quarta-feira, setembro 10, 2025

A 2ª semana do PPP

Continuando com a proposta de "nomes de livros" e o que nos trazem ao pensamento, de lidos, relidos, ou apenas com os títulos aflorando a memória de outras imaginações, a minha proposta para esta semana foi "Memórias de Adriano", de Marguerite Yourcenar, edição da Editora Ulisseia, 1983. O livro que tenho, desde esse mesmo ano, foi traduzido pela notável e inesquecível Maria Lamas.

Curioso verificar, agora, estas pequenas coisas que, com o tempo a passar muito depressa, se tornaram tão longínquas mas ainda tão ou mais importantes. 

O que logo vi nas primeiras páginas e me impressionou foi a pequena introdução em latim, atribuída ao Imperador Adriano (em tradução livre)

Animula vagula, blandula - Pobre alma tão meiguita 

Hospes comesque corporis, - deste corpo sociazita

Quae nunc abibis in loca - que para uns duros lugarzitos,

Pallidula, rigida, nudula, - escuritos, desertitos,

Nec, ut soles, dabis iocos... - sozinha ao presente vás, ai nunca mais voltarás...

Relendo informações, fico ainda mais rendida ao que me prendeu ao livro e à sua autora. De Marguerite Yourcenar (nem o sabia bem) tenho na minha biblioteca 6 dos seus livros! Mas é claramente uma imensidão de factos e não consigo abarcar tantas coisas, tanto trabalho de pesquisa, um passeio entre séculos e séculos de História. O Imperador Adriano reinou entre os anos 117 até 138 d.C.

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Este "Memórias" é um dos meus livros favoritos e tantas vezes andou comigo, para ser relido aos bocados. Sempre me parecia diferente, tenho-o desde 1983. A fotografia que me surgiu é uma metáfora: trata-se de um instantâneo colhido no Fórum Romano, mesmo ao lado das impressionantes ruínas ali expostas. Um pedaço de terra cultivada por um anónimo, quem sabe se encontrará memórias de séculos passados. Do tempo de Adriano.

 

E por acaso, um dos amigos distantes, falou-me há tempos de uma visita à cidade de Tivoli, a cerca de 30 km de Roma, e de lá ir propositadamente para ver a Villa Adriana. O local do palácio, agora em ruínas, que Adriano fez erguer, deve ser um fascínio... Tanto mais que o Imperador era muito viajado (ia ele próprio em missões com os seus exércitos) e se interessava por arquitectura. Foi ainda muito influenciado pela cultura grega.

Contudo, de Roma, do que vi, e de outras recordações do British Museum, me ficou Adriano inscrito para sempre. 

Com o busto da sua mulher à esquerda, a imperatriz Vivia Sabina. Na foto seguinta, à direita.

 


Ao lado, o seu companheiro de amores, tão bonito, Antínoo. Era grego e foi deificado por Adriano após a sua morte prematura.

(Não escreverei mais o meu nome em letras gregas sobre a cera das tabuinhas
Porque estás morto
E contigo morreu o meu projecto de viver a condição divina)
 
Esta foi uma lembrança de alguém que me lê com regularidade: Sophia de Melo Breyner Andersen evocando Adriano (obg. pela referência tão a propósito)  













À lembrança me vieram as imagens, como uma esteira de sulcos e gotas, no rio tumultuoso dos pensamentos.

Escrever é muitas vezes uma aventura! 

 

 

quinta-feira, setembro 04, 2025

Re-começando o PPP depois do Verão

Depois de um (diabo) de mês de calor e incêndios, de sobressaltos, respiramos um pouco e encontramo-nos na (im)paciência de esperar o Outono. A sua delicadeza e os seus tons. 

E voltamos ao nosso encontro semanal: o PPP. Fui eu que iniciei o desafio.

Dia 7 -  “O Miniaturista”, livro de Jessie Burton, publicado em 2014

Já não sei quando li o livro, de que gostei muito. Sei é que fiquei fascinada pela história e soube que foi feita uma série da BBC, a que não consegui aceder. Contudo, foram estas miniaturas que procurei incansavelmente no Rijksmuseum em Amesterdam, em 2016. As “Doll’s House of Petronnella Oortman”, c. 1686-1710.

O Tempo, essa plaina e broca inexoráveis, alisam ou emendam, e perfuram, a Memória. E foi assim, na procura das fotografias a condizer. Tenho muitas, gosto de miniaturas, físicas e em fotografia. Algumas alhures:


 Miniaturas da miniatura!


