quarta-feira, junho 22, 2022

O contraponto

Irreversível. De chegada, as velhas notícias do burgo. Milhares de casas, muitas vazias - outras para alojamentos temporários. Mais hotéis, mais estrelas. O turismo é o que está a dar. Dizia o outro, "sinistral" figura, que estávamos calhados/talhados para  turismos e serviços, deve ser por isso que se encontra cheio de razão e vai debitando livros e comentários.

Cortaram árvores e esvaziaram casas, adquiriram prédios inteiros e não se vê viva alma. Eu conheço, décadas de visões e passagens a pé. Aqui à volta não me chegariam os dedos para contar. É claro que há o parque, o metro, o coiso e o loiso. E vai haver o S. João.

Este um prédio que é de "escritórios", construído em menos de um ano? É como uma prisão por fora, é todo lindo e "funcional" por dentro. Fica num lugar acanhado e complexo em termos de escoamento de trânsito. Eram os terrenos da STCP, autocarros: como foi vendido, adquirido? A história nos jornais é longa e trapalhona, desde o ano 2000. Tem nome inglês, é claro. A foto é de Janeiro, com o horizonte, que foi alto e amplo, agora às riscas.

Em menos de 300 metros de ruas, há mais um hotel, um prédio de apartamentos e galeria comercial, outro de mais casas, tudo a vender de raiz. Andares e andares onde existiam simplesmente casas de 1º andar.

Felizmente, as flores roxas resistiram e saudaram-me à chegada. 

Como os hamsters, reduzo (mais) as minhas voltas...Vale-me a propriedade intelectual, que essa é longa, de muitos e variados interesses. Uma sessão que irá acontecer algures e de que vi notícia: "Ética e Estética", duas palavras imensas que, de repente, acho me definem.


 

4 comentários:

bea disse...

Ainda que a paisagem mude sem melhoras visíveis e as ruas vão ficando desertas e silenciosas ou apenas cortadas pelo som dos trolleis a rodar na calçada, regressar a casa é bastante agradável. As viagens existem melhor e são mas nítidas quando temos onde regressar e esse lugar nos acolhe. Que ele exista é uma benção. É terrível sentirmo-nos sem lugar de pertença, espero que ninguém more nesse inóspito durante muito tempo.
Tenho assim uma violeta na janela, pequena maravilha que floresce há uns bons dois meses. As corolas começam agora a envelhecer e flor tão antiga não tenho aqui por casa.
Suponho que a ética seja também uma estética do comportamento (ou a exija), não averiguei se o inverso também é verdade. Acho-as duas palavras grandes demais. Mas se lhe servem....sirva-se, bettips, são boas palavras.

Justine disse...

O teu texto é um grito de indignação, que eu subscrevo totalmente!

M. disse...

O frenesim e a sofreguidão tomam proporções irracionais e levam a erros irreversíveis, desumanos, imorais, inestéticos, o oposto que se deseja para a convivência sã na sociedade.

Mónica disse...

Se eu fosse sensata como a M. diria o que ela disse. "É o que está a dar" também digo eu, irritada.