domingo, março 17, 2013

Era apenas...




Guerra Junqueiro e o seu livro mais que proibido:  "A Velhice do Padre Eterno"

Este, uma preciosidade... impensável falar dele a alguém!

Novamente "A Velhice..." e o humor truculento e satírico mas tantas vezes pleno de ternura, como no "O Melro"..



Era apenas... um livro, entre uma dúzia deles que havia lá em casa. “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes, edição de 1942, com desenhos de Álvaro Cunhal. As imagens da miséria naquelas crianças que eu nem sonhava existirem.
Abria com a dedicatória “Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi êste livro”.
Eu própria era uma criança (6/7/8 anos?) e esta frase perseguiu-me e marcou-me durante muito tempo. Até a entender duma forma tão abrangente que nunca a esqueço.

Estes são os velhinhos e amarelados que agora encontrei.
Todos os livros eram preciosos: primorosamente encapados em papel costaneira para os proteger e porque "não podiam ser vistos", nem pelos piedosos, nem pela Pide nem pelos bufos dela. Um deles tem escrito à mão numa caligrafia antiga e familiar: "Se és amigo, estima o livro".
Muitos dos que li, rodavam emprestados entre os conhecimentos de meu pai.

Aquilino, Régio, Namora, Ferreira de Castro, Eça, Junqueiro, Torga, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Joracy Camargo – tantos os nomes a não esquecer!
Adquiri a maior parte deles mais tarde.
Estão na estante, relidos e falados.
Sendo fotografias entre as fotografias, de quem sou.

6 comentários:

lino disse...

Nunca consegui perceber a razão da proibição da "Velhice", do "Crime do Padre Amaro" e de muitos outros que li na minha adolescência, num local onde não havia censura: o seminário de uma Ordem Religiosa.
Beijinho

jrd disse...

Mais um excelente poste.
Amanhã irão nascer mais homens filhos de homens que nunca foram meninos, porque, hoje, são rodas paradas de uma engrenagem caduca.

Abraço

Lizzie disse...

Numa época em que para além de haver desprezo pela cultura parece haver um certo orgulho na ignorãncia, fruto do deslumbre pela política versão tecnopolis, os livros são refúgios, testemunhos do que não pode, porque nunca chegou a ser, assassinado.

Porque todos são a consciência dos tempos e das línguas. Goste-se ou não deste ou daquele. Não interessa. São pos pilares da dúvida, da discussão. Os absolutamente certos nunca os leram nem lerão.

Proíbem-nos com medo da verdade dos espelhos. Dos pensamentos que alguém antes do leitor pensou ao escrever.Um pensamento fechado é sempre submisso, com furúnculos nas ideias. Por isso existem, ainda, escritores proíbidos, exilados.

Fizeste-me lembrar a Ana María Matute: uma infãncia em que as fotografias, os livros explicam na raíz o porquê dos frutos.

Um abraço

Lizzie disse...

e, já agora, estou a ler, numa edição inglesa by appointment of Her Magesty e juntos no mesmo livro, prosas (contos) de uma judia alemã e outra de uma militante nazi. 1938.

Talvez o espelho estivesse embaciado até agora, mas os reflexos parecem-me cada vez mais nítidos.

Se calhar os livros poêm Ajax limpa vidros nos olhos.

Manuel Veiga disse...

somos os livros que lemos ... e as pessoas que nos marcam...

Justine disse...

Os livros: as pedras das nossas bases ideológicas e culturais! E alguns são ainda indispensáveis...