sexta-feira, março 22, 2024

Março/marçagão

... manhã de Inverno, tarde de Verão.

Há ideias que é difícil pôr em palavras... e palavras onde nem sequer há ideias! Não é o caso deste grupo PPP, inventivo e esmerado, simpático e, diria como se usa agora, "aconchegante". Alto lá que a proposta para este mês era complicada, cada um se desunhou como pôde e claro que foi um prazer ver/ler as diversas opções para "palavras/imagens" tão cruzadas. Aqui as minhas participações:

Dia 7 - Palavra de ordem 

"Mudam-se os tempos/mudam-se as vontades" como diria Luís de Camões.

O que era não volta a ser o que foi. Esta foto é no Porto, uma manifestação antiga a favor da Paz. Ou seja, o pretexto pode ser o mesmo, que a ausência de guerra ou das guerras, é sempre um desejo que se manifesta, no íntimo e em grupos. Hoje, ontem e sempre.

Entretanto, a amiga M. fez de uma fotografia banal uma obra de arte! Como se... a lente do tempo a tivesse desfocado.

Dia 14 - Pegar na palavra 

Peguei na palavra "nuvem" e ela desfez-se rapidamente, como acontece com todas as nuvens e com tantas palavras. Ficaram apenas as pedras, o rio ao longe, os verdes mais verdes de sol e... um labirinto.

Dia 21 - Tirar as palavras da boca

Mulheres na Póvoa da Atalaia: ao ler o poema e depois de ter passado por elas no caminho, só mesmo Eugénio de Andrade me "tirou as palavras da boca", ao descrevê-las assim, nas suas palavras profundas e gentis.





Aí é lembrado o Poeta com uma estátua, poemas escritos nas pedras, entre oliveiras.


Quando passámos na aldeia onde nasceu EA, senti uma comoção profunda: tão longe, tão pobre, a casa, a aldeia, as "mulheres de preto" tal as descreve. As nossas velhas, vergadas ao cair dos anos, debruçadas para a terra e para as azáfamas de casa. As viúvas eternas, de maridos, de filhos, de mocidade.

Dia 28 - Passar a palavra

Lendo o aviso na janela, não fora alguém estar interessado!

***

Tinha-me aparecido uma outra fotografia diversa: quando o mar está muito bravo e perigoso na Foz, põem barreiras, avisos e proibições, nas ruas de acesso aos molhes e aos faróis. Mas julgo que vária da gente que lá vai se interessa pela palavra... Muitas vezes se vêem pescadores ou pessoas simplesmente a tentar passar, passear e a tirar fotografias. "Espectacular", dizem eles e digo eu: da estupidez humana.

Esta aqui foi de longe, da rua e do passeio alto da praia e, reparo agora, foi tirada em 2013! Procurando, há-de haver outras com gente no caminho do farol.



De quando os avisos, a palavra ou os sinais, não são suficientemente levados a sério. Penso: ainda há dias aconteceu.


 

2 comentários:

bea disse...

Quanto à foto desfocada da sua amiga, aprendi a técnica sobretudo no retrato, uma meia de mulher, bem esticada, na lente. Há qualquer coisa de sonho naqueles rostos atravessados de suave neblina adoçante dos traços. São elas e não são elas (as pessoas).
A nuvenzita é pequena maravilha. Desfaz e perde-se no azul, mas também dá lugar a outras, consoante o rumo das estações. Hoje não há azul onde se acolha a brevidade de uma nuvem.
De Eugénio de Andrade sei mais sentir que falar. Mas julgo que somos todas um tanto ensimesmadas e da Póvoa da Atalaia; existe-nos essa mulher enlutada até à alma, debruçada sobre a terra e a casa, viúva mais por feitio que condição.
Os poetas são seres singulares e os melhores a expressar o universal.
Boa tarde:)

Rosa dos Ventos disse...

Belas fotos.
Agora estamos numa de "Abril águas mil "

Abraço