quinta-feira, outubro 26, 2006

Como me pareço a mim



Uma pedra onde me encontro semelhante. Talvez devesse levá-la de volta donde a trouxe.
...

Entretanto e depois da chuva que veio do Sul, chegou ainda um arco na tarde de todos os rosas. Pedras, mares, horizontes largos, arcos de provável esperança, que sei eu?
Veio este súbito Outono, com pés de chuva acre, castigando esperança. Não vida comum, melhor. A água correu por onde terra queimada. Esqueceram-se que é assim, falam de inevitabilidade, reunem-se e decretam: este país não é previsível. Acho que sim!

quarta-feira, outubro 25, 2006

Coincidências



Para uma menina dos Açores.
Que escreveu como só ela sabe. Poesia e beleza das ilhas perdidas, Atlântida ou sonho. Diz-se "aprendiz de viajante".
Mas pensou exactamente como eu: a anos luz uma da outra.
Saudade. Saudação.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Sequência III



...última chamada, visto que ao passar as fotos tudo se baralha (não eu... os anõezinhos)

Sequência II







...e ponho II, esperando que as fotos passem, porque assim perco a cadência escrito/foto que me moveu hoje.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Sequência

... da palavra Alegria que convite foi há semanas. Fuga ao interior de nós. Para quem não vê o mar ou não o ouve. Para quem está preso no tráfico da vida. Mil ideias.

Uma competição de sentires e olhares (não penso entrar noutras). Aqui o prémio é o gosto de ver. É o gosto de pensar palavra e sair imagem. No lugar da M. do Palavra puxa Palavra correm mansos os protestos, a flor, a casa, o muro, a luz. Divertimo-nos e imaginamos quem, do lado da objectiva, colhe o momento. Diferentes são mas todos especiais. Ponho-me a idealizar quem capta o quê, descubro que muitos de nós pensam o mesmo, da beleza, das crianças, da natureza, da amizade.
Isso contenta-me o tempo, hoje cinza.
Esta foi a imagem que destaquei para "Alegria" e é a sequência dum fim de tarde. Com o instinto, pensei-a, nem a escolhi.
O Pescador não ouvia nem falava, fez-se-me entender por gestos e foi o diálogo mais bonito desse fim de tarde. Ele pescava e eu via, atenta à onda e ao pôr do sol. Quando veio o pequeno peixe, rimo-nos ambos como garotos! Eu saltei nas pedras, o cãozito dele ladrava desalmadamente, o mar rugia avançando em maré cheia e era, como se vê um bravo belíssimo mar do Norte.
Esta fotografia é um quadro que me vai ficar no coração. A simplicidade dum pescador e eu, ambos no fim de tarde. Assim, desamparados de tudo e da realidade. Um quadro de nada, deficientes do mundo, de culturas tão dissemelhantes, felizes ao ver um peixe prateado, o oposto ao dourado da tarde. Por gestos, falei-lhe do perigo e das ondas que quase nos molhavam. Ele pôs a mão a meio metro do chão e percebi que pescava desde pequeno, ali pelas rochas. Serenamente pensando. Em que pensas, pescador?

Eu não sei tratar fotografias, esperar a oportunidade única, escolher objectivas, distâncias, luz. Aprecio o momento que se cristaliza, não a obra de arte. Ela surge pelo instinto e a consciência do "agora", neste sítio, nesta hora. Por mim, humilde, acho. Assim gosto de pensar.
Gosto do Gageiro, do Sebastião Salgado, do Paulo Nozolino, dos fotógrafos da escola Magnum e dos todos da National Geography. Desses, amo tudo, essencialmente pelo olhar e a consciência que sei existir atrás da câmara. Para mim, humilde, indissociáveis. Assim gosto de pensar.

