quarta-feira, abril 27, 2011

De onde?

Uma pata que agarra e fere.
Das ameaças, do país destas gentes e das outras.

Sentar-me num lugar que nem sei bem onde

... a ver o branco que no mar se põe entre a luz e a sombra.

Surgem-me fotografias do nada.

Já o escrevi - se não o fiz, pensei dizer - :
nem sei se imagino ao olhá-las
se elas olham para mim e me fazem pensar nas coisas
que me estão a flutuar
inconscientes.

quinta-feira, abril 21, 2011

Dia no quarto ou a cidade onde gosto de estar é diferente da cidade onde estou. Mesmo por dentro.



Nada lhe diz o deserto de cimento, nem a câmara, divorciada está do seu sorriso.
De costas.
Porque eles, sorriso e pose, se dirigiam aos pombos e às flores, aos canteiros que não existem.
As tendas de plástico e as grandes parangonas iguais em todo o mundo, também nada lhe acrescentam à bela imagem.
No princípio (do mandato) havia tulipas de todas as cores, caríssimas as pensei, importadas. (como se a gente se importasse com paixões sazonais destes políticos e dos chupa-chupas que oferecem nos intervalos).

Desde pequena que me cruzo com ela. Ali perto, era (é) o Banco de Portugal onde ia receber o ordenado dos Correios, com o meu pai. Havia tanta coisa imponente que me fascinava: um elevador-caixa que andava para cima e para baixo, na parede, com papéis; tectos altíssimos, bancadas de mármores coloridas, gente antiga à frente dos cofres, rostos de ambos fechados e carrancudos.
Mas e sempre - muito me preocupei com o avesso das coisas... - espreitava de joelhos num banco enorme, as traseiras dos edifícios. Mania que me ficou.

A menina sorri como a vi há muitos anos - também o meu primeiro emprego era ali perto.

Deseja andorinhas e primaveras e 25 mil esperanças de Abril a todos os que me "conhecem".

(diria mais, por causa de nos terem empenhado o futuro: 25 mil milhões de esperanças para dividirmos)

segunda-feira, abril 18, 2011

Noite terceira



Há madrugadas assim

a Lua enevoada tem cara e perfil de pessoa e há realmente um velho com um feixe
ou um mundo outro
eternamente às costas.

ou sou eu que me nublo e encurvo?

quinta-feira, abril 14, 2011

Noite segunda












E eis que na rebelde noite, no remexer a saudade dos livros e lugares,
do pensar nos ilusionistas do poder,
me surge o Homem da Terra, calcorreador de montes e humanidade.
(Adolfo Correia Rocha) Miguel Torga (1907-1995): médico de origem humilde e escrevedor ilustre das nossas décadas sombrias. Teve o gosto o dizer, fazendo: "...a única maneira de ser livre diante do poder, é ter a dignidade de o não servir".

Sentei-me com a meada da sua prosa, da sua poesia que criava um mundo sobrenatural, dos seus bichos, dos seus deuses da montanha, das suas pedras. E no caminhante que foi, reconheci como amava e sofria o mal do país que somos.

"...um povo que pelos séculos dos séculos teria de arrastar um destino próprio, a fazer milagres da pobreza do chão, das vogais da língua, do lirismo da alma".

Tínhamo-nos debruçado no Douro, rio e terras que tanto amava e donde antepassados nos vieram.
Mas foi aqui que o reencontrei, a uma mesa alentejana, numa aldeia de ruas azuis e ocres.
Pelas cinco da manhã, ainda conversávamos sobre o adeus da última estrela da noite.

E também senti a nostalgia da falta
desse lugar pequeno e imenso que é a terra do Sul.


terça-feira, abril 12, 2011

Noite




Nas bolandas minhas, encontrei Fernando Namora (1919-1989). Já não nos víamos há tempos e falamos de metáforas. Assunto que me é grato, ou melhor, prato (do dia-a-dia).
Nos tantos livros, sociedades em girândola e em tempo de médicos iletrados.
E lembrei "Fogo na Noite Escura", de 1943, que o li cedo e compreendi tarde.
Disse-lhe que me ficou um fascínio medroso do fogo de artifício.

a propósito de quê? Vidas e voltas

sítios onde gostaria de estar e de que tenho SAUDADE.