"Eu sei eu sei conheço vivi - era cidade como se o não fosse, um nico de
espaço para viver. Era miséria envergonhada. Era, por si só, uma
vergonha - falava-se na social-democracia onde não era preciso atestado
de pobre para ir ao hospital... um sonho nórdico.
Ricos? Não os
víamos, viviam num tal círculo fechado de poder e dinheiro, uns vagos
homens de sobretudo e óculos. Nem sabíamos onde viviam porque nem sequer
saíamos a 10 km de casa... A Flama e o Século Ilustrado só davam
"decências" visíveis.
Enfim, para mim será sempre a "caixa", a
reforma 3 (4, digo eu em 2022...) vezes menor do que o último salário, o medo do senhorio, da
edp, dos imprevistos, do "sistema ir abaixo" e não constar o meu nome
nos computadores e balcões por aí espalhados... Uma democracia palavrosa
e enredada como um bicho de 7 cabeças e mil pés. Um peso que o 25 de
Abril me tinha tirado de cima.
NUNCA MAIS, nem fascismo nem mentes
fascizantes ou neo-liberais. Se a memória não fosse curta, lembrariam
esse senhor dos anos 80 num ver-se-te-avias com os amigos e os fundos
europeus. Não enganaria ninguém.
Sexagenária reformada à força
26 Novembro 2011"
Passados 11 anos, mudou o regime, mudaram os sistemas, as eleições, os elencados... Ontem via eu falar de alguns ex-ministros a mudarem de job, com a cobertura e conhecimento privilegiado daquilo a que tiveram acesso, nomeadamente em resoluções governamentais, agora em serviço particular, advogados, comissões, centros de pequenos mas importantes poderes.
Isto é o presente, porque no "ausente" - de que ninguém já lembra a cor ou se dá a esse trabalho enumerado - serão muitos. Também me vem à cabeça um certo senhorito que antes de sair do gabinete ministerial, levou consigo milhares de fotocópias de documentos. Nunca se soube porquê ou para quê. E um outro, durante anos comentador afável e intelectual de um canal privado, que agora possui todos os canais, na tv e na vida pública. Uma verve inextinguível, ou melhor, insaciável.
Há mistérios e coincidências mesmo misteriosos.
Como muitos dos fogos, da falta de cadastro de casas e terrenos, e o ordenamento do território. Como a escolha do lugar de um novo aeroporto. A minha "indignação" para o PPP desta semana:
Este é o Jardim do Campo Grande, felizmente reabilitado.Este é um parque infantil lá no meio.
Este é um das dezenas de aviões que, nas poucas horas da manhã em que lá estive, poluíram o ar, passaram sobre as crianças, sobre as casas, sobre as árvores, sobrepondo-se à fruição do sossego, à alegria e à natureza.
Este é um dos anos –já lá vão mais de 50!!! – em que se discute “Vossa Excelência, acha?” nas dezenas de comissões e associações que se têm debruçado sobre este assunto.
***
A vida continua. A vida é contínua. "Sem os ministros o trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima", como diz Bertolt Brecht, nos seus "Poemas"
Até no instante da vida breve de uma bola de sabão.
2 comentários:
Vivemos num mundo cheio de mistérios e de perigos!
Abraço
Serão memórias antigas, bettips, mas julgo que os ricos, ainda hoje, não se misturam. Ou misturam-se falsamente, são, em relação ao resto do pessoal, como azeite e vinagre. Quando minha mãe enviava almoço a meu pai, punha-os na mesma garrafa e era tudo que deles conseguia. Assim os ricos e os outros. É separação inata.
Não apetece manifestar acerca do estado da nação, cujo foge sistemático ao meu desejo e por vezes contribui para certo desequilíbrio. Mas é o que temos e há que viver com. O que fizemos para o mudar, está feito. Oxalá dê fruto. Digo eu.
Das pinturas, lhe digo que esse quadro com árvores sempre me lembra os sobreiros alentejanos, padecer que talvez lhe venha da condição.
Mas é como escreve e mostra, bettips, a beleza está em nós, só precisa do motivo para desabrochar. Pode ser um motivo simples. Mas há no mundo belezas que elevam a alma, é grande pena que não sejam contempladas como merecem. E muito se diria sobre o potencial contemplador.
Boas férias bettips.
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