sexta-feira, dezembro 30, 2022

O PPP de Dezembro 2022 - 2 (o restante)

É tempo de vir aqui, renovar as notícias, palavras das noites e dos dias do ano que está a findar. Com apontamentos das restantes propostas que fui escolhendo para o último mês de 2022. 

Dia 15 – Brancura

Inesperadamente, numa cidade grande e estrangeira, onde nunca vi roupa a secar ao sol e ao tempo.

Das brancas-queridas camélias
 

Das primeiras vezes que participei no PPP há mais de uma década, com esta fotografia da divisão das "açafatas" e o seu primoroso trabalho com as roupas: Barcelona

"O Desterrado" que sempre me chama na sua perfeita e infinita solidão
Esta tirada de longe, à porta de um hotel de luxo, Paris. Impossível ficar indiferente ao carro e à pessoa que de lá saiu

 Dia 22 - Castelos

Muitos, que as pedras me chamam onde quer que vá. Este é o castelo de Penela, num desvio de viagem não planeado. Difícil foi a escolha... acabou por ser à sorte!

Dia 29 – Chocolate

O gosto pelo chocolate vem de criança, quando era tão proibitivo que só era visto fugazmente, através do vidro das confeitarias. Acho que estou como dantes, por razões de idade e frugalidade. Daí a fotografia da montra, tal qual a "A Raposa e as Uvas".

 

Encontrei memória do tempo que passa. Há quanto tempo não faço um bolo?

...

Deixo o ano com um engano. Do que vou vendo, dos jogos, das trafulhices de que vou tendo notícia (e sentindo). Se alguns são pequenos larápios (de coisas, de sentimentos), outros são mesmo burlões e ladrões.

Quadro de Georges Latour, "Le Tricheur", Museu do Louvre.

 



quinta-feira, dezembro 08, 2022

O PPP de Dezembro 2022

"As palavras e o espaço que ocupam no nosso pensamento", proposta de M. para este mês. 

As duas primeiras, Telhados e Estrelas. Olhando para o alto em vez de rasar o chão. Não escolhi muito, tenho telhados quase de cada vez que saio e tiro fotografias. Onde encontro os pássaros, as esculturas antigas, a diversidade das cores e formas das telhas. As breves ervas rosadas como o "arroz dos telhados", de que tenho tantas lembranças desde muito pequena. O que cobre as vidas e os argumentos que se desenrolam, por baixo de cada telha, pedra, vidro, madeira, cimento, colmo, palha ou cartão.

Mas é claro que me lembrei da fascinação de Londres, o prazer de lugares redescobertos, as silhuetas ao longe


Entre os muitos telhados de que gosto, escolhi estes, a ver a Ria Formosa e o mar. Certamente para viver, os meus preferidos. Não são propriamente telhados mas terraços, o bom tempo a sul assim o permite. A largueza do olhar!

 

Às estrelas, olho-as e reconheço-as, difícil é fotografá-las com nitidez. Consegui esta Via Láctea, no Alentejo profundo. Nem sei bem como...

Pensava eu que tinha alguma estrela do mar, num algures que se perde nos milhares de fotografias através dos anos. Lembrava-me quando as encontrava da canção muito, muito antiga, do pequeno grão de areia que se apaixonou por uma estrela do firmamento. Foi desse amor que apareceu a "estrela do mar", o que sempre me pareceu um final feliz para uma paixão improvável.

Mas... mas... Van Gogh e as suas telas torturadas e desfocadas pela mente obliterada do pintor. Doces traços de pormenores, violentas de cor. Tinha de as encontrar e nomear, mesmo em reflexo do museu em Amsterdam onde não se podia fotografar, e os quadros em luzes móveis de uma exposição em Lisboa

Foi assim que me lembrei da "Noite Estrelada", de 1889. O Pintor viu-a da janela do seu quarto no hospício, em Saint Rémy, Provença. A inquietude do seu pensamento.




E, finalmente, a perdida no mapa e nas margens do Alqueva, aldeia com nome de Estrela


Também os olhos de alguém nos podem parecer estrelas... Ou as palavras.


 

domingo, novembro 27, 2022

Luís Vaz de Camões no PPP de Novembro

Uma proposta interessante. De quem leu por obrigação no liceu, como eu, Camões e os Lusíadas. Era uma maçada, dividir as orações e tal. Mas no cérebro também ficaram registados o esplendor e as rimas, a diversidade de pensamento. E não é que quase 500 anos passados é assim?

"Mudam-se os tempo, mudam-se as vontades

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades."

Tive algumas escolhas sem me dar a grande trabalho, apenas uma volta por fotos antigas. A partir das mudanças anunciadas por Camões, as ideias foram várias:

para Transportes...donde a novidade eléctrica de abastecimento dos novos carros!

seguindo-se Trabalho, neste caso a seguir o trabalho da pesca, no mar,
o trabalhinho  paciente das crianças para arranjar pedrinhas e metê-las numa fenda,
e a seguir, todo o trabalho de gente sem nome e de séculos nas encostas do Douro, transformando a aridez das pedras em doces recorte.Sempre me impressiona observar o trabalho de séculos, de tanta gente que construiu os socalcos, no Douro e afluentes, e plantou as suas vinhas. A terra é árdua, terra seca, de xisto, as margens abruptas, as temperaturas extremas. Um lugar em que se mistura a beleza da paisagem com a memória do sofrimento de muitos trabalhadores, tantas vezes de pé descalço. É hoje designado Património Mundial e sinto-lhe ali, plasmadas, milhares de figuras humanas


A sugestão de Passeios e sempre o meu encantamento com as paisagens a partir do olho de pássaro do avião!  Tejo e foz dele em 2008

Outros lugares... Sobre Londres, é o que é, um lugar que ficou como um ninho vazio, "como um conto de infância", sei lá, "Alice no País das Maravilhas", a parte da maravilha e tirando os sustos... As mudanças são enormes e extremas: restam-me os livros, os escritos e as fotografias. Por vezes, os filmes britânicos, a fala e os lugares, de que tanto gosto.
 


e, por último, Moda

Estas duas sugestões que encontrei como "prédios e quimono" são ambas Passeio e Moda!

Sobre Moda, o que pensei e escrevi:

Gostei sempre, desde que me lembro, de vestes largas, das asas de pano adejando, ao estilo oriental ou dos nómadas no deserto. Foi um gosto ver esta exposição no MUDE, há anos, com antigos artefactos do povo japonês rural, do séc XIX. Acho que agora a moda chama-se "boho" ou boémia e o tecido é o Boro (farrapos, tecido da vida). Do que li na ocasião, são texturas diferentes, de origem vegetal e de plantas autóctones como o cânhamo, linho, amoreira e urtiga. Cerzidos os diferentes bocados num ponto que é característico, são depois tingidos em indigo, côr entre o violeta e o azul, que também provém de uma planta. O efeito é muito bonito. Para mim, penso que a necessidade também nos encaminha para as tão propagadas hoje: Sustentabilidade e Ecologia!