quinta-feira, agosto 10, 2006

Este escrito não é

Esta pessoa não existe não há.
Hoje quer ser macaco “não ver não ouvir não falar”
Servem terror ao pequeno almoço
Incêndios ao almoço
Mortos e ruínas ao jantar
Por menos que veja televisão por menos que leia jornal por menos que ouça rádio aprecio a informação do que me é fundamental
Tenho uma posição desde que me conheço pelos mais fracos e mais feridos pela vida ou circunstâncias povos homens bichos rios arvores países campos
Hoje a pena é tão grande grande que não sei geografia nem tenho espaços pontos interrogações ou exclamações ou sequer boas recordações de viagens ou amigos
Procurei uma fotografia e todas tinham esperança e vida: queria uma que fosse retrato do nada uma que vi em filmes, talvez do Wim Wenders um deserto pedregoso e infinito onde rolam novelos de ramos secos empurrados por ventos de pó
Ou o quadro do “Grito”
Ou a aguarela de “Naufrágio”
Ou as “Portas do Inferno”
Não há terapia só tempo passando

16 comentários:

MaD disse...

Olá, Bettips
Mesmo a vida sendo assim tão negra como tão bem descrita aqui está - e é - que tal, por vezes, para a suportarmos, usar uns óculos imaginários com lentes ligeiramente coloridas e ver também o que não há, mas que gostaríamos que houvesse?...
Um abraço do tamanho do Algarve até ao Porto.

Citadino Kane disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Citadino Kane disse...

Bettips,
Primeiramente muito obrigado pelas informações sobre Pedrógão, uma gentileza típica dos lusitanos.
Com relação ao texto, em certos momentos me sufoca muito essa dinâmica na qual estamos diuturnamente mergulhado, e aí as tuas palavras traduzem essa angústia que trazemos no peito...
Um abraço fraterno de além-mar,
Pedro

Teresa Durães disse...

(ou estou também deprimida ou não vi nada descrito como sendo uma alma deprimida. Estarei errada?)

Não vejo televisão, não leio jornais pelos mesmos motivos. E não deixo os meus filhos verem. Não acredito na venda barata de emoções para obtenção de sharings.

Tento manter-me actualizada.
Também não vejo grandes rostos de esperança na cara dos amigos. Em muita gente vejo, sim, ganância. Procura de tentar ultrapassar o próximo com um esquema mais ou menos elaborado.

Vejo também pessoas que deixaram de acreditar nelas próprias. Sim, vejo muito isso. Procuram no além o que não obtêm em si. Não acredito nisso.

Vejo muita hipocrisia.

Acredito no poder da palavra~e do gesto. Em uníssono.

E todos temos direito à nossa tristeza. Não sei porque se nega tanto a tristeza.

O sofrimento não é somente o exterior.

Vejo solidão. Muita. Isto é o que vejo mais. A solidão não resolvida. Da que doi.

E não sei porque há tanta vergonha em falar nela.

Vejo gente que fala no amor ao próximo e vira costas ao vizinho. E se uns querem lutar pela vida, outros poderão não querer.

Não percebo qual é a vergonha disso também. Nem tudo o que o cristianismo apregoa tem de ser a Verdade.

Estendi-me.

Um beijo

Teresa Durães disse...

Boa tarde por aqui :)

mim disse...

gosto dos teus textos...e assim me sinto...como tu: numa tristeza que nada consola porque os humanos não mudam e porque a natureza é perfeita e nós chegamos para a estragar!

Teresa Durães disse...

Esqueci-me de dizer no outro dia por causa das Aves terem ou não insónias.

Na chaminé da minha casa vive um casal de corujas brancas. Do sotão vê-se a chaminé. Às vezes, quando espreitamos pela janela da chaminé uma delas olha.nos de lado. Já se habituaram à nossa presença.

É engraçado vê-las a levantarem voo (e em voo picado atrás de um coelho). E o seu cumprimento lá da chaminé.

O que pensarão dos cozinhados já não sei!

Teresa Durães disse...

"Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande,
De mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida
presente."

Carlos Drummond de Andrade
boa tarde !

bettips disse...

Trocamos palavras, às vezes poesias. Se fossemos vizinhas trocaríamos, "se calhar", sopas. Também uma certa forma de dizer ponto final, é assim, partilharíamos. Parece-me.
"Se tocava não podia falar
se amava não podia partir
se falava não podia ouvir
se lutava nã podia vencer"
- "O deus das pequenas coisas" -

Teresa Durães disse...

(sopas não trocava de certo..)

Podíamos trocar livros! Boa noite!

Licínia Quitério disse...

Vim até aqui e vi muito desalento. Posso ajudar? Se precisares de uma palavra bonita diz que eu dou-ta, embrulhada em esperança verde-mar.
Beijinho.
Licínia

A. Pinto Correia disse...

Sobretudo os canis televisivos teimam em mostrar apenas o lado negro do Homem. Lamentável sem dúvida.

Era uma vez um Girassol disse...

Descreveste muito bem toda a tristeza e dor que vai pelo mundo.
Custa acreditar como este mundo com tanta beleza, pode assistir a dramas terríveis, carnificinas , destruição dessa mesma beleza...
Tudo pela loucura e ambição dos homens...ou ratos?
Beijinho

Teresa Durães disse...

Há dias em que a criação existe nas células, noutro o seu lamento.

Hoje as nuvens encobrem a paisagem mas por certo serão passageiras.

Bom feriado para ti.

teresa g. disse...

Amanhã é um novo dia. E cada dia que nasce traz todas as possibilidades. Há uma cantiga da minha infâcia que nunca esqueci que dizia 'É preciso acreditar...'

Já cá tinha vindo várias vezes, quando tentei comentar o blogger não deixou (acho que às vezes embirra comigo!)

Beijinho

vida de vidro disse...

Eu leio jornais, vejo televisão e sofro danadamente com o estado deste mundo. E também desespero. Mas tento perguntar-me todos os dias o que é que cada um de nós pode fazer. Não tenho muitas respostas. **