terça-feira, março 31, 2009

Opinião




Disse-me um rapaz de Lisboa, por causa dos incêndios e, bem o sabemos nós, outras canalhices:

... para os vorazes e estúpidos o raciocínio é simples: "que interessa isso se nós não perdemos tempo a amar o belo ou a congeminar sobre efeitos devastadores na natureza (e no homem) em futuros que não viveremos? A nós o que interessa é o presente e o mais faustoso possível".

Então eu também cogitei como ele: e não se pode exterminá-los?


terça-feira, março 24, 2009

Gerês e outros fogos









Apenas a estupidez e a voracidade dos homens,
o desplante, o desplaneamento (quero lá saber do acordo e do dicionário),
o desprezo.
Apenas as árvores que estavam de pé.

Apenas as pequenas coisas que se amam há muito, apenas a estupefacção do lume,
apenas os nossos olhos vidrados e impotentes.
Apenas a revolta.

Assistiremos aos plenários, às madeiras exóticas, às tecnologias que dominam os podres nos parlamentos. Assistiremos à falta das palavras úteis, das acções úteis.
Que fazer quando não se é conivente e tanto verde e tanta esperança perdemos?

Porque me lembrei muito dele, do nosso Parque "Nacional", repeti fotos de há anos!

terça-feira, março 17, 2009

Três velhas Graças








Ao contrário das "outras" amigas que me fazem nostálgica, estas três senhoras falando em aldeia, fizeram-me sorrir de ternura.
Andam de preto, com cuidado das pedras soltas nos caminhos soltos.
A apressada Primavera trouxe gente e animais para a rua.
Todos dizem bons-dias e esse plural enche-nos as horas até ao anoitecer. Dias dilatados, dias bons!

Lembrei-me que também tinham chegado as andorinhas às terras quentes de Trás-os-Montes.
Que o tempo proteja e conserve este afã de comunicar por vôos e palavras.

quinta-feira, março 12, 2009

Vento






Da palavra desta semana no PPP, veio-me à ideia uma "pequena coisa" que relevei das minhas deambulações. No propósito de Vento e porque o tinha lido algures: na altura e no lugar, achei a explicação interessante e quase visualizei a curvatura dele na baía de águas azúis.

A Duna de Bolonia é um Monumento Natural (dizem nuestros hermanos) e uma formação geológica viva. Trata-se dum sistema arenoso costeiro que pode alcançar os 30 metros de altura, alimentando-se das areias trazidas pelo vento do Levante (África fica em frente!). A mão humana tenta dominar esta formação com canaviais e pinheiros; contudo a parte mais exposta ao vento permanece mutável.

(as fotos foram tiradas de longe que, entretanto, havia imensas "pedras" e artefactos antigos para ver!)

domingo, março 08, 2009

8 de Março 2009


Dia Internacional da Mulher.

E para que não acabe o DIA delas.

Sem as flores da côr que lhes destinaram.
(e por isso lembrei Maria Helena Vieira da Silva, as Três Graças
e tantas outras meninas-Mulheres que guardo no coração).

Coisas de Mulheres - "As Três Graças"






Conheceram-se adolescentes, rindo e chorando pelos mesmos bens e males do coração.
Partilharam as horas, as mesas, os livros e os caminhos, os medos.
Namoraram em simultâneo, usaram bikinis no tempo em que os pais não podiam saber, escreveram-se de perto e de longe.
Compravam tantas vezes roupas iguais, variavam as preferências das cores.
Sofreram e divertiram-se.
Era impossível não as associar juntas: as três emitiam - e tinham - um círculo de identidade mágica.
Chegaram a casar - ou a juntar-se com os seus homens - em caminhos de evolução e revolução;
e a pegar nos primeiros filhos umas das outras ao colinho.
Souberam-se durante muito tempo.
***
Com as décadas e os interesses, escolheram céus diversos. Não se quiseram guardar das diferenças maduras, enevoaram-se as estrelas que as distinguiam.
A constelação perdeu-se.
***
Junca mais se viram, nunca mais falaram, as três preciosas graças.

sexta-feira, março 06, 2009

A Pintura - A Pintora









Citação de Maria Helena Vieira da Silva:
"Procuro pintar algo dos espaços, dos ritmos, dos movimentos das coisas."

Amplamente reconhecida e premiada em França, Helena seguiu, de longe e sempre, o sentimento da pátria sua. Após o 25 de Abril, fez dois cartazes sobre a Revolução que a Fundação Calouste Gulbenkian editou.

A Fundação Árpád Szénes-Vieira da Silva foi criada em seu nome, em 1990, num edifício da antiga Fábrica das Sedas, no Jardim das Amoreiras.
Um lugar preservado e de acordo com estas figuras míticas, do amor e da arte.
Em quatro dos seus últimos quadros "A luta com o Anjo" (1992), Maria Helena Vieira da Silva encontra a luz que tanto procurou nos seus labirintos.
Uma mulher com uma certeza espiritual.
Morre em Paris, em 6 de Março de 1992.

A Pintora - A Pintura







Mais uma das "nossas" mulheres a quem o país falhou.
Cheia de graça e de talento.

Em qualquer enciclopédia se encontram os trilhos desta pintora portuguesa, a quem o estado novo - que até nem me apetece escrever com letra "grande" - negou a identidade.
Em 1940, um quadro de Lisboa que executou para a Exposição do Mundo Português, foi recusado.
Em plenos tempos de cólera e guerra, ela e o seu amado marido Árpád Szénes que viviam em Paris, mudam-se para o Rio de Janeiro, visto que em Portugal não os deixam permanecer.
Árpád era pintor, húngaro, judeu e o regime de Salazar ainda lhe acrescentou a suspeita de ser comunista.
Desse tempo e sob a influência da guerra, Helena tem um desenho chamado "Tinha a Cabeça Cheia destas Ideias Tristes".

quinta-feira, março 05, 2009

Camélias e lugares V










A Quinta Villar d'Allen subsiste ainda nas mãos da família, que transformou uma parte do terreno num viveiro de produção de plantas ornamentais de exterior.
Como forma de rentabilizar um espaço maravilhoso ... que não se vive de sonhos!
E muito menos neste velho país; que apoia acções de cimento e alcatrão muito mais que a terra.

Deixo os caminhos com habitual nostalgia, trazendo os olhos e as mãos cheios de camélias.
No coração da casa as conservo durante uma semana.
Não só as pessoas e os bichos: há muitos sítios afectuosos para onde o meu gosto se orienta.
Onde viveria feliz.
Aqui o quis dizer.