quarta-feira, dezembro 30, 2009

Passagem de ano(s)








Chamem-me então
(basta um aceno)
depois
quando pessoas tiverem a alma tenaz
da folha
dos pombos
das cores (ainda e sempre)
de coisas que vemos
permanecer nos caminhos.

Tal como nós os atravessamos.

Chamem-me então
num novo ano
da luz
do dragão da serpente do ovo

quando se dissipar o nevoeiro
das palavras
feridas,
opacas.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Votos de Boa Vontade




Não há que fugir nem para onde.
Invade-nos pela casa, pelas ruas, jornais e revistas nas caixas do correio: chamam-lhe "o espírito de Natal" e eu cada vez o acho mais "espírito consumista".
Aceito com alguma resignação - vai passar, vai passar ...

O que gostava mesmo era de ir ao musgo, em sítios antigos, onde muros eram de pedra e não de gente.
Um dia, se houver uma criança cá em casa, vou renovar os carneirinhos meio partidos, desenho uma estrela e pinto-a de purpurina. Compro um boneco de madeira, enfeito-o e embrulho-o; e digo, olhando uns olhos pequeninos: é natal contigo!

Ficam aqui os pinheiros onde se penduram as nuvens, com os votos que quiserem levar.
Quem me conhece, sabe que são do ano todo.

E rosas festejando Klimt.

domingo, dezembro 13, 2009

Por lembrar-olhar






Tem a ver com Paris mas não, não porque a cidade, o ir, viajar ... etc etc.
(há Paris dos anos 60/70, sonhos e realidades passadas; depois, e mais tarde, foi só a confirmação das "luzes" europeias, o cinza azulado dos telhados e o vagar de ver)

A MF., uma das amigas do PPP, mostrou-nos há tempos - e como "Ornamentação" pode ser diferente! - o tecto das Galerias Lafayette, uma fotografia belíssima no pormenor dos seus ferros e curvas.
E eu lembrei-me - quando ando(ava) só pelas cidades e me perdia. E tiro fotografias a esmo. E é proibido e eu não reparei (e peço muita desculpa, que no British Museum tal e tal, que no Louvre também ... ah mas isso era há que tempos, antes das câmaras e dos medos engatilhados nas gentes).
Apeteceu-me recordar.
"Voilà
je regarde les autres
Pourtant je ne leur trouve rien
C'est comme ça..." - como Françoise Hardy cantava em 67!

sexta-feira, dezembro 04, 2009

"Ornamentação" e PPP






Aqui está a minha "Ornamentação", para o nosso jogo da semana: a foto que é onde se vê a bicicleta engalanada em 1º plano.

As outras a seguir ponho-as por curiosidade do que rodeia o insólito.
A igreja é em Tomar, a Ermida de S. Gregório, séc. XVI, com portal manuelino e património classificado...
Por lá, cá fora ou imediações, vive alguém segundo me informaram - demorei pouco por ali, era tudo um bocado estranho.
Toda a terra dos Templários é cheia de simbologias; aqui me pareceram algumas.
E das vezes que passei, estava fechada.
As ervas no telhado, essas estavam vivas e acenavam ao vento.

sábado, novembro 28, 2009

À volta do Jardim















Rodeado de quarteirões de prédios de carácter - alguns abandonados...
Não sou de Lisboa e só passo lá de vez em quando - as fotos já são de há mais de 2 anos.
Sei que há gente a protestar, a pedir informações, a dirigir-se à Câmara.
Porque é que o progresso não respeita a Natureza?
Onde está o inteligente, o mandante, o arquitecto, o biodiverso, o doutor das Ciências Naturais, o paisagista, as pessoas que usufruem dum jardim, nem que seja de passagem?
Decerto que há mil escusas: um país que se enleia.

E, por isso, pergunto aos amigos de lá:

"
se sabedes novas do meu amigo" o Jardim do Príncipe Real!

O Jardim do Príncipe Real


Completamente anormais, as árvores.



E a que propósito vem, esta do rei e dos cantares de amigo?
Das árvores. Que não são estas nem aqueloutras.
De mais de 40 árvores que "estão a ser reabilitadas" - quer dizer, já foram cortadas! - num dos belos jardins de Lisboa.

Nomeadamente porque não eram "normalizadas" e estavam doentes.
Um jardim romântico e vivo.

(D. Dinis tornou o português na língua oficial do País mas, pelos vistos, ainda não nos entendemos na nossa língua).

Novas de meu(s)amigo(s)











Entre outras coisas, aprendi que D. Dinis mandou plantar pinheiros, lá para os lados de Leiria e do mar cavalgante da terra. Um rei simpático e ainda por cima, culto. Claro que não se preocupava o rei com minudências de parques e cidades com camadas de ozono em cima.


"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
Cantiga de amigo de El-Rei D. Dinis (1261-1325)

quarta-feira, novembro 25, 2009

Escritaria 3








Tantas sensibilidades, muita gente numa terra amável.

Saramago faz da escrita um lugar tão perto,
da infância, da nacionalidade,
dos sonhos e dos pesadelos.
Um passado sempre pensado em desejo de futuro.

(A Bíblia, que andava lá por casa com o Dicionário, o Tesouro das Cozinheiras e a História da Civilização, foi dos primeiros livros que li mal juntava ainda as letras).