sexta-feira, agosto 02, 2024

A Palavra

Resposta de José Saramago a uma entrevista que lhe fizeram em Junho de 1985:

"A mais extraordinária das criações do homem é a palavra. A tal ponto que, criatura do homem, é, por sua vez, criadora da humanidade. Não me atrevo a jurar que a palavra tenha existência autónoma, mas observando-a como um ser com vida própria, que se move, e que produz. Produz, o quê? Precisamente, tudo. "

Este texto foi retirado de uma citação da Fundação. Atrevo-me a repeti-lo pela concordância que senti com o que (me) traduz; com a distância do tempo (1985, já lá vão quase 40 anos!) sinto-me sempre fascinada com "a palavra", embora tivesse encontrado muitas outras coisas extraordinárias, na vida e nos sentimentos, nas pessoas. De sinal positivo e de sinal negativo. Aqui há tempos escrevi num papelito umas palavras que me vieram à cabeça e que me apetece transcrever. Elas representam momentos que tive, ou senti, e cujo significado e referências, são bem claros para mim. Quando as olho têm figura de sentimentos; ou de gente.

- ingénua (foi o primeiro atributo que me deram aos 15??? anos)

- desadequada

- harmonia/reciprocidade/acordo/simpatia

- sintonia

- inércia/fraqueza/marasmo/apatia/rotina 

- presciência

- vida flauteada

- nababo

- trampolineiro

- entre a perfídia e a ingenuidade

- indulgente

- empedernido

- paulatinamente

- consideração

- petulante

Que não me falte a fotografia das letras à sorte, as que formam palavras.





As imensas formas das flores de pensar nelas, nas palavras. A escrita da Terra.


3 comentários:

bea disse...

Existimos humanamente pela palavra, creio. Nomear é, de alguma forma, fazer existir. Não é a coisa, mas lembra-nos dela e tenta dizê-la. Contudo, julgo que a palavra não diz completamente e que seja essa tentativa sempre presente e renovada, que nos faz dizer e escrever. Talvez a incompletude seja o seu milagre.

M. disse...

Já tenho vindo aqui de vez em quando. Leio-te e depois retiro-me a pensar. Duas da lista conheço-as de serem ditas pela família na minha infância: trampolineiro, paulatinamente. Deixei de as ouvir, mas é mesmo assim, algumas entram em desuso, perdem-se. Também gosto muito de palavras, mas acho que por vezes são perigosas porque correm o risco de perderem o sentido inicial com que são lançadas. Dependerá de quem as usa e diz ou de quem as ouve? Provavelmente dos diversos "quem" e das suas intenções, ou distracções. E pergunto-me: como pode uma coisa que à partida é muito bela, tornar-se num monstro de fealdade e desumanidade? Felizmente existe o silêncio que dentro de cada um se aninha e se pensa para melhor compreender. É precioso e tantas vezes generoso.

bettips disse...

M.: depende do mal, a intenção, das pessoas que as dizem e de quem as ouve. Nem sempre o silêncio dentro de nós as explica: mas pode apaziguar e arredondar o que era agudo. Inexplicável como as rosas antigas de que me lembro, numa esquina de casa velha, num "pomar". Belas, sempre. As palavras.