sexta-feira, outubro 22, 2021

Outubro

Faz-se o mês, fez-se o mar e a praia. Volta-se para o conhecido/desconhecido. Porque, num repente, a cidade encheu-se e é penoso voltar ao barulho e à confusão. Num ano, ali atrás, apareceu um "centro de escritórios" todo elegante, modernaço, espelhado e às riscas, cortou os horizontes. Aqui à volta há 4 ou 5 gruas mais máquinas escavadoras. E um barulho insuportável, obras para hotéis e prédios de 7 andares: nas previsões da net são demasiado altos e feíssimos. Ah... no computador vêem-se duas ou três árvores to be. Prevê-se um "corte inglês" ali adiante e as obras do metro com novas ligações começaram há meses. 

Um lugar que é uma entrada de cidade e, por si só, já está superlotado de carros, espaços verdes raquíticos. Surgem-me e tropeço nas memórias dum tempo outro.

De Lisboa

Da Serra do Pilar
Da Lagoa de Óbidos
Do Douro, rio Pinhão
Da aldeia do meu avô, da casa onde se esteve há mais de 50 anos e dos figos ao sol

Apetece-me (vagamente) um furacão de vida: a sonhadora Dorothy, uma estrada de tijolos amarelos, um campo de papoilas, amigos como o Leão Medroso, o Lenhador de Lata, o Espantalho Errante. E chegar ao fim percebendo que todas as ameaças da bruxa má e do feiticeiro eram falsas: a má foi vencida pela fada boa e o homenzinho que reinava em Oz afinal estava atrás de um biombo, não sendo NADA do que ameaçava.

O leão perdeu o medo, o espantalho ganhou um cérebro e o lenhador já não se enferruja e pode andar pela floresta... Dorothy, naturalmente, voltou a casa.

 

5 comentários:

bea disse...

Nas histórias os intervenientes terminam satisfeitos, o fim apresenta-se em alegria eterna. Não consegui convencer certo garoto de que existem heróis que também morrem; se lho afirmava, respondia, o herói nunca morre. E depois tornava esperançoso, como se disso lhe dependesse a vida, não morrem pois não. E entendi - finalmente - que não podia roubar-lhe o sonho, logo a ele a quem a realidade muito devia. Portanto, deixei-me de bravatas, arvorei um ar sábio e retorqui, tens razão, os heróis nunca morrem, eu estava a brincar quando disse que podem morrer. Ele mais descansado, ah, assim tá bem, conte lá o resto da história.

Rosa dos Ventos disse...

Que texto bonito, entre o lamento da confusão urbana, a magia da infância e a utopia da maturidade!

Abraço

M. disse...

Outubro é no entanto um mês bonito, um mês de silêncios, de substituições, de pensamento. Gosto deste mês, nos seus tons, na sua melancolia, na dele e na nossa, na continuação de vida que propõe. Nas adaptações aos espaços, aos inesperados dos dias.

Anónimo disse...

M.: este discorrer meu é sobre outras coisas, de regressos e a confusão deles. Gosto de Outubro e os seus tons de desmaio da Natureza, dos frutos. Recordo a imagem, de manhã cedo e a pé íamos sempre da Batalha (não tenho fotografia...), dos plátanos da Rua do Heroísmo que douravam o caminho: dia 7, regresso às aulas no liceu Rainha Santa. O Nascente ficava ao fim da rua e aquele fulgor, em direcção ao Sol, está no meu coração.
"Quand vient la fin de l´été, sur la plage..."
B

M. disse...

Pelos vistos o meu comentário foi ao lado... E eu que pensava estar a comentar, ao meu modo, algo que não conheço em particular mas a que desconfiei podia aplicar o meu pensamento.