A infância apenas foi feliz em momentos da imaginação que, mais que a realidade, sempre me acompanhou.
A capacidade de fugir para os meus mundos e tantos sonhos que ficaram pelo caminho.
Casinhas de bonecas só inventadas: lembro-me de me esticar em bicos de pés nas montras de dois bazares, em Cedofeita e nos Clérigos.
Recuperar o gosto e retê-las, lá fora, em ambientes distantes.
Fazia muitas bolas de sabão. Era fácil, barato. Com os canudos de cartão das linhas para soprar. Ficava de molho a mistura de água e sabão; e quanto mais esperava mais cores fazia. Descobria assim coisas químicas ou físicas em experiências.
Hoje, na realidade:
os dois braços, os quatro; as duas mãos, as quatro. A imaginação. Nada evita que se viva numa bolha, num etéreo dia após dia, a ponto de sabermos
que rebenta
e apenas será um pingo de água neste oceanos das vidas todas.
4 comentários:
Uma escrita cinco estrelas!
A casinha de bonecas é sua? Não a primeira, mas a outra. Adorei aquelas cadeirinhas da sala de jantar. Tanta coisa linda, mas parecem exclusivas. MARAVILHA!
Na minha infância não houve casinhas de bonecas, é que nem sabia que existiam e portanto, saudade ou desejo não houve.
Mas as nossas bolhas de sabão, feitas disso mesmo e sopradas por uma palhinha que arrancávamos nos pastos, eram muito preferíveis a essas enormes e múltiplas, isto porque já não estão carregadas do esforço da preparação e do despique que fazíamos uns com os outros.
Neste momento é mais ou menos indiscutível e preferível viver numa bolha. Mas não é a mesma coisa. Pois não.
A imaginação é o refúgio das crianças, e tem muitas vezes de ser também o refúgio dos adultos, a bola de sabão cheia de colorido onde nos refugiamos, onde construimos um mundo paralelo, só nosso!
Na minha infância não houve montras mas houve muitas bolas de sabão que os meus netos continuam a fazer!
Abraço
Enviar um comentário