Passou Janeiro por um lameiro, passa quase Fevereiro por um aguaceiro. Assim me perdi nas semanas. Apesar de "comparecer" no PPP, sempre. A agenda de Janeiro dava muito por onde escolher! O desafio era este:
Façamos uma longa viagem ou fiquemos num local ou em casa durante largos dias, tudo acaba por se desvanecer excepto os pequenos detalhes que ficam na memória para sempre. Assim recordemo-los:
Dia 2 – numa viagem
Dia 9 – num objecto com história
Dia 16 – numa festa familiar
Dia 23 – num acontecimento desagradável
Dia 30 – naquilo de que nunca nos separaremos
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Dia 2 – numa viagem
Viagens, um tema que aprecio muito e onde mergulho sem pé e sem saber nadar! Para estes desafios, preciso de uma bóia ou um colete de salvação. Ou seja, neste caso, ainda por cima a começar um novo ano que traz sempre interrogações, agarrei-me a duas cordas velhas – duas certezas:
- Londres, no ano de 1971, no primeiro passeio que fizemos pelo Tamisa. Repare-se na ponte castanha e na má qualidade da imagem mas eu sei, e certamente quem já lá foi ou viu imagens, sabe, que a Tower Bridge foi pintada de azul, com apontamentos de vermelho e branco, e tem um aspecto completamente diferente. Tratou-se de uma comemoração, em 1977, pintada então com as cores da bandeira inglesa, para o Jubileu de Prata da Rainha Isabel II
- Alentejo: uma foto tirada do carro, em andamento, um lance do olhar, numa das belas travessias pelo Alentejo
Nota: pelos tons quentes das duas, faço “a ponte”.
Dia 9 – num objecto com história
Esta máquina Kodak tem muitas décadas. Comprada em plena Guerra Colonial, na Guiné, Cambaju, fronteira com o Senegal, em 1965. Foi a primeira máquina que se teve e que registou alguns aspectos desse período negro que se alongou até ao 25 de Abril 1974. Com ela nos divertimos depois, com as fotografias a preto e branco, do nosso tempo variado: bem haja! Tem honras de vitrine cá em casa, e até é bonita, com os seus cromados e estojo em pele. O pano bordado atrás, no lugar onde a pousei para tirar a fotografia, também tem “muitos anos”.
Dia 16 – numa festa familiar
Uma festa de família, alusiva ao Natal passado. De muita gente, família e associados. A companhia amistosa, a alegria das crianças, o lugar, as vitualhas doces e salgadas, fizeram dessa celebração um dia inesquecível. A fotografia tirada da varanda da casa, mostra o horizonte de Sintra, ao longe e no alto recorta-se o quadrado do Santuário da Peninha. Lugar mágico que há anos visitei e que me ficou na ideia, para sempre.
Dia 23 – num acontecimento desagradável
Definitivamente, há demasiados acontecimentos de más recordações que não podemos, nem conseguimos, fotografar. Escolhi o passível de ser mostrado, e para mim bem desagradável, que me chocou muito. A árvore, um ácer pujante, existia alegremente no canto do prédio, e conhecida desde 1974. Vi da janela o aparato abaixo, desci para falar com os “homens da Câmara”, escrevi para a dita, a reclamar, a perguntar, a protestar. O prédio de gaveto tem 5 andares e vários habitantes que tentei contactar. Zero, de interesse, de explicação, de justificação. Mas é claro que o progresso dá para tudo, bom e mau. E dá-se o caso de ligarmos para qualquer serviço e termos de aturar com vozes de outro mundo, até encontrarmos (se) um ser humano a responder.
Dia 30 – naquilo de que nunca nos separaremos
Quem me conhece, sabe que sou viciada em fotografias. Por isso, a primeira coisa em que penso é “naquilo” que está em dezenas de álbuns e, depois do digital, em dezenas de compartimentos do computador. Contudo, há um pequeno quadro da minha autoria – que certamente já andou por aqui em tempos – de que penso nunca me separar: “O Beijo”, de Klimt. Pintei-o eu, copiei-o traço a traço, ponto a ponto, as cores e os brilhos, com uma paciência que já não tenho... Para meu regalo existe.
2 comentários:
E para meu regalo te visitei!
Belas memórias!
Só no final de janeiro é que saí da "clausura", agora estou em Lisboa, em casa do filho.
Veremos quando voltarei ao meu lar.
Abraço
Gostei especialmente da biografia retratada do meu Alentejo. Esse mesmo; pode vir de qualquer lugar que muitos conheço semelhantes ao retrato.
E de "O beijo" de Klimt, por gostar do quadro e me lembrar a escolha que dele fizemos para um folheto antigo.
A máquina fotográfica é uma relíquia mesmo. E bonita, sim. Não tenho relíquias que me acompanhem a vida. A minha relíquia sou eu e a memória que me acompanha e é minha ainda. Os meus bens perecíveis era tão perecíveis que desistiram do ser:).
Bom dia, bettips
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