domingo, dezembro 31, 2006

Desejo







Que se vistam as crianças com a seda do nosso amor, as pedras preciosas da nossa paciência e alegria. Bordada a ouro a gentileza que lhes transmitimos.
Para nós, medos que se distanciem, estátuas antigas que se esvaiam na paisagem. Ter força para virar costas e continuar pelo caminho do sol.
(Penso melhor à noite e esta noite choca-me sempre).
Mensagem a um amigo e seus filhos pequenos, rodeados pela Beleza e Arte.

Foi o que pensei para muitos de vós.

Do amor



Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel, lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!

(Líricas de Luís de Camões)

Continuo a seguir palavras pedras polidas.
Para que amor antigo se memorize todos os anos e ainda na esperança do que virá.

Em desejo de Ano Novo.
Por gostar daríamos mais. Uns aos outros.
Por amar seríamos melhores. Uns para os outros.
Então, que se cumpra o amor, não como coisa acontecida mas como conquista.
Com a tenacidade de Jacob.
De cada um para aqueles com quem vivemos, convivemos.
E o merecem.
Este é um meio como outro qualquer. Aliás, este é um meio melhor pois não temos nem rosto nem religião nem pátria.
Só as palavras que espalhamos, imensas palavras e imagens trocadas porque queremos.

Sejam estas as paisagens do nosso sentir: lindas e fertéis. Como a Natureza.








sexta-feira, dezembro 29, 2006

Bateram-me à porta




















Sim, várias vezes, daquelas pessoas a quem a gente não pode "mandar dizer que não está".
Doces toques. Esperançosos. Setas de índios amigos - e eu Touro Sentado!
Ontem estive horas a ouvir a música de uma amiga "de virtudes" (que aqui não há defeitos).
Há décadas que não ouvia o concerto de Aranjuez cantado. Cantado pela voz melodiosa de Richard Anthony (só para mais de 45 anos!), um rapaz francês do meu tempo. E só de cantar em francês a gente gostava: c'était le temps de l'amour, le temps des copains et de l'aventure... (aprendi mais francês e inglês a cantar e a apontar as letras, a descobrir o que a censura "arredondava" nos filmes, do que nas aulas respectivas - a verdade é que ainda não sabia inglês e já cantava, de ouvido, "The Green Leaves of Summer"...).
Foi um dos "noc, noc" na portada fechada, janela/face crua do Inverno.
Respondi assim ou mais ou menos:

"Não estou de férias - estou muito de molho, em banho-maria, entre dois fogos (eu/sim, eu/não), no cabo do medo, às vezes. No cabo do mundo que imagino. Na península de Kamchatka, na ilha da Páscoa, fugindo ao Natal e cortejo... Somos quase da mesma idade, não do riso. Há manias, eu tenho a mania de gostar de coisas sugeridas, onde descubro mil pistas familiares, da matilha, da manada, do bando, do cardume.
Fazemos uma rodinha "bom barqueiro, bom barqueiro, deixai-me passar ..."
Quem sabe se a gente se vê, ou escreve, ou vislumbra, ou ajuda? Quem sabe se a gente se sabe?"
...e fartei-me de ouvir "Mon amour...où le vent nous améne, mon amour" (a gatinha julgava que era disco riscado, portanto dormia).
E cantei, até... (aí a Kitty olhou-me estranhamente: a dona passou-se de vez com o Natal, as tralhas, as conversas de toucador).

Hoje, tlim, tlim. Olha quem ela é!!! Mensagens, saudades, sorrisos de Gioconda (enigmáticos), acenos e muitas, muitas, mesmo muitas, ideias repartidas. Ou seja, de repente reparo em tantas trivialidades semelhantes, ou quer dizer: gente que tem opiniões que eu partilho. Mesmo sobre coisas ou sítios que não conheço, estou de acordo, pronto!

