Neste país pequeno, não era tão longe como isso, o Algarve. Todavia, além da pobreza indigente das pessoas distantes do poder, quer da realeza quer da república, as comunicações e os usos eram mantidos em áreas delimitadas e quase impermeáveis. Foi isso que lembrei ao fazer a comparação com os tempos de agora e olhando duas representações do passado, no Museu de Olhão.
Segundo o que li: sapatos de ourelo que foram usados até meados do século passado, feitos de tiras de tecido em várias cores, pelica, cabedal e pele de coelho. Tanto para as crianças como para os adultos. Em Olhão, cerca de 70 mulheres dedicavam-se a essa manufactura, presumo que caseira.
Outra peça de vestuário inesperada que as mulheres aqui usavam, era o Bioco, capa ou capote de tecido pesado, preto, que cobria quase completamente a cabeça e o rosto, mais o corpo todo até aos pés. Li informações interessantes sobre o seu uso e, mais tarde, sobre a sua proibição.
Penso em como ainda em tantas zonas do nosso mundo essa indumentária restritiva é obrigatória. Que sabemos nós dos critérios de usos e costumes das civilizações e doutrinas religiosas? O que é proibido, o que é aceite, o que é imposto?
Olhamos a superfície flutuante dos tempos e sempre queremos respostas. Que não existem.
Já de partida de um tempo mais solto que aqui passei, rendo-me às idiossincrasias da vida, a minha e a dos outros.
A mim persiste-me a ideia que muito se aprende olhando o passado: que fosse, pelo menos, uma lembrança, um aviso, para um futuro melhor. Melhor nas diferenças, melhor nas indiferenças.
3 comentários:
Não conhecia os sapatos, mas conhecia o bioco de fotografias.
Deve ser desta palavra que derivou a palavra embiocado/a que significa limitado/a, sem horizontes, sem perspectivas.
Por aqui existia uma espécie de saia que as mulheres usavam pela cabeça para se protegerem do frio.
"Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso."
Abraço
Interessante deve ser esse museu. O bioco trouxe-me ao pensamento a imagem de uma espécie de capote negro que encontrei nos Açores como indumentária antiga.
O bioco fez-me lembrar a criada de O primo Basílio, sempre a supus assim, velha, malvada e embiocada em negrume. Ou talvez Eça assim a descreva, já me não lembro.
Não sei bem se todos queremos respostas; talvez queiramos algumas respostas. Temos de viver no mar das perguntas, com algumas certezas, incertas que sejam. Importa perguntar e o que perguntamos. É sempre a eterna procura.
Que ilusão, bettips! Aprendemos com o passado?! Basta olhar o caminho que leva o mundo.
Um abraço e boa semana
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