sábado, junho 23, 2007

Uma passagem




Farei um arco de vida. Não arco de Triunfo mas arco de passagem para o outro lado.
O lado de hoje, o da pausa mais descansada.

Andar por ruas compridas, em frente a um mar interior, um passeio litoral e imenso que terá de me levar mais longe. Longe de mim e dos cruzamentos que me obrigo a fazer.
...

"Dera-me oportunidade de viajar um bocado - mostrar o que valia. Não, de trabalhar não gosto. Prefiro ser calaceiro e pensar em todas as coisas belas que poderia executar. De trabalhar não gosto - nenhum homem gosta - embora goste daquilo que o trabalho dá - a oportunidade de nos descobrirmos. Refiro-me à nossa própria realidade - para nós e para os outros - que mais ninguém pode conhecer. Porque eles vêem apenas o espectáculo sem nunca estarem certos do que realmente significa"

...

"Vivemos como sonhamos - sozinhos"
...

Joseph Conrad (1857-1924) no livro "O Coração das Trevas", donde Francis Ford Coppola se inspirou para o argumento de Apocalypse Now, na sua parte mais inquietante, ou seja o encontro em plena selva com o Coronel Kurtz.

Voltarei um dia destes, um dia meu, duma viagem de ciclo ou círculo.

quinta-feira, junho 21, 2007

Enfim, linhas e livros III








Uma parte importante da minha formação, foi vivida durante a ditadura de Salazar. E é essa miséria cultural e cívica que mais recordo e temo. E tremo, analogias.

De seguida a uma lavagem cerebral pela televisão e vários ganhos publicitários depois, a personagem ficou como paradigma das raízes podres ainda por expurgar das terras mentais e outras. Isto penso exactamente assim.

Há décadas de atraso que nos estão a custar a ultrapassar: nós, os mais velhos, não teremos tempo suficiente para acreditar e viver plenamente"nesta" democracia. Resta-nos falar dela, escalpelizá-la aos que nos seguirão, como uma meta sempre a atingir, mais e melhor.

Com um grupo na "Rota das Árvores Monumentais - Da Cordoaria ao Jardins do Palácio" (voltarei com essas amigas...), acabamos por passar na Feira do Livro e foi esta exposição sobre a Censura que me fez recordar a mesquinha e provinciana cultura desse tempo, infinito e cego. Embora a Igreja sempre o tivesse feito em nome da santidade, estes seres faziam-no em nome da "estupidez" que queriam preservar.
Daí o "Arrepio" no PPP passado.

Os livros circulavam boca a boca, mão a mão. Os que aqui se vêem na lista de Jorge Amado foram emprestados ao meu pai e assim os li todos.
Imagino o "triunfo dos porcos" quando liam e delapidavam a palavra, o livro.
Esteiros, Quando os Lobos Uivam, Deus lhe Pague, O Convento Desmascarado, Felizmente há Luar, O Canto e as Armas, A Selva, A Náusea... os que de repente me ocorrem.

Enredei-me em nojo porque fiz um intervalo para relembrar títulos de há 40/50 anos na Wikipédia. Donde relevo que em cinco séculos de história da imprensa portuguesa, quatro foram dominados pela censura.
Não nomeio mais, portanto.
Só acrescento uma frase de Luíz Gonzaga das Virgens, soldado morto em 1798, em São Salvador, Brasil (citado a partir do livro "O Último Negreiro" de Miguel Real que aconselho vivamente a quem se interessar por História com factos reais):

"A liberdade é a doçura da vida"


terça-feira, junho 19, 2007

Linhas e Livros II







E os livros dão-me todo o espaço que eu preciso, quando nada mais tenho.

Associado à cultura - por isso continuo "no sítio das linhas" - esta maneirinha, caseira, cultura de ler, surge-me o desafio da "Rosa-chá-sem-espinhos", uma das mulheres estimadas. Sobre os últimos livros que li, sobre o que ando a ler.
E ainda bem que não tenho de falar nas minhas preferências todas!

