segunda-feira, junho 28, 2021

Da Memória de Silves antes de 2014

***

Mas um dia (talvez) hei-de escrever sobre SILVES, a velha moura, a cor de sangue seco, a telha-a-centelha - ainda o castelo arruinado - ah! como a (re)conhecia ao longe, passando S. Marcos da Serra, pelo cheiro de amêndoa e figo, pelas cores tornando-se quentes, e pelos laranjais.

(É quase impossível ver os meus apontamentos variados - esta era uma mensagem antiga para "um conhecido" sobre o Algarve que eu lembrava dos anos 80 - sem que me venha à memória dos olhos os passeios avulso. Falávamos de Portimão, das curiosidades à volta, Estombar, Lagoa, Mexilhoeira. E Silves, dos imensos pomares e pedras vermelhas.).

*** 

Isto há mais de 30 anos. Antes dos turismos das habitações e parques de lazer. Lazer era subir e descobrir o poço dos mouros, lazer era procurar a gruta do poeta árabe Ibn Ammar (1031-1086) onde nada o indicava, mais uns túmulos esquecidos numa estrada interior que dizia "Vende Porcos". Lazer era sentir o hálito quente das paredes...

Lazer era virar as costas nos restaurantes ou esplanadas, orgulhosos e ofendidos por nos tratarem "de estrangeiros", com as ementas "para inglês ver".

Lazer era eu sonhar ao passar por duas ruínas na paisagem, que as uniria com uma galeria de vidro, para ver terra e mar sempre.
Acordar muito cedo para ir a correr ver o peixe/as sardinhas a chegar a Portimão, do lado onde agora paira uma rica marina e certamente um passeio marítimo, com estátuas, alcatroado, para basbaque exercitar as pernas, correr de sapatilhas...
Sei lá, nunca vi. Deixei de lá ir.
Via mas era as gaivotas de asas largas, que se despediam dos barcos que saíam o porto, e os saudavam, mais barulhentas, à chegada.

Vivo com um pé no passado, (só) gosto do futuro quando olho para os portos, os aviões e os comboios. Que os meus se mantenham, de bem com a vida, que eu estou já de costas na paisagem.

Passando por Silves depois, em 2014, um desvio pequeno mas desejado, e a propósito destes textos antigos.






 











Décadas e lembranças. Basta um reflexo e as palavras levantam-se, imponderáveis e de formas estranhas, como as nuvens no horizonte.

 


 

3 comentários:

bea disse...

Nunca estive em Silves. E mais que as fotos - a si dirão muito -, desvaneci nas palavras que, como laços cetinosos me enlearam pés e mãos. Tem dias assim, os seus textos são uma plenitude e o que escreve tem um quê que bole connosco e nos pára a meio do caminho.

M. disse...

Adorei o teu discorrer. E as fotografias estão com uma luz belíssima.
Em Silves estive uma vez, já lá vão muitos anos, e lembro o vermelho, sim, lembro.

Justine disse...

Tanta nostalgia, minha amiga...