A proposta de L., a pretexto de Miguel Torga e os seus "Bichos", foi baseada na relação que existe, entre nós e eles. Inevitavelmente, todos nos inspiramos em imagens e palavras que nos ligam a animais, ou de companhia ou no gosto deles. Das infâncias e das viagens percorridas.
O cão, ou os cães, que escolhi têm todos histórias de palavras. Este primeiro foi uma fotografia de há muitos anos, diga-se que foi tirada ao pastor no alto da serra de Monchique, num fim de tarde. Mas da conversa, o cão pareceu perceber do afecto e atenção que lhes dispensámos.
Os outros, são cães avulso, ou pastores com eles, por esses montes e vales adianteAlentejo e Douro
E com a minha mania antiga da Mitologia, encontrei nos milhares de fotografias "O Rapto de Proserpina" com Cérbero, o cão das três cabeças. Estátua de Bernini, séc. XVII, na Galeria Borghese, em Roma. Apesar do mito e do aspecto feroz, o escultor deu ao mármore uma leveza que nos convida a aproximar e apreciar os tons e os gestos.
De seguida "o galo":
Este foi o meu escolhido, no meio do Alentejo, sabendo sempre onde Norte/Sul/Este/Oeste
Memória de praia
Memória de Serpa
Este lugar é mesmo um lugar "livre" para os animais de capoeira! Além da decoração, galos e galinhas andam à solta pelo terreno. Nunca são "comidos", apenas aproveitam os ovos. Gente diferente!
Por mais que goste de animais, não posso deixar de referir o sabor de uma refeição no Douro profundo: uma viagem de temporal medonho, pela estrada 222 - uma das mais belas estradas de Portugal entre Pinhão e Régua - para o jantar de galo assado, no "Maleiro", de antigas tradições.
Vêm seguindo os gatos, com o seu ar sabedor, os seus passinhos de veludo, os seus lugares de silêncio, as suas posições de bichos com personalidade. Lembro um dito que acho muito a propósito:
"A dog accepts you as the boss, a cat wants to see your resume"
O meu escolhido foi "o gato que limpava janelas" ou, poeticamente lembrando Vermeer "O gato que gostava de pérolas"
Lembrei-me que teria de pôr aqui a Kitty, a nossa gata selvagem, que nos fez companhia mais de 16 anos. Quando veio era tão pequena que cabia num sapato! Tenho um álbum dela, nosso, nas festas ou simplesmente aqui em casa, ou com as visitas em alvoroço de quem ela fugia. Às vezes, pareço-me um pouco com ela que não apreciava confusões nem de coisas fora do sítio habitual...
Sobre "a ovelha", sobre os rebanhos que se iam encontrando, recordações dos lugares, é o que é!
Gracioso, o cordeirinho na ginástica
E passo ao "pardal", pardais num fim de dia, virado aos campos e olivais do Alentejo
Neste caso o escolhido pardal que não o é: é um pisco de peito ruivo. Há-os por cá mas este é de uma foto dos Kew Gardens porque se me proporcionou, fui-o seguindo do chão ao ramo.
Com esta imagem e passeio inesquecíveis, já não procuro mais "bichos".
Nem quero encontrar a "Jóia", a cadela da minha amiga antiga: fazia-me companhia, da casa dela até à minha, uns 2km. É claro que no caminho entre pinhais conversava com ela. À chegada a nossa casa, a minha avó querida dava-lhe qualquer coisa, uma rodela de chouriço ou o que houvesse disponível. E lá voltava a Jóia, percorrendo o mesmo caminho de volta.
5 comentários:
Com estas fotos também passeei pelos seus trilhos, bettips. E vi os mesmos animais. Que entre eles e eu nada ocorreu. Tudo sucedeu na imagem:). E foi um agradável suceder. São uns queridos, os bichos.
Bom Natal, bettips.
Que bela amostragem de bichos, não faltando Ladino, o pardal!
Abraço natalício
Também me levaste a caminhar contigo. Quanta sensibilidade! Que beleza de Olhar! Quanta pureza natural. Somente para quem tem ouvidos para ouvir, olhos para ver através da ótica do coração. Fantástico. Que viagem! Até a brisa senti.
Um(a)anónimo que me define, na sensibilidade que sinto nas viagens.
Obrigada
B
Passeio apetecível...
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