Anda-me por aqui uma fotografia há que tempos, e deverão andar outras, de todos os anos que ultimamente lá se passa e se passeia - e lá (se) me apaixonou a cidade e as vistas.
Vila Real de Santo António, do outro lado, no fim do mapa. Mandada construir em 1774 pelo Marquês de Pombal, é uma beleza mansa, com as suas ruas perpendiculares e simétricas, a sua praça principal esbelta e guardando ainda o cariz dos edifícios primitivos.
(tenho tantas fotografias de VRSA que não dá para escolher, só mesmo à medida que forem surgindo, ou do que me for lembrando...)
No passado, dedicada à pesca e transformação de produtos dela derivados, ainda se vêem os belíssimos portais dos armazéns de pescado e as ruínas das enormes fábricas, bem como casas de fachada Arte Nova com pormenores muito bonitos. Agora, dedicada ao comércio de rua e turismo, enche-se de espanhóis que transportam - sempre - grandes sacos de compras.
A primeira vez que por lá andei e logo que tive acesso à wiki, fui procurar "quem" de uma das estátuas na marginal do Guadiana.
Lutegarda Guimarães de Caires (1879-1935) foi uma poetisa, mulher culta e dedicada às causas sociais, nomeadamente em hospitais de crianças, direitos das mulheres e dos presos. Nasceu em Vila Real de Santo António, embora tivesse vivido a maior parte da sua vida em Lisboa. Um dos seus poemas está escrito na base da estátua e foi a sua transparência de palavras que me chamou a atenção:
"É que não há céu de tal 'spendor
nem rio azul tão belo e prateado,
como o Guadiana, o meu rio encantado
de mansas águas suspirando amor."
Na verdade, através dos anos em que regularmente "a visito", reparo na degradação das palavras escritas e, tinha que ser!, nas pichagens estúpidas que por lá fizeram. Mas o entardecer, a noite, o vaivém das águas do rio, empresta uma magia muito singular à face austera desta mulher de quem nunca tinha ouvido falar.
11 comentários:
Há-de ter sido, além de poeta, uma pessoa boa. Quem não presta afasta-se das causas que D. Lutegarda abraçou.
Pensava que conhecia bem Vila Real de Santo Antónia, afinal enganei-me, desconhecia esta grande Senhora.
Mas em contrapartida conheço bem aquela tasquinha lá ao fundo à beira do rio onde se come um peixe assado delicioso.
A pracinha rodeada de laranjeiras é um encanto!
Abraço
O teu belo texto deu-me vontade de um passeio até esse "fim do mapa", quem sabe quando o verão terminar e a horda de turistas acalme…
Assim a minha disponibilidade chegue para me pôr a caminho!
Abracinho
É bom conhecer outras histórias!
digam não à exploração e lítio na serra de Arga!
Quem é o autor da escultura de Lutegarda?
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