Fiz um apontamento breve, no meu perfil: Memórias de Adriano e Os Sete Pilares da Sabedoria são livros lidos em que pego, de vez em quando. E, como segundo a Maria e o ditado popular "diz-me o que lês e dir-te-ei quem és", assim se arrefece a "batata quente" e desencanta o segredo:

- Eu sou a realidade de todos os livros que li e todos os que ainda vou ler -

Exaustivamente e desde que comecei a juntar letras, lia tudo a eito. Se não tinha que ler, pegava no Dicionário de Português. A lembrança da primeira palavra da qual não soube o significado é nítida: no liceu, já no 3º ano: "incomensurável".

Livros! A Biblioteca Pública e eu com 8 ou 9 anos, a escolher o livro "De Angola à Contra-Costa" ... julgando que ia ler aventuras em África!
Quando encontro algum desses amigos, é como se me visse a crescer, a adolescer, a amadurecer e, enfim, a rejuvenescer.

Dá-me uma certa pena pensar que não tenho tempo para tornar a passar os olhos em tantas preciosidades, Jorge Amado, John Steinbeck, Ernest Hemingway, Camus, Woolf, Duras, Natália... os velhos Eça, Garret, Camilo...os poetas ... Não! Páro porque não os sei, pilhas imensas.
Como há dias disse a alguém: são o "forro de mim".
Os livros que li nos últimos meses:
Orgulho e Preconceito/Sensibilidade e Bom Senso - Jane Austen
Jerusalém - Gonçalo M Tavares
Aquilo que eu amava - Siri Hustvedt
O Fiel Jardineiro - John le Carré
A Tarde Azul - William Boyd
O Coração das Trevas - Joseph Conrad
A Mancha Humana - Philip Roth
As pequenas memórias - José Saramago
Balada para Sérgio Varela Cid - Joel Costa
o remorso de baltazar serapião - valter hugo mãe
Cemitério de Pianos - José Luís Peixoto
Correspondência - Sophia e Sena
O Último Negreiro - Miguel Real
Os que ando a ler:
A Ilha do Dia Antes - Umberto Eco
A Sombra do Vento - Carlos Ruís Zafón
A Memória dos Sentidos - Licínia Quitério
À Sombra de Árvores com História - Paulo Araújo, Maria P Carvalho e Manuela D.L.Ramos
Milénio I. Rumo a Cabul - Manuel Vázquez Montalbán

domingo, junho 17, 2007

Linhas e Livros I








Em tentação assumida pelo espaço que o rodeia, fui finalmente visitar o Centro Cultural de Belém e reparar nas linhas, a textura das paredes, os espaços, a luz.

Quis esquecer-me da polémica e olhar a obra sem preconceito.
Difícil, pensando que foi concebido para a presidência portuguesa da União Europeia, em 1992, como o parente pobre que põe a sua melhor toalha na mesa das visitas.
Estranho, concluir que o presidente hoje era, à época, o primeiro ministro.

Uma tarde bonita e contudo como um templo deserto: contados a dedo, deveriam ser mais os empregados que os visitantes. No Dia Internacional da Criança, julguei que o aproveitassem para a fruição dela - cultura - por elas - crianças.

Surgiu a minha proposta para o PPP, em "Linhas". E uma tristeza que não sei definir: todos estes espaços, tal como tantas vezes no Parque das Nações, me parecem mal aproveitados, pouco dinâmicos e desligados da realidade cultural portuguesa.
Quando nos habituaremos a consumir a arte, a música, a pintura, o teatro...como o pão, a água do nosso espírito?
Imagino, perversamente, a quantidade de carros que veríamos dirigirem-se para um qualquer ... "Centro Comercial de Belém", àquela mesma hora!

quinta-feira, junho 14, 2007

Força









Uma palavra do PPP em Maio, que ficou suspensa no espaço.
Nem sempre a força que temos é a suficiente, ou sequer a necessária, para sobreviver.
Precisamos escavar, com a gadanha das unhas nas palmas das mãos. Como em pedreiras onde, com lentidão e explosão, se extraem os pedaços, em cortes fundos. As veias cruzadas da terra.

