quarta-feira, fevereiro 22, 2023

O mês de Fevereiro no PPP

 ... para mim foi de Poesia. Que melhor forma de fugir ao comum dos dias e datas precários? Aniversários de nascimentos e mortes: tantas as pessoas e coisas desaparecidas. Os poemas e os poetas são uma forma de lembrar e me ligar ao Infinito.

Vários temas semanais. Sobre o primeiro desafio, "Carnaval": desvio de passagem por Lazarim, visitar o Centro Interpretativo da Máscara Ibérica, um museu muito completo e inesperado, e passear pela aldeia com as suas bancas de madeira onde se modelam "os caretos", à mão, grandes e pequenos. Estes, verdadeiras obras de arte miniaturais.


O poema de José Afonso, (parte) do cantar tradicional da Beira Baixa: "Moda do Entrudo" 

" - Ó entrudo ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
As mocinhas ao solheiro..."

Seguindo-se a semana do "Dia dos Namorados", importação de (mau) folclore e comércio (muito). Lembrei Eugénio de Andrade, o eterno enamorado:

Jardim do Passeio Alegre, onde vivia o Poeta que assim fala das suas "palmeiras". Excerto do livro "Poesia", de 1992, "Rente ao dizer", rente à Foz do Douro:

"Chegaram tarde à minha vida

as palmeiras. Em Marraquexe vi uma

que Ulisses teria comparado

a Nausica, mas só

no jardim do Passeio Alegre

comecei a amá-las. São altas

como os marinheiros de Homero.

Diante do mar desafiam os ventos

vindos do norte e do sul,

do leste e do oeste,

para as dobrar pela cintura.

Invulneráveis — assim nuas"

Eugénio de Andrade (Rente ao Dizer, "Poesia" 1992)

O Dia do Pai, que será mais à frente no calendário, aqui representado pelo reflexo de um menino num Jardim Japonês, há quantos anos!, e o poema do libanês Khahil Gibran, excerto do livro "O Profeta"


"Os vossos filhos 

Não são vossos filhos (…)

Vêm por vosso meio

Mas não de vós;

E apesar de estarem convosco

Não vos pertencem.

Podeis dar-lhes o vosso amor,

Mas não os vossos pensamentos

Porque eles têm

Pensamentos próprios.

Podeis acolher os seus corpos

Mas não as suas almas

Porque as suas almas

Habitam a casa de amanhã

Que não podeis visitar

Nem sequer em sonhos.

Podeis esforçar-vos

Por ser como eles

Mas não tenteis fazê-los

Como vós

Porque a vida não vai para trás

Nem se detém com o ontem (…)"

A última semana deste mês, (o tema proposto: o fim do Inverno climatológico), traz uma vista dos socalcos no Douro e o poema de Bertolt Brecht, nesta época de guerra e destruição: um hino poético sobre reconstrução e esperança. Apesar de tantas casas desertas do humano sentir e viver, entre as oliveiras solenes florescem as amendoeiras rosadas.


Digo, penso, olhando esta fotografia: porque começa a idade de ouro/rejuvenescimento: Primavera

"Toma o teu lugar na mesa, foste tu que a puseste.

A partir de hoje vestirá o vestido aquela que o coseu.

Hoje ao meio dia em ponto

Começa a idade de ouro.

Nós vamos inaugurá-la por sabermos que

Estais fartos de construir casas

Que jamais habitais. Queremos crer

Que doravante ireis comer o pão que cozeste.

Mãe, que o teu filho coma.

A guerra foi anulada. Pensamos que isso

Seria melhor para ti. Porque, dissemos com os nossos botões,

Adiar ainda mais a idade de ouro?

Nós não somos eternos."

Poemas de Beltolt Brecht

Selecção e estudo de Arnaldo Saraiva, Editorial Presença

(livro comprado em Maio de 1968)

***

Assim, foram os poetas que me ligaram aos pensamentos. O tal Infinito intemporal.