terça-feira, junho 28, 2011

Denominador








O que há de comum entre estas tantas coisas?
Pássaros quimonos de seda
heras e ervas do campo juntas com vinhos compotas (esfirras de comer e descobrir, como encontros inesperados)
girassóis em contestação (piada da amiga!)
e tudo com janelas ao fundo
vento nos canaviais
altas horas das noites muito escuras e uma estrela cadente.
Sossegos.
Pedras, pois. Traços.
Ondas apaixonadas pela terra
insistentes

O denominador que d(en)omina sou Eu e o meu gosto de férias
passeando no meu interior
espaços novos
de encontros
abertos a essas coisas minhas
tão estimadas.

quarta-feira, junho 15, 2011

O campo






Não me parece - falo para mim mesma - que goste só de mar e pedras!
Pensando bem.
Gosto também do cheiro da erva cortada, do palrar dos bichos com o falar das pessoas.
Dos vulgares pardais do entardecer precoce, nos montes.
Dos ninhos abandonados, em Outubro
e de estradas,
assim
incompletas

(até depois)

terça-feira, junho 14, 2011

Lisboa em Maio








Porque não falei eu este ano, simplesmente, das árvores de Lisboa?

Demorei meses a voltar.
E a árvore mais linda que vi, fez-me ficar com as pernas a tremer - e não podia contar, desfiar razões.
Era Maio há muitos anos, atrás e atrás. Na velhice e olhares, na avenida que cruzava com as pernas nuas e um vestido de malmequeres; e tantos botões pequeninos, forrados, presilhas, sabrinas. Soltos que eram os mesmos cabelos e palavras vivas.

E, depois e agora, no lugar de morte do amigo. Onde estava/estiveram jacarandás de Lisboa.

Era Maio. Sempre foi como tudo: um mês repetido, de clarões e sombras.

As horas







São horas de sair e tenho pressa
de ver e (re)ver tudo - mesmo que, para que assim seja,
deva memorizar outros lugares, outras horas.

Entregue à volúptia das ondas ou dos cordeiros soltos.

Entregue a uma vaga nostalgia de "ter estado".
(re)viver como quem vive.

(entre as 4 e as 5 da tarde, nos vários relógios de terras diferentes,
momentos iguais e as mesmas convicções)

segunda-feira, junho 13, 2011

Arrependo-me, pois






(é recorrente, o mar) ... de não ter escolhido um poiso escolhido,
de ter ficado a dormitar entre palavras vãs.

Quando olho a distância e tenho sede,
é a distância da água
que recordo.
Assim as ervas e planos altos.

Hei-de ir sempre.
Dasamigarei - o que é novo.
Ficarei sedosa no que conheço e confio.

Do pensamento



O nosso PPP em Maio: "Fotografando as palavras dos outros"

"Filosofia
Construo o pensamento aos pedaços: cada
ideia
que ponho em cima da mesa, é uma parte do
que penso; e ao ver como cada fragmento
se
torna um todo, volto a parti-lo, para
evitar
conclusões."


Nuno Júdice in "Pedro, Lembrando Inês"
***

O meu pensamento tem de ser pedra esboroada
ou partida de um todo;
cada uma diferente,
de pé ou suavemente inclinada nas memórias,
sulcos fundos
mas sempre, sempre livre com a terra, o céu, o sol.
Árvores e a água.
E por aí fora o mundo
dentro da cabeça.

E estes alguns amigos provocatórios e bons.

domingo, junho 12, 2011

Desejo de Ave











Voar ...evitando furnas
refluxos de ondas fortes que me arrasam a luz mais doce
da temperança
das tardes.
Para e do outro lado
voar
perto e longe de águas domadas

... olhai os lírios do campo.
Simples.
Não trabalham nem tecem teias.

segunda-feira, junho 06, 2011

Cavalgar o futuro

Quem não tem cão, caça com gato.

Colcha de seda bordada a ouro séc. XVIII, representando a árvore da vida (Museu Penafiel).
E a árvore-vida, continua!



Cavalguemos o sonho!


Demissão

Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo demais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.


José Saramago in "Os Poemas Possíveis"

- tão actual hoje como sempre -