Confesso que vou a posts anteriores. Quando alguém cujas palavras, fotos, poemas, me atrai. Passo pela casa, silenciosa, com pés de algodão, e penso "aqui gosto de estar". Quando comento, normalmente a observação sai-me de jacto, da vontade, da simpatia/empatia, da sensação solidária de dores e alegrias acumuladas. Pelo coração e a estética. Quando me dá para comentar, vou por aí fora, paro aqui e ali, dando algo de mim, muito sincero, que é o meu pensamento não forçado.
Há um amigo raiano. Penso nele porque acarinha a terra onde vive. Mostra-a e disserta sobre a solidão do interior. Há mais de um ano, tive o gosto de andar por ali. Inesperadamente, descobri mais um canto de sonho deste país que poucos merecem ou conhecem (refiro-me aos poderes instalados, à Lisboa centralista, aos pirosos de soalhos em jotobá e jacuzzi que o empreiteiro lhes impingiu). Atenção que eu gosto de coisas boas e bonitas mas se me dessem a escolher entre um pomar com casa de caseiro e um loft nas Amoreiras ...eu ia para o monte!

Deixo então as extensões pinceladas pelo sol. Um sol diferente do litoral, um sol-terra, mais perto de nós. Os fosséis marinhos que descobrimos em pedras milenares. Duas senhoras que não sabiam a idade ao certo e com quem me sentei a falar de namorados e vidas duras. Casas viradas ao pôr do sol, descendo pelo monte como meninas alegres, entre figueiras bravas e muros baixos.
Será um passeio que ainda darei mais vezes, por aqui. Infelizmente, não tinha máquina digital e quase tirei um rolo por dia...
A seguir falar-vos-ei do "amor", outra vez. Porque vi pastores, gente humilde com cântaros à cabeça. As suas saudações eram alegres e os seus risos brilhavam tanto como estrelas ou diamantes. Parecia amor pela vida.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Séculos


*

Nem cá nem lá.
Há uma terra de ninguém (dizia-se nas guerras (antes dos mísseis)).
Onde não cabem esperanças,
intervalo sem luzes.
Dos dois lados, inimigos, desconhecidos, bandeiras.
Observo, só. Tudo parece imutável e monótono. Espanto-me sempre. Falta uma criança a rir.
Por estas alturas, tenho ficado doente. Não só stress de final do ano. Dezembros perturbantes, gentes esquecidas, guerreiros de Qin Shi Huang *.
Mas as imagens existem, do lado do cérebro onde se guardam as memórias.
Fuga para a paisagem de Verão.
Ir ao sol, ao horizonte não convidado. Que longe as sementes, que longe as espigas.

* Guerreiros de terracota, cidade de Xi'an, imagem da net.

sábado, dezembro 02, 2006

São rosas, meu Senhor ...


De fuga à regra: fotografias para mim, são como as cerejas!

Achei graça a ter pensado o mesmo que L. e não resisti ao gozo de pousar aqui as flores que também escolheria...
Então, leva-as L.

Maravilha




A M. e os seus amigos desafiam as cabecinhas ( http://outrostemas.blogspot.com), as imaginações, as brincadeiras, as sensibiliddes, as trocas, as inteligências, as saudades. Muito se tem aprendido por ali, do "eu" e do outro, dos olhos eles próprios, dos gostos particulares.
Um percurso que tem dado gosto, pelo que vejo, a todos nós. Já disse, ou comentei algures, que me sentia um pouco angustiada por estas centenas de fotos e ideias, e até comentários, ficarem em "virtual". Se ninguém tiver outra ideia.
Não falo de obras de arte - embora muitas o sejam, acho - mas de formas de ver e interpretar o mundo que nos rodeia, duma forma directa. Pessoal e poética, sempre.

Na semana passada, a palavra foi Maravilha e confesso que fiquei atrapalhada comigo mesma! Fui eu que a escolhi, sem qualquer ideia de tantas (e tão poucas) maravilhas. Contudo e muito naturalmente, as propostas foram diversas e entusiasmantes.

Estou em fase de regressão "natalista", por esta época que se tornou demasiado publicitada e consumista. Farei e gastarei o mínimo.
Pelo que desejo desde agora:
BOM NATAL - UM ANO NOVO FELIZ. Também agradeço. E acabou-se o tempo de antena.

Mas e por causa da Maravilha e suas declinações,
concluí
que "Maravilha" é sempre que uma pessoa quiser!

Para esta minha, gostaria de muito espaço, muita luz, muita doçura. Tanto como a estátua:
"O Beijo", Museu Rodin, Paris (a partir de fotos antigas)
O mármore é morno. A sensação de estar ali é maravilhosa. Tudo é.