domingo, abril 26, 2020

Dia de Ironia

Hoje deu-me para olhar as prateleiras "à mão" que se foram enchendo nestes dias solitários e interrogativos.
Chamo-lhes, aos preços todos juntos dos medicamentos vários (e não estão todos!):

JANTAR ROMÂNTICO A DOIS

Ou seja: nada!
Apenas o que se gastou, em gotas variadas, pomadas, unguentos..., máscaras, álcool, desinfectantes: mais de 80 Euros!
Além de fazer "os trabalhos de casa", a pagar a quem não os pode fazer. 
O que daria para uma pernoita em hotel de luxo médio,
far from the madding crowd

Em contrapartida, desenhei e pintei histórias para a minha menina-longe.
Resta-nos saber que, até agora e com intenso confinamento, não se apanhou o bicho que não é bicho.
Previsões para abraços, pés e olhares soltos? Nenhumas.

terça-feira, abril 21, 2020

Pessoas que não conheço de lado nenhum

Sobre as carrinhas-biblioteca da Gulbenkian:
Na cidade não havia mas sei que existiam. A Gulbenkian sabia que a cultura era uma raiz que prende e alarga. Aos 7/8 anos, guardavam-me às tardes, na Biblioteca Municipal, nas férias, com ordens para ali ficar até o meu pai me ir buscar. Lembro-me bem do arrulho dos pombos rompendo um silêncio de pó no pátio sombrio. E eu que gostava muito de ler e não tinha livros, pedi pela primeira vez um livro: "De Angola à Contra-costa" convencida que ia ler aventuras na selva! Os livros têm muitas histórias e pessoas, dentro e fora: uma vez conheci alguém que comprou metro e meio de lombadas de livros para enfeitar a estante.
Sou uma intelectualóide ambulante e tipo esponja, detesto lugares comuns e intrigas de faca e alguidar. Daí que a maior parte das séries ou filmes anunciados me passam ao lado. Livros releio: ando a ler por ex. a Isabel Allende que li há 30 anos e sinto diferença. Quanto a doc. de viagens, mares, gente interessante e longitudes, essas vejo-as todas. Às horas do telejornal.

 ***
Anos 80, exposição Casa de Serralves



Uma oferta para "bettips" há muito tempo

Uma viagem a Foz Côa quando não havia museu



O Tua que não se verá

As indecifráveis portas do mundo de H. Bösch
... e as minhas


As flores de uma casa perto do mar



Tão antiga que nem sei a data...
E talvez por isso, pela diversidade de pensamentos que me enche, me dá para responder, educadamente, às pessoas que nem conheço, como se falasse para um poço ou um desfiladeiro com água a correr lá baixo. Com as antiguidades do meu disco externo.

domingo, abril 19, 2020

Cruzamentos e amarras

Cuido-me mas não arrumo. Limpo apenas o que está, vou-me governando no razoável. Tenho pena dos meus últimos anos serem assim com tantas restrições. Especialmente não estar com o meu filho e família, pouca mas inestimável, e sem poder ir "para a Natureza" Há quase 2 meses que não saio a pé de casa mas mantenho-me informada. Filmes, séries também, inglesas sempre, europeias às vezes. Sei que há gente que morreu, que morre, que trabalha em condições precárias e perigosas. Sempre. Hoje vêem-se mais. É uma doença a (con)dizer com a "democracia" e os filmes de terror. Lembro-me de caridade e esperança. Fé tenho pouca. Oxalá é a palavra em que mais penso. Notícias de doenças são terríveis, cada um lida à sua maneira. Uma "rapariga da minha idade" morreu no dia 2 de Março. Viver a prazo é doloroso. Luís Sepúlveda deve tê-lo sabido na pele e nos ossos, e naquela cabeça digna.
A morte não serve a ninguém e este medo só esboroa o que tínhamos antes. Este lugar estranho em que se tornou o mundo, estas redes, cruzam-nos a esperança e a alegria de viver com interrogações de "como".
***
Um comentário dos milhares que por aqui e ali deixo.
Confinamentos.




Quantos quilómetros de minutos faltarão para ver de novo o Alentejo?

sexta-feira, abril 17, 2020

Espremedor, laranjas e desafios

Para não perder as escolhas desta semana no PPP. Porque sempre ando pelas minhas fotos antigas até decidir... Sobre "espremedor" algumas propostas dos "concorrentes" são bem originais.
A minha foi esta, um lugar ao Sul, onde até o nome é bonito:

Às vezes nem sei o que me dá para tirar fotografias destas, uma mesa ao sol e um limão!
Um hábito bom, desde há uns anos: comer uma laranja de manhã.

Esperando que tudo isto, e o entretimento dos nossos amigos, nos ajude neste tempo tão difícil.


segunda-feira, abril 06, 2020

As notícias e os pensamentos - de longe

Todos nós, e todos os meus, família, amigos, conhecidos, estamos hoje confinados ao essencial. Pouco. Em casa o mais possível.
Antes de e enquanto.
Estava eu na praia, tentando curar ao sol e ao ar o desamparo de ter ficado sem emprego, quando um casal sentado perto de mim que tinha um rádio, fez menção de me chamar. Era o 11 de Setembro de 2001, o tenebroso ataque ao coração financeiro da cidade de Nova York. E nunca mais nada foi como dantes.
Recordo o horror, o pânico e a dor. Recordo as medidas restritivas de movimentos, as suspeitas, os aeroportos e a vigilância, as vezes em que cada um e todos olhámos desconfiadamente para a "diferença".
O que se seguiu depois não tem explicação, a não ser a de um mundo em roda livre, em que ricos e poderosos, políticos e gente de meia-tigela, extremistas e oportunistas, jogaram o xadrez entre si, deixando o velho jogo da bisca lambida para nós.
Em 2008, o descalabro económico de operações financeiras obscuras que prejudicaram tanta gente. Essas décadas (e outras anteriores que já prenunciavam o desastre dos povos divididos) marcadas por morte, guerras, fugas, conflitos, fome, miséria e poluição.
O apertado laço das liberdades apertou-se mais.
LIBERDADE não é apenas a de falar, a de votar - e tudo isso em bando/molho de direitos e deveres - a que chamam democracia.
LIBERDADE É PODER VIVER EM PAZ E SEGURANÇA.
Tudo que se passa hoje no mundo, tão total que é aqui mesmo na rua, lá adiante e a mil quilómetros de distância ou do outro lado do globo, nos assusta, nos desorienta.
Nos amargura.
Aquilo que o terrorismo não tinha conseguido globalmente, surgiu como nos filmes de ficção de horror: aconteceu com um vírus. Uma contaminação que se propaga pelo mundo. Todo. Ninguém está a salvo mas onde os velhos e os mais pobres são mais vulneráveis.

Não tenho palavras de ânimo.
Apenas receio pelo que nos resta do viver. E uma saudade intensa dos meus e do Alentejo.