficam-me aqui.
"(...) Estava a sentir a acção de emoções contraditórias, e precisava de se agarrar ao que em si havia de melhor, os seus pensamentos mais meigos acerca dela, pois de outro modo parecia-lhe que iria sucumbir, ou simplesmente ceder.
... a olhar pela janela, a ver as árvores encolhidas pelo vento, agora escuras e reduzidas a uma mancha contínua de um verde acinzentado. Lá no alto havia uma meia-lua fumarenta, praticamente sem brilho. O som das vagas a desfazerem-se na praia a intervalos regulares interferia com os seus pensamentos, como um botão de súbito comutado, e enchia-o de fadiga; as leis e processos incessantes do mundo físico, da lua e das marés, que em geral pouco interesse lhe despertavam, não eram minimamente alterados pela sua situação. Este facto mais que óbvio era duríssimo. Como podia conviver com eles, sozinho e sem ter quem o apoiasse? E como podia descer e enfrentar Florence na praia, onde suspeitava que ela devia estar?...
... Quando pensava nela, ficava pasmado por ter deixado partir aquela rapariga com o seu violino. (...)
É assim, não fazendo nada, que todo o curso de uma vida pode ser alterado. Na praia de Chesil ele poderia ter chamado Florence, poderia ter ido no seu encalço. (...)
... Em vez disso, permaneceu no frio e no silêncio virtuoso do fim daquele dia de Verão,..."
Na Praia de Chesil, Ian McEwan, Gradiva, Abril 2007
O que me nasceu, de algumas frases e uma grande desorientação introspectiva, do homem que apenas olhou a mulher "até se tornar uma mancha indistinta", desistindo de a ir buscar.
Ancorado nas suas contradições.
7 comentários:
Complementam-se, por isso se "entendem".
Abraço
E depois concluir com qualquer coisa como "a praia de Chesil nunca existiu"...
Linda colecção de imagens :-)
Um beijo.
Difícil escolher, entre tantas fotos belíssimas!
O texto, esse, pode ser muito mais do que o que está escrito...
"o que é verdadeiramente nosso, em nossos braços vem cair" - li algures, não me lembro de quem...
beijo
Gostei deste acrescento enriquecedor.
"(...)Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço. (...)"
Ricardo Reis, Lídia
Desistir, por vezes, é um acto inconsciente de poupar a dor.
Mas não se vive
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