quinta-feira, julho 02, 2020

Há uma Primavera

Esta frase-proposta do PPP fez-me encontrar muitas fotografias a propósito. Algumas que separei.
A minha escolha foi diferente, não era anúncio de estação, era sinal de uma florzinha que despontava, em 6 de Janeiro de 2017.

Pequenas e rasteiras, as violetas têm muito do que gosto: a cor, o perfume, a modéstia.
Pelo contrário: a menina é viva, azul e nacarada como uma pérola, com caracóis que me lembram outros há 40 e tal anos. Que tantos gestos me ficam de memória.
As outras sugestões que havia escolhido falam também de flores. O prazer que me dão os lugares.
De camélias que são, afinal, flores de Inverno, estas de Sanfins de Ferreira. Que descobri por acaso, num jardim particular onde as pessoas as cuidam e adoram






De flores de amendoeira que têm um Fevereiro desabrochar. Estas de um longínquo passeio a Trás-os-Montes.

E a recordação da "minha árvore" em frente, essa por onde sabia do tempo e das estações: bastava ir à janela. Escondia os carros, as ruínas, os passantes. Acenava. Servia de poiso às rolas, aos pardais, aos melros. Servia de carinho aos meus olhos.


Como se vão as coisas. Como se substituem pelo cimento, pela frieza, pela aparência ou o fingimento.
Tal gente.

Fujo para a delicadeza do branco e da paisagem-outra.



3 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Belo texto sobre o despontar da vida!
Apanhava violetas pelos campos, quando era miúda, e com elas tentava fazer um perfume, misturando um pouco de álcool.
E fiquei a sentir o seu cheiro!

Abraço

bea disse...

As violetas existiram sempre no nosso jardim enquanto foi nosso, era a flor preferida de minha mãe e rima tal qual com ela, discreta, perfume intenso, saliente e escondida entre a folhagem. Também gosto delas e há uma praga benévola espalhada por tudo que é sítio, nascem-me até nos intervalos das pedras.
A sua menina é de outra natureza:). Talvez nem haja flor que se lhe compare no seu coração. Os meus amores não têm flor que se lhes compare, são eles só.
Sempre gostei de caracóis, mas deu-me Deus um cabelo pesado, liso e revoltoso que no outono da vida apaziguou um quê, mudou de cor e conserva a marca.
Quanto a camélias, lindas sem dúvida, pena não terem cheiro. Também existem por aqui, folha simples e rosada (como quase todas as plantas que me rodeiam, foram oferta). São um encanto quando tudo é frio e gela, nesse tempo em que e os jardins são tristeza esverdeada, chorando pela cinza nua dos troncos.
Há flores muito bonitas; tenho saudade a lugares fora de hábito, ao espírito absorto na beleza, ao bem que é sermos nas coisas o que não somos e nem talvez possamos ser em nós.
Ontem vi no TV cine2 um documentário "Michelangelo infinito". Quase me deu essa dimensão. Pedra que fala e diz. Não existe arte tão próxima da verdade, gente tão fortemente dramática a entrar-nos pelos olhos cravando-se na carne, o espírito submerso, inundado de beleza angustiada. Recomendo.
Bom dia, bettips.

M. disse...

Muito belas a tua colecção de flores e as tuas palavras. Reconfortante paisagem esta onde repousamos.