A minha primeira máquina, mesmo minha, foi uma Olympus todo o terreno. Todo o terreno porque caía, às vezes em qualquer terreno, mas tirava fotografias com chuva, com sol, com amor. Perdi-a ao fim duma tarde de Fevereiro, em St. James Park. Comprei logo que pude uma igual. Pessoas riem desta "mania", gente a quem nunca vejo uma fotografia de nada, só casamentos, baptizados e essas socialidades. Os profissionais têm milhares de explicações e com esses nem discuto. Faço-me de mim, como eu sou.
Experimentaram dar-me uma mais complicada e eu passei agruras com as regulações. Umas vezes sim, outras às vezes. Até que apareceu o presente de Natal, trezentos euros de prazer continuado. E é só assim, até esgotar memórias. Há muitas maneiras de pensar: eu sinto que também penso com a minha máquina de fotografar.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Da tal semana



Ainda as fotos que escolhi para a nossa mesa.

domingo, outubro 15, 2006

De Ilhas distantes


Um dos poucos amigos a que esta amizade atmosférica - não quero dizer virtual - me levou em meses, disse-me uma coisa linda. Acho que ela merece que a partilhe (e não te importas, tu? lá de longe?), por mim reflecte-me:

"...como se espreita ao longo da nossa rua a ver se vem lá gente, quando acontece irmos à porta ou à janela. Gestos simples, quotidianos, sem relevância alguma, até que decidimos bater na porta ou na janela do outro e perguntar se estão todos bem..."

Obrigada, P., tão longe que somos e tão perto que pensamos. Respondo-te que as "praças" também são aqui. Existimos e se quisermos somos pessoas com rosto e alma.
Se quisermos. Um pequeno poder nosso.
E basta querermos. Os "bilhetes" podem passar-se como fazíamos na escola, por baixo da carteira, fugindo ao mainstream desta prisão de imagens, dos jornais, das notícias. Nós não somos uma percentagem, somos gente. Abrimos a porta das nossas ilusões, mostramos os nossos filhos, a nossa solidão, a nossa maneira de estar e (d)escrever, estendemos os nossos olhos pelo que nos é dado viver de belo e mágico, preferimos, visitamos, dialogamos. Somos corteses, delicados, sofremos o lixo numa rua, a poda de árvores noutra, ficamos tristes com o Outono e atravessamos os rios com névoa, lemos partes de livros que os outros relevam e ... aprendemos. Ficamos entusiasmados com viagens e imagens dos outros. Visitamos casas (hoje andei por uma delas, de uma ponta a outra, cortinas, tapetes, cantos) ... e se nos agrada a luz e a sombra, a palavra e o silêncio, ficamos. Mesmo não sendo todos os dias, passamos pelo sentimento de outros olhares e comovemo-nos. Quando alguém do nosso círculo diz que "vai embora" protestamos... que não, que fique!
Para nos sentarmos aqui. Com um café ou um chá, com os amigos. Boa noite. Deixei-vos o melhor da minha semana, à volta desta mesa comum.

domingo, outubro 08, 2006


Faltou-me a ponte/arco. Pelo menos, tenho-a aqui hoje.

As Brumas de Avalon e o meu mar




Revi o filme, aquelas paisagens encantadas, ninfas, mágicos e deuses. Fui ver os livros guardados, onde? na 3ª fila das estantes, ou seja, lá para trás: comprados em 92. O prazer que me deram, aquelas lendas onde mulheres valem como homens. Mulheres com magias. Não é grande coisa, não é "intelectualmente" correcto mas eu não quero saber!
Gosto daqueles mistérios, os castelos, os campos, as mantas e camas sumptuosas, as peles, os vestidos e as cortinas, fluídos. E poções, danças e fogo, pedras sagradas, florestas desdobradas em recantos de verdes vários. Tonalidades que tinha imaginado. E distâncias.
Eu tenho uma terra imaginada que surge das névoas da memória: é feita de risos e cantares, fruta madura e flores ... amigos jovens. Sim, tem que ter água, árvores, ruídos de campo ou ruídos de mar.
Tem que ter as cores do arco-íris. Lembro criança: pensei sempre haver um mundo diferente, lá, no fundo do arco colorido, onde ele toca a terra.
Domingo é depressivo para descobrir que afinal não havia mágicos.
Vou, mesmo assim, esperar.
Gaivota na orla da onda. Em silêncio.