Em outro lugar, recordei a visita à pequena aldeia onde viveu o Poeta "menino" Eugénio de Andrade. Aqui inscrevo mais um dos poemas dele, de tantos-tantos que são como cantatas do pensamento. A fragilidade melodiosa. Bach.
As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
Um incêndio.
Outras,
Orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
- Do livro Antologia Breve, de Eugénio de Andrade, Moraes Editores, Lisboa/1980
Na sua terra, Póvoa da Atalaia
Na sua morada na Foz, as suas palmeiras, o mar que os via
A sua Fundação foi extinta por um presidente da câmara do Porto, de má memória, em 2011. Li que há um acordo recente para a (re)activar. Esta cidade dos "Travels", não mereceu o espólio maravilhoso que este homem nos deixou, aos sentimentos, ao país, à língua. Contemporâneo e amigo de tantos literatos e artistas - no que ele dizia "essa debilidade do coração que é a amizade" - a sua maneira de ser, a sua forma de estar, foram incómodas para quem não vê mais que "o argueiro no olho do vizinho". Um imenso coração discreto.
Pensei nele, ao pensar nas palavras.
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4 comentários:
Tantas vezes que li e analisei este poema com os meus alunos!
Abraço
Que bonita homenagem lhe fazes.
"Um imenso coração discreto". E diz tudo do homem. Que do poeta sabe quem o lê e o gosta. E esse permanece nas palavras que usou e no como de as usar. É ponte aberta e comum. Incólume. Viva. Presente.
Boa tarde, bettips
Passei por aqui à tua procura e fiquei feliz por te encontrar. Não sei o que me aconteceu que perdi as palavras de tantos amigos com o abandono dos blogues. Eu também parei mas sempre a espera de um dia recomeçar. Envelheci mas continuo uma mulher de espantos sentidos, no mesmo sítio que é a minha paixão. Um beijinho grande querida amiga
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