Adoro pedras - adoro muitas coisas - mas quantas vezes sinto que caminho em areia, onde corre o vento e se desfaz o traço.

A Bienal da Pedra era em Alpalhão, onde se encontrou por acaso.
A força rósea é dos mármores algures na zona de Estremoz.
Um caminho onde hei-de voltar. Correr infinitos pastos, saudar oliveiras velhas, pedras reais, sopro de antigas gentes, calçadas que levam a castelos, encontrar poetas: mais um recanto daquele mapa de recortes vários onde nos passa a fronteira, onde tantos a passaram.

terça-feira, junho 12, 2007

Madrugada



Andorinhas, pardais, melros e gaivotas
acordaram em vôos rápidos que só eu vejo.
Como as manhãs seriam puras
lindas
frescas
esperançosas
se eu pudesse dormir em cama e sonhos
de normalidade.

Os desafios II





Retomando (desa) fios, não tenho nada contra quem faz, nomeia ou destaca. É uma forma de convívio como outra qualquer. A que não adiro, simplesmente.
Acontece que uma pessoa admirável me nomeou uma vez. Escrevi-lhe, expliquei-lhe, ditei as dezenas de nomes que "me faziam pensar".
Incrívelmente triste: esse ser há já quase um mês que não está entre nós.
Talvez me arrependa de não ter feito o que me disse: foi com tanto orgulho que me senti escolhida por ele!

Custa-me imenso entrar nessa formatação de sentimentos.
Sem preguiça mental, poderemos descobrir os gostos das pessoas que preferimos.
Ou perguntar-lhe directamente; nada mais simples.
Estaremos sempre sujeitos aos jogos de bilhar, à bola preta, à manipulação das palavras, à perversidade dos sentimentos, ao egocentrismo dos que só se vêem a si próprios em espelho.
Tanto faz ser aqui, no espaço da net, como com os nossos familiares ou amigos.
A corrente faz-se, por vezes, por simples comentários que vamos fixando. Em figuras que alguma vez imaginamos e surgem em outros lugares: empatias.
Risos. Ideias. Fotografias. Desejos. Citações.

Nunca seremos reduzidos/resumidos por palavras. Aqui semeamos terras de amor e amizade, cúmplices. Tal como os meus bisavós cuidaram das vinhas das quais outros bebem os vinhos, em títulos de hoje.
Se calhar, não chegaremos a ver a colheita dos sentimentos que todos espalhamos. Sabemos, simplesmente, que o fizemos com a melhor intenção.
Respondo ao pedido da "Luz Harmonia" com o "meme" ( já toda a gente sabe o que é , donde veio...inesgotáveis invenções...) seguinte:

"Onde li eu que no momento final, quando a vida, superfície sobre superfície, se incrustou de experiência, saberás tudo, o segredo, o poder e a glória,
porque nasceste, porque estás a morrer, e como tudo poderia ter sido de outra maneira?
És um sábio. Mas a sabedoria maior, nesse momento, é saber que só o soubeste demasiado tarde.
Compreende-se tudo quando não há mais nada a compreender."

Parece-me este um "meme" do próprio Umberto Eco, no livro "O Pêndulo de Foucault" pág. 553. Busco de novo o meu mar para que me acompanhe, mais uma vez, em momento de verdades.

domingo, junho 10, 2007

Os desafios e os caminhos do Romântico I




Passo por questionários, prémios e essas correntes assim, um bocado indiferente, confesso. Tal como a maior parte dos cartazes de anúncios vários e "forwarded messages". Conselhos e conceitos que, não sendo passados a outros, me dão a sensação de estar a contribuir para as trevas ou o prejuízo do mundo.
Que seria salvo e clarificado com o mandar 5 vezes uma qualquer ladaínha sobre a amizade. Ainda por cima, geralmente, ou em brasileiro ou com deficiente tradução.