Entretanto: 

Livros e pensamentos: li há pouco tempo um belo livro. Chama-se "O Mar", de John Banville, edição ASA de 2006, de quem nunca tinha ouvido falar. Mas encontrar estas coisassoltas é como encontrar amigos desconhecidos e reconhecê-los. As duas citações que apontei que me vieram directas ao coração:

"O passado pulsa dentro de mim como um segundo coração"  e

"Alguém caminhou sobre a minha sepultura. Alguém."

Dedicada a livros e imagens, voltarei em outras semanas. 

  

domingo, agosto 10, 2025

Gata antiga

 

Quando reparei nas datas, já tinha sido o dia dedicados aos gatos. Porque há dias para tudo: vê-se que as altas esferas se preocuparam em lembrar-nos, da Terra, dos Oceanos, além dos dias dos santos e tal. 

Também vivi com gatos, de passagem, às soleiras das portas, nos telhados, com nomes, errantes e anónimos. O primeiro, em casa da minha tia avó, era preto e eu muito pequena, chamavam-lhe Miqui (só muito tarde descobri que seria Mickey???). Tivemos uma gata mal nascida, refugiada, magra e esquiva. Cabia num sapato! Viveu, engordou, gostava dos elementos masculinos cá de casa. Durante 16 anos. Sabia de tudo, quando havia crianças aqui e ela se escondia, até quando se faziam as malas para ir de férias. Deitava-se em cima da mala! A empregada vinha todos os dias falar-lhe e cuidar dela quando não estávamos. O trabalho e o preço de ter um gato bem cuidado é enorme. Quando ela morreu de velha decidi não querer mais nenhuma. Aqui em frente, na minha secretária estão duas fotos: da minha avó e o seu bisneto-filho-meu, e da Kitty. Fiz um livro de fotografias com "a vida" dela, ao mesmo tempo que via por elas as fases da nossa vida toda, quem estava e quem saiu. É isto que guardo. 


E a ideia que nós não os escolhemos, eles é que escolhem os donos. Uma citação que agora não vou procurar mas sei que a soube em inglês, nos meus vários livros sobre eles.

Encontrei depois: "Cats choose us; we don't own them". E ainda um postal antigo e divertido de um gato a dormir entre livros.

 

 

quinta-feira, agosto 07, 2025

As escolhas de Julho no PPP

Tão quente e tão diferente está o passar dos dias! Atrapalham-se, sobrecarregam-se. Estão estranhas, as pessoas, as coisas. Num instante se foram os meses de flores e cerejas. A seguir, só dias de excessos.

Em Julho, foram propostos "jogos", multiplicando à vontade as interpretações da nossa bela língua Portuguesa.

Dia 3 - Xadrez

Ative- me pelo mais simples apesar de achar que "há pano para mangas" com este desafio! Como cá por casa sempre se jogou, muito ou pouco (e até a feijões!), aqui vai um aspecto dos jogos que se vão fazendo, por brincadeira, que se vai tornando séria à medida que as idades avançam.

Dia 10 – Damas 

Como disse na semana anterior, esta é uma foto caseira dos jogos variados com que vamos entretendo e ensinando, uma menina pequena. O tabuleiro foi-nos oferecido há muitas décadas, talvez fins dos anos 60?, e conservámo-lo religiosamente, é lindo! 

Dia 17 – Malha 

Malha urbana ou parcelamento do solo. Ver, ou o mar, as nuvens, a paisagem que passa diante dos nossos olhos. A sensação de estar fora do mundo e das “malhas que o império tece”.

E esta veio agarrada à ideia, a partir do "eixo" do candeeiro sobrevoado, da malha, da cidade

Dia 24 – Eixo

Vertical e do imaginário. Esta foto tirada de uma arcada, do muito novo, do novo e do antigo.

Dia 31 – Cabra-cega 

Tirei-lhe o hífen original e inventei, escolhendo duas fotografias com o mesmo: a cabra-mãe e a estátua-cega. Como se fosse um jogo de palavras.



Das minhas escolhas variadas, sobraram estas:




Este entretimento que tantas vezes me faz viajar no imaginário.

O passado é como uma muleta para um pensamento claudicante na mudez da época, uma perna que falha no dia a dia. Para não cair.