quinta-feira, julho 13, 2023

PPP em Julho 2023 - Amarelo

Da escolha para a 2ª semana deste mês, ocorreram-me ideias mas também lembranças.

Acrescento: surgiu-me, de repente, a primeira vez que falei nesta cor! Era muito pequena, ia com um casal amigo e os dois filhos, de boleia, para algum acampamento. Como enjoava sempre que andava de carro, disse "estou a sentir-me amarela" e todos acharam muita graça. Décadas mais tarde, o Fafico, filho mais novo, repetiu esse dito quando nos encontrámos, no café do meu antigo emprego!

Uma avó da família que desapareceu há mais de 40 anos e que gostava de "amarelo". Quando foi nova, sendo que maioritariamente a época era tristemente cinzenta e preta, gostar dessa cor era (quase) uma transgressão. E ela foi transgressora na sua vida, da aldeia para a cidade. A mim divertia-me ver os apontamentos incomuns e as histórias que outros contavam como extravagância.

Uma amiga antiga, a F.,: tanto gostava do amarelo que, no seu casamento no início dos anos 70, foi vestida dessa cor. Numa igreja de Miragaia, tradicional, imagina-se a contravenção. 

Uma amiga "moderna", a M., sempre disse gostar do amarelo.

Isto e Van Gogh que tanto aprecio nas suas cores torturadas e recorrentes, fizeram-me voltar à ideia da primeira vez que estive em frente de um dos 7 quadros do pintor "Os Girassóis" (Arles, 1888), na National Gallery: as lágrimas vieram-me aos olhos. Quem me acompanhava nessa ocasião, a L., ficou admirada e perguntou-me porquê. "Porque... porque... é um quadro de que via reproduções há muito tempo. E agora estou aqui a vê-lo ao perto, tão vivo... tão pequeno!". 

Se não respondi assim exactamente, era o que pensava.



Lembrei Klimt e os seus amarelos e dourados que tanto me encantam. Mas não escolhi muito, surgiram-me ao acaso estas imagens. Contrariando a ideia de "Felicidade" que é subjacente a esta cor, escolhi o sinal de "perigo", na praia


Há inúmeras frases, imagens, músicas do meu antigamente, que me surgem em associações inopinadas sobre os mais diversos motivos. Neste caso foi “O Perigo é a Minha Profissão” e fui encontrar na memória um livro policial com este nome. Daí sai-me a bandeira amarela, num dia de mar muito bravo e vento desabrido.

Sem propósito, apareceu-me esta frase, hoje:"A espécie de felicidade de que preciso não é fazer o que quero, mas não fazer o que não quero.", Jean-Jacques Rousseau, 1712-1778. Quanta verdade e que observação antiga!

Associações diversas que tanto têm a ver, para mim, com "este tempo e este modo"

 

 

3 comentários:

M. disse...

Gostei de todas as tuas escolhas em imagens e palavras a propósito.

Justine disse...

O teu texto é um fluir de pensamentos, recordações, vivências, emoções. Muito interessante!

bea disse...

É um gosto assistir a estes seus devaneios sobre a cor. Saltita de lembrança em lembrança, de foto em foto. Mas são saltinhos de bailarina, salta com arte. Limito as minhas lágrimas aos filmes e até ali são agora mais moderadas. O que ainda me acontece - um bocado parvamente, diga-se -, é haver atitudes bonitas de pessoas amigas ou que conheço bem e me comovem, sinto uma aguinha nos olhos e a voz embargada. Gosto bastante de amarelo. No meu casamento queria ter tido um bouquet de malmequeres brancos com olho amarelo, mas, como só me lembrei do ramo "à própria da hora", foram rosas amarelas, a florista não tinha lírios nem outra flor amarela. Mas isto sou eu que não venho ao caso.
Bom fim de semana, bettips