Demasiadas formas (e fôrmas ???) para o meu pé livre.
Acho que já me expliquei em tempos. Plenamente justificada pelo que vivi antes de estar aqui. Porque recordo os "Inquéritos" que na jovem adolescência se passavam entre nós e, com a ajuda de "um irmão de uma", circulavam também entre os rapazes: geralmente, cadernos de argolas, com perguntas a que cada uma/um respondiam, sobre música, livros, gostos, férias, cinema...quem me dera ter guardado um deles, para me explicar melhor.

Estou a ver folha e letras na minha memória. Passavam de mão em mão. Sei que descobríamos, ao recebê-los, escalpelizar as respostas e até a caligrafia, "amar" cada vez mais a paixão escondida ou a amiga predilecta...que confessava partilhar prazer num mesmo filme, ou poeta, ou gostar do mar, duma determinada cor... "Diga uma frase que a/o tivesse impressionado"...
Era o tempo das grandes tentações e ilusões. Em que se faziam diários e se trocavam confidências, receitas para ficar mais morena com misturas de tintura de iodo, passar o cabelo com sumo de limão, fortificá-lo com gema de ovo. Comprar água de rosas nas farmácias, avulso, ou macerar violetas, ou alfazema do monte, em álcool para obter perfume. Ou aclarar madeixas com ervas colhidas no pinhal... mil ideias imaginativas para quem não tinha "semanadas" e andava a pé para poupar cinco, dez ou quinze escudos.

11$00 custava um bilhete de cinema, nas tardes clássicas do Batalha, para a intelectualidade que amava Antonioni ou Greta Garbo. Ou o neo-realismo italiano. Ou as densas racionalidades de Truffaut, os romances barrocos de Visconti.

E recordo que vi "Ma nuit chez Maud" ou "O último ano em Marienbad" várias vezes, tal a densidade das ideias e imagens. Não sei, hoje, se os percebi, apesar de sentir que o meu ser é forrado de todas essas interrogações, filosofias de vida, ensinamentos de cultura, tímidos ensaios de liberdade espiritual, princípios estéticos ou simples pulsar de ideias sobre o mundo.

Falo dos inícios e meados dos anos 60.
Onde nada nos era facultado e muito tínhamos a descobrir.

quinta-feira, junho 07, 2007

A Antena 2 e o Ritornello

Com o pedido para que se ergam as vozes contra o "nivelar por baixo"
que nos querem impor!
E como há a tão propalada "liberdade"...ao menos protestamos.
Deixamos escrito o nosso descontentamento.
Nós.
Obrigada a quem gosta de música. Erudita ou não.

Paulo said...
Olá Bettips. Talvez não venha muito a propósito, mas aqui fica o convite: Nova petição!A petição do Ritornello nasceu com problemas técnicos insolúveis (os nomes dos signatários não eram visíveis) e foi criada outra por Aristides Sousa Mendes.http://www.petitiononline.com/asm7e30/petition.htmlUma vez que tantos blogs participaram de uma forma tão activa na sua divulgação, aqui fica o convite para todos expressarmos, mais uma vez, o nosso descontentamento e pedirmos o regresso do Jorge Rodrigues à Antena 2.

terça-feira, junho 05, 2007

Responder com asas







Convencida da minha relativa invisibilidade na "rede", foi com imensa emoção que li as mensagens de parabéns deixadas no meu post anterior.
Inexplicável, o que eu senti: dos que viveram o dia comigo, dos que passaram só por conhecer, dos que pararam lá por acaso.
Humanamente impossível responder a todos, a cada um, como gosto de falar, personalizando sempre as minhas palavras nos vossos lugares: quando escrevo é como se vos conhecesse e dialogasse, inteiros e caracterizados, tal como o "ser" que fui conhecendo nestes meses.

Digo à minha pequena família, aos daqui e aos dali que em algum momento me pensaram nesse dia (que eu queria silencioso)...

Digo, então, com borboletas
...que descansam, com ternura, nas vossas letras e perfis, melancolias e graças, vossos livros e fotografias, vossas palavras, casas e quintais, vossas varandas e vidas, gostos que gosto, que me tocam de alguma maneira que desconheceis...

Um obrigada, levemente sugerido na intimidade da fala, pousado no melhor que há em vós, como um esvoaçar leve de borboleta.